sexta-feira, novembro 25, 2005
quinta-feira, agosto 25, 2005
Muito embora eu esteja com algumas idéias, estou me ocupando, nesse momento, com três coisas: (1) pesquisa bibliográfica para minha pesquisa sobre a arte como celebração da transgressão, (2) articulação para o lançamento da Esfera Publica em formato mais profissional que um simples e mero blog em periodicidade semanal e (3) resolver a doença que se implantou nos últimos tempos em mim que até agora tem sintomas identificados como estruturalismo existencialista sartriano não marxista, o que parece completamente alunicinado e não tem tratamento conhecido.
terça-feira, agosto 23, 2005
Eu não me considero burro, uma parte das pessoas que me conhecem, aliás, julgam-me arrogante, já falei sobre isso neste blog em algum momento do passado, talvez n'O Anjo e a Di, mas o Google pode resolver essa dúvida fácil, fácil se alguém quiser descobrir. Eu sou mais inteligente que a média, na verdade, eu estou fora do quadrante da normalidade em inúmeros aspectos do meu ser, é um milagre eu estar até razoavelmente adaptado à sociedade, quer dizer, eu estou num movimento de tendência à não-adaptação se ampliando consideravelmente, é sorte (numa perspectiva integrativa) eu ter um farolzinho de um metro ao qual recorro semanalmente. A questão que preciso registrar é que encontrei uma obra que não consigo dar conta em primeira leitura: Lógica do Sentido, do Gilles Deleuze, em versão traduzida. Eu simplesmente sei que não estou apreendendo o que precisa ser apreendido em uma leitura, que talvez tenha que ler uma segunda e uma terceira para efetivamente me sentir confiante para usar enquanto matéria prima... além de ler Lewis Carrol...
sábado, agosto 20, 2005
Várias coisas me perturbam hoje em dia, mas ainda não fechei questão para escrever aqui. Estou me acostumando a conviver com a náusea que me afeta quase diariamente, seria distimia? Não sei, nem sei se quero saber. Tenho que encontrar um jeito de ser livre e ganhar dinheiro simultaneamente e imediatamente. Não vou publicar hoje na Esféra Pública o blogue coletivo mais individual que eu conheço.
sábado, agosto 13, 2005
Recusa a utilizar o termo marketeiro, derivado da expressão tosca marketing político.
O que Duda Mendonça faz é propaganda política, talvez uma forma renovada de propaganda, com maior profissionalismo que outrora no Brasil, mas é propaganda.
A principal razão para a recusa do termo marketeiro é que, derivado de market, iguala política a mercado, cidadãos a consumidores, o que é um esvaziamento deliberado da Esfera Pública, não o blogue ou a revista.
O que Duda Mendonça faz é propaganda política, talvez uma forma renovada de propaganda, com maior profissionalismo que outrora no Brasil, mas é propaganda.
A principal razão para a recusa do termo marketeiro é que, derivado de market, iguala política a mercado, cidadãos a consumidores, o que é um esvaziamento deliberado da Esfera Pública, não o blogue ou a revista.
terça-feira, agosto 02, 2005
A questão feminina é uma questão um pouco difícil para mim depois de tudo que aconteceu em minha vida, é preciso muita abstração para perceber que o mal nem sempre está na superfície, mas espero ter conseguido. Talvez outra pessoa fosse mais adequada a falar sobre o papel da mulher ou sobre os papéis das mulheres, mas há muito que ser dito, há espaço para muitos viéses, eu nem imagino quantos, apenas sei que são incontáveis...
segunda-feira, agosto 01, 2005
sábado, julho 30, 2005
Relacionar "O grande perdedor" do SBT, com "O Aprendiz" da Record, estou pensando em produzir a edição da Esfera Pública de amanhã relacionada a isso:
- http://www.pailegal.net/forum/viewtopic.php?p=21444#21444
- http://ofuxico.uol.com.br/noticias/notas_160611.html
Há uma citação do Foucault falando sobre o exercício do poder sobre o corpo passando de uma relação de controle-repressão para o controle-desejo, no outro tem a própria questão da mulher que em um reality show, com share significativo, em que a mulher ganha em alcançar um ideal de beleza, então de poder ficar nua, ganha dinheiro e ainda sai com um namorado...
Se iniciarmos a reflexão através dos antigos programas de miss, onde as mulheres ideais eram exibidas "em uma bandeja" para a atual situação em que as pessoas são exibidas justamente por se tornarem capazes de alcançar um ideal ou de se aproximar disso...
Sem falar nas pesquisas da Catho que dizem que ganha mais quem é bonito, alto, magro e, claro, não tem tatuagem. Poderia se comparar o reality show "O Grande Perdedor" com "O Aprendiz", comparar os corpos também, o foco, um quem está mais preparado para o sucesso, outro de quem deve se recuperar da humilhação...
Alguém colabora: Acho que o tema pode ser abordado de outra forma, não como uma relaçao entre O aprendiz e O grande perdedor. Na realidade acho que existem outros programas e concursos menos conhecidos que poderiam ser explorados de uma maneira melhor nessa relaçao, por exemplo, agora tem concursos de miss fabricadas, onde só podem entrar pessoas q foram realmente "construidas" pelos medicos. Nos Estados Unidos tem um programa tipo o grande perdedor, mas no qual as pessoas sofrem intervençoes cirurgicas, como num concurso O grande perdedor com plasticas.
- http://www.pailegal.net/forum/viewtopic.php?p=21444#21444
- http://ofuxico.uol.com.br/noticias/notas_160611.html
Há uma citação do Foucault falando sobre o exercício do poder sobre o corpo passando de uma relação de controle-repressão para o controle-desejo, no outro tem a própria questão da mulher que em um reality show, com share significativo, em que a mulher ganha em alcançar um ideal de beleza, então de poder ficar nua, ganha dinheiro e ainda sai com um namorado...
Se iniciarmos a reflexão através dos antigos programas de miss, onde as mulheres ideais eram exibidas "em uma bandeja" para a atual situação em que as pessoas são exibidas justamente por se tornarem capazes de alcançar um ideal ou de se aproximar disso...
Sem falar nas pesquisas da Catho que dizem que ganha mais quem é bonito, alto, magro e, claro, não tem tatuagem. Poderia se comparar o reality show "O Grande Perdedor" com "O Aprendiz", comparar os corpos também, o foco, um quem está mais preparado para o sucesso, outro de quem deve se recuperar da humilhação...
Alguém colabora: Acho que o tema pode ser abordado de outra forma, não como uma relaçao entre O aprendiz e O grande perdedor. Na realidade acho que existem outros programas e concursos menos conhecidos que poderiam ser explorados de uma maneira melhor nessa relaçao, por exemplo, agora tem concursos de miss fabricadas, onde só podem entrar pessoas q foram realmente "construidas" pelos medicos. Nos Estados Unidos tem um programa tipo o grande perdedor, mas no qual as pessoas sofrem intervençoes cirurgicas, como num concurso O grande perdedor com plasticas.
sexta-feira, julho 29, 2005
Nova aquisição para a minha biblioteca: "O Baú de Nelson Rodrigues" da Companhia das Letras, não vou ler agora, aliás estou pensando se leio mesmo o Robsbawn nesse final de semana, pois na verdade é mais urgente ler "Diferença e Repetição" do Deleuze, que é da biblioteca e tem utilidade imediata.
Estou um pouco frustrado com a quase inexistência de comentários no blog da Esfera Pública, as pessoas não deveriam ter medo de expor seus comentários, de suscitar o diálogo, esse é o objetivo ao final das contas...
Estou um pouco frustrado com a quase inexistência de comentários no blog da Esfera Pública, as pessoas não deveriam ter medo de expor seus comentários, de suscitar o diálogo, esse é o objetivo ao final das contas...
Concluído o primeiro artigo escrito e publicado no blog da Esfera Pública, o tema é interessante, cheio de questões transversais, permeado de possibilidades, é nada além da ponta de um iceberg de tensões fundantes...
Esse final de semana pretendo ler A era dos extremos, do Hobsbawn, já o comecei tantas vezes e não conclui, que chegou um momento em que não tenho mais como adiar.
Esse final de semana pretendo ler A era dos extremos, do Hobsbawn, já o comecei tantas vezes e não conclui, que chegou um momento em que não tenho mais como adiar.
quinta-feira, julho 28, 2005
Pré-esfera, pré-pública
Conforme anunciado há algumas semanas, estão sendo iniciados os trabalhos da Esfera Pública, ainda de forma incipiente, em forma de exercício, mas nem por isso menos importante.
Antes do lançamento da revista, as publicações terão caráter individual, de responsabilidade estrita dos autores, em forma de blog, o endereço do blog é http://www.pre-esferapublica.blogspot.com .
A coluna publicada diariamente neste blog deixará de ser publicada neste espaço e passará a ser publicada, a partir de hoje, no blog da pré-revista Esfera Pública.
Em função disso, as publicações do Anjo Mecanico no espaço Anjo Mecanico retornarão ao caráter íntimo e pessoal anterior.
Vida longa à Esfera Pública!
Antes do lançamento da revista, as publicações terão caráter individual, de responsabilidade estrita dos autores, em forma de blog, o endereço do blog é http://www.pre-esferapublica.blogspot.com .
A coluna publicada diariamente neste blog deixará de ser publicada neste espaço e passará a ser publicada, a partir de hoje, no blog da pré-revista Esfera Pública.
Em função disso, as publicações do Anjo Mecanico no espaço Anjo Mecanico retornarão ao caráter íntimo e pessoal anterior.
Vida longa à Esfera Pública!
quarta-feira, julho 27, 2005
Corrupção e corrupção... Há uma alternativa?
Na história recente do Brasil há um caso recente de cassação de presidente, um presidente que, apesar de compor uma oligarquia, era de um estado fraco, de Alagoas, um estado praticamente sem expressão politica nacional, deixa de contar com o apoio do eleitorado, que já o via como um engodo, que já se sentia por ele não traído, mas enganado, ludibriado, e, principalmente, deixa de contar com qualquer apoio das oligarquias sejam agrárias, sejam industriais ou sejam financeiras.
Atualmente há certa insistência em que o atual mandato do presidente Lula não deve chegar ao fim, aposta-se na capacidade desse ou daquele veículo de comunicação de derrubar o governo, obrigá-lo à renúncia. Isso seria ruim para todos, sem excessão, não deve se tornar fato.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugere que Lula deve abandonar a certeza de se candidatar à reeleição, conselho que pode soar um pouco até como certa chantagem disfarçada. Talvez é isso exatamente o que o PSDB deseja, não derrubar Lula em seu mandato, mas levantar munição para o período das eleições. Tentar impedir a reeleição.
Nas próximas eleições a população terá que escolher entre PT, PSBD, talvez até com alguma chance também PFL e PMDB. Não há, até o momento, qualquer outro partido com possibilidade de apresentar uma canditatura viável, com chances reais de vitória, talvez um Ciro Gomes possa correr por fora nessa disputa, ainda é cedo para que se apontem os possíveis azarões da disputa.
A questão em foco é em que princípios o eleitorado pode fazer sua escolha no próximo ano, uma vez que agora, mesmo o PT, apresenta-se devidamente maculado pela corrupção em nível nacional, então não se trata mais de um caso isolado de corrupção em algum município, mas os demais partidos com chances reais de eleger um presidente também possuem a mancha mal-lavada da corrupção em sua história extremamente recente.
Não é de se admirar que o sistema político busque expurgar aqueles que lhe são de alguma forma estranhos, Fernando Collor era estranho, Lula é até bem conhecido, mas é indesejado, é importante enquanto simbolo, mas não se deseja que se torne reconhecido enquanto estadista, mas em oposição aos corpos estranhos ao sistema político estão os políticos já mais que tradicionais, representantes dos interesses mais arcaicos existentes na nação.
Agora para o eleitorado, não é tão óbvio a pressão tão maior em torno da corrupção do governo Lula, do que foi ao governo Fernando Henrique ou do que é hoje na maioria dos estados e municípios do país, onde a corrupção, sem margem de dúvida, drena massissamente os recursos públicos do Oiapoque ao Chuí, pois para o eleitorado o PT é muito mais próximo de si que qualquer outro dos partidos.
De todos os partidos brasileiros, apenas dois possuem um programa consistente e uma prática coerente com esse programa, são eles o PT e o PSDB, infelizmente os demais têm tão somente arremedos de programas preparados tão somente com fins eleitorais. O PMDB também é um partido grande, mas deixou há algum tempo de ser um grande partido, não se deve esperar um PMDB coeso para as próximas eleições. O PFL, bem, o PFL deve-se reconhecer sua honestidade, pois não disfarça, de forma alguma, que é o mais legítimo dos representantes das oligarquias tradicionais do Nordeste.
Há a hipótese do voto nulo, mas não parece que haverá uma grande capanha de esclarecimento em torno do voto nulo, sendo assim, essa não deve se tornar, mesmo em caso de desmascaramento generalizado da corrupção no governo e na oposição, enquanto opção competitiva, por mais que o eleitorado se torne descrente de seus potenciais representantes, fosse assim o voto nulo teria merecido mais destaque nas eleições das últimas décadas.
O mais importante, que deveria ser o voto comum no partido do presidente, do deputado e do senador, não parece ter se configurado enquanto aprendizado para o brasileiro, por incrível que pareça, há pessoas que se manifestam com orgulho de terem votado no Lula, não no PT.
Lula é presidente, mas o PT ou a coligação PT-PL não formam maioria sustentável na câmara ou no senado, então, são exatamente essas pessoas que são culpadas pela corrupção necessária para a manutenção da base de apoio que hoje se vê desmascarada, não há do que sentir orgulho, há motivo para culpa.
Sendo assim, com a possibilidade de desmoralização do PT e reeleição do Lula o quadro se torna deveras complicado para o próximo mandato, bem como de qualquer candidato que não se eleja em conjunto com um legislativo que, ou lhe de apoio, ou seja formado por partidos e representantes legítimos do eleitorado, o que não acontece ainda no Brasil.
Se é vontade da maioria que exista um governo, então ao menos que esse governo represente minimamente os interesses desse mesmo eleitorado, mas como fazer isso?
A solução está na educação, dirão alguns, mas essa afirmação está duplamente errada, uma que a educação é solução de longo prazo e o que se está discutindo são as próximas eleições, no próximo ano, outra que se a educação é objeto de regulação do governo, aos que estão no governo interessa tão somente se perpetuar no governo, sendo assim a educação deve continuar exatamente tal qual hoje, talvez ainda menos crítica, se possível.
Qual a solução possível para que se chegue a um resultado satisfatório nas próximas eleições federais e estaduais? Se há alguma é preciso se procurar logo, pois o relógio já conta o tempo e as forças políticas tradicionais já iniciaram o jogo eleitoral, o PT e sua militância deve-se demorar um pouco em sua maior ressaca, então o que é possível fazer?
As oligarquias de Minas e São Paulo, leia-se PSDB, já estão preparadas e se sentindo com boas chances, as oligarquias do Nordeste, leia-se PFL, devem buscar um pacto com Minas e São Paulo e, dessa forma, voltar também ao executivo federal. O que o eleitorado que não participa das elites deve fazer diante desse cenário?
Fernando Henrique diria que deve-se deixar tudo a cargo dos intelectuais paulistas, como ele, que forma o pensamento hegemônico no PSDB. Deverá o eleitorado, que em sua maioria nem sabe o que é revolução burguesa, apostar novamente no PSDB?
Atualmente há certa insistência em que o atual mandato do presidente Lula não deve chegar ao fim, aposta-se na capacidade desse ou daquele veículo de comunicação de derrubar o governo, obrigá-lo à renúncia. Isso seria ruim para todos, sem excessão, não deve se tornar fato.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugere que Lula deve abandonar a certeza de se candidatar à reeleição, conselho que pode soar um pouco até como certa chantagem disfarçada. Talvez é isso exatamente o que o PSDB deseja, não derrubar Lula em seu mandato, mas levantar munição para o período das eleições. Tentar impedir a reeleição.
Nas próximas eleições a população terá que escolher entre PT, PSBD, talvez até com alguma chance também PFL e PMDB. Não há, até o momento, qualquer outro partido com possibilidade de apresentar uma canditatura viável, com chances reais de vitória, talvez um Ciro Gomes possa correr por fora nessa disputa, ainda é cedo para que se apontem os possíveis azarões da disputa.
A questão em foco é em que princípios o eleitorado pode fazer sua escolha no próximo ano, uma vez que agora, mesmo o PT, apresenta-se devidamente maculado pela corrupção em nível nacional, então não se trata mais de um caso isolado de corrupção em algum município, mas os demais partidos com chances reais de eleger um presidente também possuem a mancha mal-lavada da corrupção em sua história extremamente recente.
Não é de se admirar que o sistema político busque expurgar aqueles que lhe são de alguma forma estranhos, Fernando Collor era estranho, Lula é até bem conhecido, mas é indesejado, é importante enquanto simbolo, mas não se deseja que se torne reconhecido enquanto estadista, mas em oposição aos corpos estranhos ao sistema político estão os políticos já mais que tradicionais, representantes dos interesses mais arcaicos existentes na nação.
Agora para o eleitorado, não é tão óbvio a pressão tão maior em torno da corrupção do governo Lula, do que foi ao governo Fernando Henrique ou do que é hoje na maioria dos estados e municípios do país, onde a corrupção, sem margem de dúvida, drena massissamente os recursos públicos do Oiapoque ao Chuí, pois para o eleitorado o PT é muito mais próximo de si que qualquer outro dos partidos.
De todos os partidos brasileiros, apenas dois possuem um programa consistente e uma prática coerente com esse programa, são eles o PT e o PSDB, infelizmente os demais têm tão somente arremedos de programas preparados tão somente com fins eleitorais. O PMDB também é um partido grande, mas deixou há algum tempo de ser um grande partido, não se deve esperar um PMDB coeso para as próximas eleições. O PFL, bem, o PFL deve-se reconhecer sua honestidade, pois não disfarça, de forma alguma, que é o mais legítimo dos representantes das oligarquias tradicionais do Nordeste.
Há a hipótese do voto nulo, mas não parece que haverá uma grande capanha de esclarecimento em torno do voto nulo, sendo assim, essa não deve se tornar, mesmo em caso de desmascaramento generalizado da corrupção no governo e na oposição, enquanto opção competitiva, por mais que o eleitorado se torne descrente de seus potenciais representantes, fosse assim o voto nulo teria merecido mais destaque nas eleições das últimas décadas.
O mais importante, que deveria ser o voto comum no partido do presidente, do deputado e do senador, não parece ter se configurado enquanto aprendizado para o brasileiro, por incrível que pareça, há pessoas que se manifestam com orgulho de terem votado no Lula, não no PT.
Lula é presidente, mas o PT ou a coligação PT-PL não formam maioria sustentável na câmara ou no senado, então, são exatamente essas pessoas que são culpadas pela corrupção necessária para a manutenção da base de apoio que hoje se vê desmascarada, não há do que sentir orgulho, há motivo para culpa.
Sendo assim, com a possibilidade de desmoralização do PT e reeleição do Lula o quadro se torna deveras complicado para o próximo mandato, bem como de qualquer candidato que não se eleja em conjunto com um legislativo que, ou lhe de apoio, ou seja formado por partidos e representantes legítimos do eleitorado, o que não acontece ainda no Brasil.
Se é vontade da maioria que exista um governo, então ao menos que esse governo represente minimamente os interesses desse mesmo eleitorado, mas como fazer isso?
A solução está na educação, dirão alguns, mas essa afirmação está duplamente errada, uma que a educação é solução de longo prazo e o que se está discutindo são as próximas eleições, no próximo ano, outra que se a educação é objeto de regulação do governo, aos que estão no governo interessa tão somente se perpetuar no governo, sendo assim a educação deve continuar exatamente tal qual hoje, talvez ainda menos crítica, se possível.
Qual a solução possível para que se chegue a um resultado satisfatório nas próximas eleições federais e estaduais? Se há alguma é preciso se procurar logo, pois o relógio já conta o tempo e as forças políticas tradicionais já iniciaram o jogo eleitoral, o PT e sua militância deve-se demorar um pouco em sua maior ressaca, então o que é possível fazer?
As oligarquias de Minas e São Paulo, leia-se PSDB, já estão preparadas e se sentindo com boas chances, as oligarquias do Nordeste, leia-se PFL, devem buscar um pacto com Minas e São Paulo e, dessa forma, voltar também ao executivo federal. O que o eleitorado que não participa das elites deve fazer diante desse cenário?
Fernando Henrique diria que deve-se deixar tudo a cargo dos intelectuais paulistas, como ele, que forma o pensamento hegemônico no PSDB. Deverá o eleitorado, que em sua maioria nem sabe o que é revolução burguesa, apostar novamente no PSDB?
terça-feira, julho 26, 2005
A quem serve a vigilância?
É fácil acreditar que o panoptismo de Bentham é aceitável para as prisões, uma vez que aos detentos foi-lhes justamente suprimida a liberdade, seria necessário rever a pena e não tanto a possibilidade de vigilância que se aplique a eles.
É possível entretanto aceitar para as escolas, para as casas, para os condomínios, para as praças ou para outros espaços da vida pública ou privada?
Aceita-se a utilização indiscriminada de sistemas de monitoramento por imagens de vídeo que vigiam em nome de uma falsa segurança a vida de todas as pessoas, todos os dias.
Aceita-se que se instalem câmeras até em salas de aula, aceita-se que se instalem câmeras nos condomínios, em praças e ruas. Aceita-se passivamente toda essa violência contra a toda a população em nome de uma falsa segurança.
Os indivíduos aceitam-se violados em seu direito à privacidade para que possa se sentir seguro, priva-se da liberdade em troca da segurança prometida por seus representantes no poder, que desejam mais poder e, por isso, mais que vigiar evetuais criminosos, desejam vigiar a todos, pois essa vigilância a todos é que produz mais poder.
Se a escola é um espaço para se aprender e acomodar à sensação de ser sempre vigiado é certo que esse indivíduo forma em suas neuroses também uma câmera oculta que o vigia constantemente, que lhe é mais uma fonte de sofrimento mental.
Quem ganha com isso são aqueles que se beneficiam da manutenção do establishment, aqueles que possuem e exercem o poder, pois a sensação permanente de se sentir vigiado dificulta a desobediência, a indisciplina, a subversão, que são formas possíveis do indivíduo negar o estabelecido.
Os sistemas de segurança não são tão eficientes contra os criminosos "profissionais", nem mesmo contra os criminosos "esclarecidos" ou políticos, são eficientes exatamente contra o cidadão que não se percebe violentado em seus direitos, justamente aquele que se pretende seguro ao consentir com a invasão de sua própria vida.
É preciso perceber que a lógica da segurança pela vigilância vai, cedo ou tarde, vai se esgarçar, mas, certamente, até isso acontecer, haverá muito sangue, inclusive de civis, mas não de inocentes, isso não se pode dizer.
As crianças, sim, na verdade as crianças são inocentes, as únicas inocentes, de qualquer uma das trincheiras, de qualquer um dos lados, mas apenas elas.
Afinal, mesmo que distanciado da ação direta de violência, não é o receptador de um roubo também diretamente um criminoso?
É possível entretanto aceitar para as escolas, para as casas, para os condomínios, para as praças ou para outros espaços da vida pública ou privada?
Aceita-se a utilização indiscriminada de sistemas de monitoramento por imagens de vídeo que vigiam em nome de uma falsa segurança a vida de todas as pessoas, todos os dias.
Aceita-se que se instalem câmeras até em salas de aula, aceita-se que se instalem câmeras nos condomínios, em praças e ruas. Aceita-se passivamente toda essa violência contra a toda a população em nome de uma falsa segurança.
Os indivíduos aceitam-se violados em seu direito à privacidade para que possa se sentir seguro, priva-se da liberdade em troca da segurança prometida por seus representantes no poder, que desejam mais poder e, por isso, mais que vigiar evetuais criminosos, desejam vigiar a todos, pois essa vigilância a todos é que produz mais poder.
Se a escola é um espaço para se aprender e acomodar à sensação de ser sempre vigiado é certo que esse indivíduo forma em suas neuroses também uma câmera oculta que o vigia constantemente, que lhe é mais uma fonte de sofrimento mental.
Quem ganha com isso são aqueles que se beneficiam da manutenção do establishment, aqueles que possuem e exercem o poder, pois a sensação permanente de se sentir vigiado dificulta a desobediência, a indisciplina, a subversão, que são formas possíveis do indivíduo negar o estabelecido.
Os sistemas de segurança não são tão eficientes contra os criminosos "profissionais", nem mesmo contra os criminosos "esclarecidos" ou políticos, são eficientes exatamente contra o cidadão que não se percebe violentado em seus direitos, justamente aquele que se pretende seguro ao consentir com a invasão de sua própria vida.
É preciso perceber que a lógica da segurança pela vigilância vai, cedo ou tarde, vai se esgarçar, mas, certamente, até isso acontecer, haverá muito sangue, inclusive de civis, mas não de inocentes, isso não se pode dizer.
As crianças, sim, na verdade as crianças são inocentes, as únicas inocentes, de qualquer uma das trincheiras, de qualquer um dos lados, mas apenas elas.
Afinal, mesmo que distanciado da ação direta de violência, não é o receptador de um roubo também diretamente um criminoso?
segunda-feira, julho 25, 2005
Quando ser religioso é sujar as mãos com sangue
O Rio de Janeiro sedia a partir de hoje a conferência anual da Sociedade Internacional de Aids e uma das polêmicas do encontro será, sem dúvida, o conservadorismo dos Estados Unidos contra a eficiência comprovada do Brasil no combate à doença.
Um exemplo do enfrentamento entre os dois paises é a questão relacionada à campanha de distribuição de preservativos da ONG Fio da Alma, que era parcialmente financiada pela Agência Americana para Desenvolvimento Internacional (Usaid), mas cuja parceria está encerrada, pois o Brasil não aceita à exigência do governo estadunidense de que todos os recebedores estrangeiros de assistência para Aids devem condenar explicitamente a prostituição.
O governo Bush também deseja que os programas financiados por suas agências coloquem ênfase na na abstinência, na fidelidade e no uso controlado de preservativos, enquanto o governo brasileiro adota uma postura pragmática em que reconhece que o desejo sexual às vezes supera a razão.
Se o Brasil deixa de receber os 40 milhões de dólares de ajuda no combate à Aids por que se recusa a discriminar formalmente os seus cidadãos, qualquer que seja sua profissão, isso, sem dúvida, enfraquece o programa brasileiro de combate à Aids, ou seja, mais pessoas estarão contraindo o HIV e mais pessoas deixarão de ter um tratamento adequado à doença, ou seja, mais pessoas morrerão.
Se o Brasil aceita discriminar formalmente os profissionais do sexo, então este público estará consideravelmente mais propenso a contrair Aids, bem como não poderão contar com um tratamento adequado para a doença, ou seja, também mais pessoas morrerão.
A questão não é um dilema, pois em ambas as situações mais pessoas morrerão em decorrência da carência de recursos, enquanto no caso de optar pela discriminação formal, estaria ferindo as cláusulas pétreas da Constituição Federal.
O governo dos Estados Unidos aproveita uma oportunidade a mais para condenar pessoas à morte por não atenderem às normas religiosas do eleitorado de George Bush, que são cristãos. Além dos muçulmanos no Afeganistão e no Iraque, que são assassinados em sua cruzada contra o Islan, Bush e seu povo condena à morte milhões de pessoas no mundo todo, tratando a Aids como uma das sete pragas enviadas por seu deus ao Egito.
Apesar da dissimulação típica da esfera governamental, o que o governo Bush diz é que os pecadores devem ser exterminados pelo mal que seu deus enviou ao mundo e devem padecer em sofrimento para que possam se redimir de seus pecados e encontrar a salvação prometida por seu deus para aqueles que a ele se converterem.
Não adianta os católicos brasileiros se sentirem aliviados, pois os líderes católicos pouco de diferenciam dos conselheiros e eleitores de Bush. Aquele que é cristão ou compartilha de dogmas similares é co-responsável pela morte dessas pessoas, pois ajuda a manter acesa no mundo a chama do pavio, também chamado fé, da religião no mundo.
Um exemplo do enfrentamento entre os dois paises é a questão relacionada à campanha de distribuição de preservativos da ONG Fio da Alma, que era parcialmente financiada pela Agência Americana para Desenvolvimento Internacional (Usaid), mas cuja parceria está encerrada, pois o Brasil não aceita à exigência do governo estadunidense de que todos os recebedores estrangeiros de assistência para Aids devem condenar explicitamente a prostituição.
O governo Bush também deseja que os programas financiados por suas agências coloquem ênfase na na abstinência, na fidelidade e no uso controlado de preservativos, enquanto o governo brasileiro adota uma postura pragmática em que reconhece que o desejo sexual às vezes supera a razão.
Se o Brasil deixa de receber os 40 milhões de dólares de ajuda no combate à Aids por que se recusa a discriminar formalmente os seus cidadãos, qualquer que seja sua profissão, isso, sem dúvida, enfraquece o programa brasileiro de combate à Aids, ou seja, mais pessoas estarão contraindo o HIV e mais pessoas deixarão de ter um tratamento adequado à doença, ou seja, mais pessoas morrerão.
Se o Brasil aceita discriminar formalmente os profissionais do sexo, então este público estará consideravelmente mais propenso a contrair Aids, bem como não poderão contar com um tratamento adequado para a doença, ou seja, também mais pessoas morrerão.
A questão não é um dilema, pois em ambas as situações mais pessoas morrerão em decorrência da carência de recursos, enquanto no caso de optar pela discriminação formal, estaria ferindo as cláusulas pétreas da Constituição Federal.
O governo dos Estados Unidos aproveita uma oportunidade a mais para condenar pessoas à morte por não atenderem às normas religiosas do eleitorado de George Bush, que são cristãos. Além dos muçulmanos no Afeganistão e no Iraque, que são assassinados em sua cruzada contra o Islan, Bush e seu povo condena à morte milhões de pessoas no mundo todo, tratando a Aids como uma das sete pragas enviadas por seu deus ao Egito.
Apesar da dissimulação típica da esfera governamental, o que o governo Bush diz é que os pecadores devem ser exterminados pelo mal que seu deus enviou ao mundo e devem padecer em sofrimento para que possam se redimir de seus pecados e encontrar a salvação prometida por seu deus para aqueles que a ele se converterem.
Não adianta os católicos brasileiros se sentirem aliviados, pois os líderes católicos pouco de diferenciam dos conselheiros e eleitores de Bush. Aquele que é cristão ou compartilha de dogmas similares é co-responsável pela morte dessas pessoas, pois ajuda a manter acesa no mundo a chama do pavio, também chamado fé, da religião no mundo.
domingo, julho 24, 2005
sábado, julho 23, 2005
É possível quebrar o círculo vicioso da corrupção e da miséria?
Toda a crise leva a alguma renovação, espera-se. A importância maior da crise política nacional vivida atualmente situa-se exatamente no fato de que o PT representava a esperança de moralização política do Brasil, mas o que se percebe é que o PT está envolvido também em corrupção, a mesma corrupção que é praticamente imagem do Estado nesta nação.
Não se sabe e, provavelmente, nunca se vai saber se o atual governo, composto de executivo, de legislativo, de judiciário e também de traficantes (de influências, por enquanto) é mais ou menos corrupto que os governos anteriores, de Tomé de Souza a Fernando Henrique Cardoso.
Quem pode julgar a corrupção hoje no Brasil? Corrupção envolvendo o PT, o Partido dos Trabalhadores, na verdade o partido da classe média, de maioria católica, com um grande de lastro de luta pela tentativa de democratizar o Brasil, pelo orçamento participativo nos municípios, pelo apoio moderado à reforma agrária e outras tantas lutas travadas no Brasil recente.
Certamente não são os representantes, novos ou antigos, das oligarquias brasileiras, estes sempre foram e ainda são corruptos e, estão, no máximo, brigando pelo direito de corromper e ser corrompidos, como que reclamando de volta uma prerrogativa que um partido da classe média lhes quer tirar.
Certamente não é o judiciário, uma organização hermética, opressora, ostentadora, criada para defender os interesses dos grupos dominantes e que ainda serve unicamente aos interesses que lhe pariram, até por que o povo pouco pode influir, muito embora seja sustentada com o dinheiro público.
Poderia ser a nação como um todo, o eleitorado, mas que opções restam ao eleitor? Poderia se falar o PSol da Heloísa Helena, de admirável força, mas não era também o Lula do PT um guerreiro no mesmo estilo?
Parte mínima do eleitorado, que não se vê representada pelos governantes, defende o voto nulo, a intenção é a melhor de todas, mas mesmo que a maioria dos eleitores se tornasse consciente da falsa democracia, isso não significa que os desdobramentos seriam seguros, que não se correria o risco do estabelecimento de uma guerra civil.
É possível considerar que quem vai efetivamente julgar a questão é o eleitorado, sobre o que as pesquisas indicam que: (a) a crença é de que Lula sabe e sabia dos esquemas de corrupção, ou seja, que é cúmplice ou ator; (b) que deseja reeleger Lula para mais um mandato; (c) que acredita que os demais partidos e políticos também estão ou estiveram envolvidos em corrupção.
Disso é possível deduzir que (a) a população não é ingênua para acreditar em história da carochinha, (b) que a população não deseja um movimento de caça às bruxas e que ainda considera Lula e, talvez, o PT enquanto seus representantes legítimos e (c) que, de fato, não há perspectiva melhor para o futuro próximo.
Reeleger ou não o Lula é um dilema, pois, de um lado, a nação estaria legitimando formalmente a corrupção como instrumento de governo e de política, mas, de outro, estaria fazendo valer sua vontade acima do que considera um denuncismo, ou seja, acredita de alguma forma que a corrupção existe, mas que agora está sendo publicizada por não serem o Lula e o PT representantes diretos das elites.
A opção de reeleger Lula em detrimento do voto nulo, que seria a opção mais radical, aquela de repudia o sistema, o protesto esclarecido, representa uma escolha abstrata, a de realizar reformas graduais e não radicais no governo. É uma opção conservadora, uma opção que o PT adotou para que pudesse se tornar governo.
Se o PT optou por realizar reformas graduais, se precisou adotar uma postura oficial mais conservadora para que pudesse se eleger e assim foi eleito de fato, é fato que o eleitorado deseja mudança, mas a deseja gradual, sem choques. Deseja reforma e não revolução.
O eleitorado, consciente ou não disso, já previa e até pode se dizer que desejava, desde as eleições, que o PT fizesse o máximo de uso possível do sistema existente, estabelecido, então era e ainda é preciso usar de corrupção para governar. O PT só está fazendo a lição de casa.
O que muitos defendem é que é preciso investir na educação para melhorar o país de verdade, mas ao Estado, que representa aqueles que detêm a força: os grandes latifundiários, os grandes banqueiros, os grandes industriais, os grandes comerciários, não deseja, naturalmente, que a educação venha a prover mais que esperança à população em geral.
Esperança é muito importante, esperança faz com que as pessoas não se rebelem contra o sistema, mantém a ordem na sociedade, a educação é importante para isso, pois promove um ou outro indivíduo, oriundo das classes populares, que consegue se graduar, que consegue uma profissão boa, que consegue virar mestre, até doutor ou consegue enriquecer.
Essas pessoas são muito importantes, pois servem para mostrar que a grande maioria das pessoas só é miserável por sua própria incompetência, que passa fome apenas por que não teve a competência necessária para construir uma vida digna, afinal “fulano de tal da silva”, que nasceu e cresceu nas mesmas condições de todos os outros na comunidade, conseguiu.
A educação promovida pelo Estado serve, naturalmente, ao próprio Estado, que serve às classes dominantes, às elites, então não há que se esperar que essa educação transforme a realidade da população de forma significativa, é natural, esse tipo de educação seria uma ameaça.
Se a educação é o grande motor da transformação do Brasil, então não se pode entregar a responsabilidade da educação ao Estado, pois que o Estado é o procurador das elites, que não desejam transformar a realidade, pois desejam permanecer elite, desejam a manutenção dos seus privilégios.
Para transformar a realidade é preciso fazer uma escola que sirva e responda à comunidade e não ao Estado, é preciso que a escola compreenda e busque os anseios da comunidade, é preciso que a escola seja parte da comunidade e que a comunidade se responsabilize pela escola.
Se for desejo uma revolução de sucesso, essa revolução começa na própria comunidade, tomando de assalto a escola ou até criando a escola, se for preciso, fazendo com que os burocratas, os pedagogos, os professores e os servidores em geral compreendam que ou estão a serviço da comunidade ou que partam e nunca mais voltem.
Melhor que se comece uma nova história sem nenhum professor do que continuar com aqueles que querem tão somente ensinar e aprender a repetir a mesma história que oprime, que destrói, que violenta, que tão somente atende aos interesses de quem já está estabelecido.
Aprender a construir sua própria história em lugar de mera ficção de aprendizado.
Não se sabe e, provavelmente, nunca se vai saber se o atual governo, composto de executivo, de legislativo, de judiciário e também de traficantes (de influências, por enquanto) é mais ou menos corrupto que os governos anteriores, de Tomé de Souza a Fernando Henrique Cardoso.
Quem pode julgar a corrupção hoje no Brasil? Corrupção envolvendo o PT, o Partido dos Trabalhadores, na verdade o partido da classe média, de maioria católica, com um grande de lastro de luta pela tentativa de democratizar o Brasil, pelo orçamento participativo nos municípios, pelo apoio moderado à reforma agrária e outras tantas lutas travadas no Brasil recente.
Certamente não são os representantes, novos ou antigos, das oligarquias brasileiras, estes sempre foram e ainda são corruptos e, estão, no máximo, brigando pelo direito de corromper e ser corrompidos, como que reclamando de volta uma prerrogativa que um partido da classe média lhes quer tirar.
Certamente não é o judiciário, uma organização hermética, opressora, ostentadora, criada para defender os interesses dos grupos dominantes e que ainda serve unicamente aos interesses que lhe pariram, até por que o povo pouco pode influir, muito embora seja sustentada com o dinheiro público.
Poderia ser a nação como um todo, o eleitorado, mas que opções restam ao eleitor? Poderia se falar o PSol da Heloísa Helena, de admirável força, mas não era também o Lula do PT um guerreiro no mesmo estilo?
Parte mínima do eleitorado, que não se vê representada pelos governantes, defende o voto nulo, a intenção é a melhor de todas, mas mesmo que a maioria dos eleitores se tornasse consciente da falsa democracia, isso não significa que os desdobramentos seriam seguros, que não se correria o risco do estabelecimento de uma guerra civil.
É possível considerar que quem vai efetivamente julgar a questão é o eleitorado, sobre o que as pesquisas indicam que: (a) a crença é de que Lula sabe e sabia dos esquemas de corrupção, ou seja, que é cúmplice ou ator; (b) que deseja reeleger Lula para mais um mandato; (c) que acredita que os demais partidos e políticos também estão ou estiveram envolvidos em corrupção.
Disso é possível deduzir que (a) a população não é ingênua para acreditar em história da carochinha, (b) que a população não deseja um movimento de caça às bruxas e que ainda considera Lula e, talvez, o PT enquanto seus representantes legítimos e (c) que, de fato, não há perspectiva melhor para o futuro próximo.
Reeleger ou não o Lula é um dilema, pois, de um lado, a nação estaria legitimando formalmente a corrupção como instrumento de governo e de política, mas, de outro, estaria fazendo valer sua vontade acima do que considera um denuncismo, ou seja, acredita de alguma forma que a corrupção existe, mas que agora está sendo publicizada por não serem o Lula e o PT representantes diretos das elites.
A opção de reeleger Lula em detrimento do voto nulo, que seria a opção mais radical, aquela de repudia o sistema, o protesto esclarecido, representa uma escolha abstrata, a de realizar reformas graduais e não radicais no governo. É uma opção conservadora, uma opção que o PT adotou para que pudesse se tornar governo.
Se o PT optou por realizar reformas graduais, se precisou adotar uma postura oficial mais conservadora para que pudesse se eleger e assim foi eleito de fato, é fato que o eleitorado deseja mudança, mas a deseja gradual, sem choques. Deseja reforma e não revolução.
O eleitorado, consciente ou não disso, já previa e até pode se dizer que desejava, desde as eleições, que o PT fizesse o máximo de uso possível do sistema existente, estabelecido, então era e ainda é preciso usar de corrupção para governar. O PT só está fazendo a lição de casa.
O que muitos defendem é que é preciso investir na educação para melhorar o país de verdade, mas ao Estado, que representa aqueles que detêm a força: os grandes latifundiários, os grandes banqueiros, os grandes industriais, os grandes comerciários, não deseja, naturalmente, que a educação venha a prover mais que esperança à população em geral.
Esperança é muito importante, esperança faz com que as pessoas não se rebelem contra o sistema, mantém a ordem na sociedade, a educação é importante para isso, pois promove um ou outro indivíduo, oriundo das classes populares, que consegue se graduar, que consegue uma profissão boa, que consegue virar mestre, até doutor ou consegue enriquecer.
Essas pessoas são muito importantes, pois servem para mostrar que a grande maioria das pessoas só é miserável por sua própria incompetência, que passa fome apenas por que não teve a competência necessária para construir uma vida digna, afinal “fulano de tal da silva”, que nasceu e cresceu nas mesmas condições de todos os outros na comunidade, conseguiu.
A educação promovida pelo Estado serve, naturalmente, ao próprio Estado, que serve às classes dominantes, às elites, então não há que se esperar que essa educação transforme a realidade da população de forma significativa, é natural, esse tipo de educação seria uma ameaça.
Se a educação é o grande motor da transformação do Brasil, então não se pode entregar a responsabilidade da educação ao Estado, pois que o Estado é o procurador das elites, que não desejam transformar a realidade, pois desejam permanecer elite, desejam a manutenção dos seus privilégios.
Para transformar a realidade é preciso fazer uma escola que sirva e responda à comunidade e não ao Estado, é preciso que a escola compreenda e busque os anseios da comunidade, é preciso que a escola seja parte da comunidade e que a comunidade se responsabilize pela escola.
Se for desejo uma revolução de sucesso, essa revolução começa na própria comunidade, tomando de assalto a escola ou até criando a escola, se for preciso, fazendo com que os burocratas, os pedagogos, os professores e os servidores em geral compreendam que ou estão a serviço da comunidade ou que partam e nunca mais voltem.
Melhor que se comece uma nova história sem nenhum professor do que continuar com aqueles que querem tão somente ensinar e aprender a repetir a mesma história que oprime, que destrói, que violenta, que tão somente atende aos interesses de quem já está estabelecido.
Aprender a construir sua própria história em lugar de mera ficção de aprendizado.
sexta-feira, julho 22, 2005
Para a mídia cachaça mata adolescente
O lide da matéria no jornal O Povo traz a acusação: "De acordo com amigos do torcedor, Bruno havia ingerido bebida alcoólica e estava pendurado nas grades de proteção da arquibancada quando perdeu o controle e caiu de cabeça de uma altura entre 15 e 20 metros".
A maioria das matérias que se pode ver, ouvir ou ler sobre o assunto enfatiza a questão de que adolescentes e até crianças têm acesso a bebidas e, aproveitando a deixa do amigo Róbson Freitas, 17: "A gente tinha bebido antes do jogo. Talvez por isso ele tenha caído", a mídia, aparentemente, encontrou um culpado.
Há outras suspeitas, segundo o coronel da PM Carlos Ribeiro, de que Bruno subiu nas grades de proteção para tentar pegar um dos bonés distribuídos por um dos patrocinadores do jogo, o estádio poderia estar fora das normas de segurança, mas nada é mais certo que o fato de que o torcedor havia ingerido álcool.
Ninguém afirmou que ele estivesse bêbado, até se pode imaginar que ele estava bem consciente, pois é difícil imaginar que um grupo de amigos deixe um colega em tal estado desafiar seu equilíbrio.
É certo que o garoto deveria realmente estar alcoolizado, pois a maioria das pessoas que vai a um jogo de futebol vai beber, seja cerveja, seja cachaça, seja o que for. O futebol é uma festa e festa tem bebida.
O garoto tem 17 anos, ele não tem 12, tem 17, alguns meses a mais e teria 18. Qual é a diferença tão grande entre alguns meses na vida de um adolescente. Consumir bebidas alcoólicas é crime antes dos 18 anos, mas os efeitos da cachaça que ele tomou variariam mais de uma pessoa para outra do que nos meses que faltavam para que completasse 18 e pudesse comprar bebidas legalmente.
Não se deve pensar que álcool é inofensivo à saúde e à segurança das pessoas, mesmo após a idade mínima para consumo legal, mas quase todo mundo que estava no estádio na noite do acidente deve ter tomado umas e outras e isso acontece em todos os jogos, em todos os anos e não há um festival de torcedores caindo de maduro das arquibancadas.
Ainda bem que o repórter, ávido por encontrar um culpado, não perguntou: "Ele já usou maconha?". O amigo inocente poderia ter respondido que sim, então teríamos a maconha como culpada, talvez a maconha que o garoto tivesse fumado dois dias antes.
De qualquer forma, a solução até para os acidentes é mais polícia, pois é necessário vigiar melhor para que adolescentes de 17 anos não consigam adquirir bebida alcoólica de vendedores ambulantes nos estádios. Não há como não rir, para não chorar é claro.
É difícil imaginar um mundo sem drogas, lícitas ou não, as pessoas enlouqueceriam um dia após o outro, talvez muito mais gente morreria vítima de queda de lugares altos, mas queda intencional.
Não foi a bebida, não foi o boné e não foram as muretas do estádio dentro das normas. A razão maior do acidente foi a imprudência, que nasce do desejo de se arriscar, de sentir frio na barriga, de desafiar a morte. Talvez uma forma de se provar que se está vivo.
O resto, provavelmente, foi acidente, trágico, mas obra do acaso, acontece, às vezes em tom de espetáculo. Seria mais charmoso se o garoto tivesse um bilhete de despedida em suas mãos, mas não tinha, não há muito que encompridar, morreu no intervalo atrapalhando o jogo, mas os jogadores lhe ofereceram um minuto de silêncio e a torcida agradeceu o espetáculo com uma salva de palmas.
A maioria das matérias que se pode ver, ouvir ou ler sobre o assunto enfatiza a questão de que adolescentes e até crianças têm acesso a bebidas e, aproveitando a deixa do amigo Róbson Freitas, 17: "A gente tinha bebido antes do jogo. Talvez por isso ele tenha caído", a mídia, aparentemente, encontrou um culpado.
Há outras suspeitas, segundo o coronel da PM Carlos Ribeiro, de que Bruno subiu nas grades de proteção para tentar pegar um dos bonés distribuídos por um dos patrocinadores do jogo, o estádio poderia estar fora das normas de segurança, mas nada é mais certo que o fato de que o torcedor havia ingerido álcool.
Ninguém afirmou que ele estivesse bêbado, até se pode imaginar que ele estava bem consciente, pois é difícil imaginar que um grupo de amigos deixe um colega em tal estado desafiar seu equilíbrio.
É certo que o garoto deveria realmente estar alcoolizado, pois a maioria das pessoas que vai a um jogo de futebol vai beber, seja cerveja, seja cachaça, seja o que for. O futebol é uma festa e festa tem bebida.
O garoto tem 17 anos, ele não tem 12, tem 17, alguns meses a mais e teria 18. Qual é a diferença tão grande entre alguns meses na vida de um adolescente. Consumir bebidas alcoólicas é crime antes dos 18 anos, mas os efeitos da cachaça que ele tomou variariam mais de uma pessoa para outra do que nos meses que faltavam para que completasse 18 e pudesse comprar bebidas legalmente.
Não se deve pensar que álcool é inofensivo à saúde e à segurança das pessoas, mesmo após a idade mínima para consumo legal, mas quase todo mundo que estava no estádio na noite do acidente deve ter tomado umas e outras e isso acontece em todos os jogos, em todos os anos e não há um festival de torcedores caindo de maduro das arquibancadas.
Ainda bem que o repórter, ávido por encontrar um culpado, não perguntou: "Ele já usou maconha?". O amigo inocente poderia ter respondido que sim, então teríamos a maconha como culpada, talvez a maconha que o garoto tivesse fumado dois dias antes.
De qualquer forma, a solução até para os acidentes é mais polícia, pois é necessário vigiar melhor para que adolescentes de 17 anos não consigam adquirir bebida alcoólica de vendedores ambulantes nos estádios. Não há como não rir, para não chorar é claro.
É difícil imaginar um mundo sem drogas, lícitas ou não, as pessoas enlouqueceriam um dia após o outro, talvez muito mais gente morreria vítima de queda de lugares altos, mas queda intencional.
Não foi a bebida, não foi o boné e não foram as muretas do estádio dentro das normas. A razão maior do acidente foi a imprudência, que nasce do desejo de se arriscar, de sentir frio na barriga, de desafiar a morte. Talvez uma forma de se provar que se está vivo.
O resto, provavelmente, foi acidente, trágico, mas obra do acaso, acontece, às vezes em tom de espetáculo. Seria mais charmoso se o garoto tivesse um bilhete de despedida em suas mãos, mas não tinha, não há muito que encompridar, morreu no intervalo atrapalhando o jogo, mas os jogadores lhe ofereceram um minuto de silêncio e a torcida agradeceu o espetáculo com uma salva de palmas.
quinta-feira, julho 21, 2005
Exposição em tempos de Orkut
O Orkut pode ser observado apenas como uma excelente ferramenta para manutenção e realização do networking, termo em inglês importado que pode ser traduzido como a manutenção deliberada de relacionamentos sociais com o objetivo de tirar proveito disso no presente ou no futuro, proveito que pode ser uma indicação de recolocação, por exemplo.
Pode ser observado também como uma grande agenda de contatos pública, que desnuda o participante a partir de seus relacionamentos, a grande materialização do dito "diga-me com quem anda e lhe direi que é", o que pode ser bom ou ruim.
O mais interessante, contudo, é a forma como o Orkut tem se mostrado um espaço para gentilezas, para demonstrações de afeto entre pessoas que não tem mais ou às vezes jamais tiveram grande intimidade, um meio simples e direto para dizer que se lembrou, ou que foi lembrado pelo próprio Orkut, de determinada pessoa.
Essa afetividade pode parecer falaciosa, mentirosa, superficial, mas também há de se reconhecer que algumas vezes pode ser também verdadeira, sincera e até profunda, o que também pode ser considerado verdade na maioria dos espaços de socialização tais como a escola, o trabalho ou mesmo a família.
Com tudo isso é claro que o Orkut promove a exposição dos indivíduos e recompensa isso, pois essa exposição promove o cuidado dos outros participantes em relação aos sentimentos vivenciados, promove o debate em relação às idéias expressadas, promove a materilização da lembrança alheia, que de alheia passa a nossa em um simples scrap (palavra que permaneceu como sinônimo de recado no Orkut mesmos após sua localização - o termo que significa que o sistema se torna local, normalmente com idioma, data/hora e moeda locais).
A exposição implica em riscos, pode ser complicado ter muita gente sabendo muito sobre si, muita gente faz grande alarde sobre isso até nos jornais, quem sabe até em artigos científicos, mas são essas mesmas pessoas que normalmente condenam a vida nas grandes cidades, os relacionamentos apoiados em tecnologia e, muitas vezes, endeusam saudosamente o tempo das cidades pequenas, em que haviam verdadeiras comunidades.
É olhando para as comunidades das cidades pequenas, como nas pequenas cidades do interior, e para o Orkut que se pode perceber o quão paradoxal pode ser o Orkut, pois não são superexpostas as pessoas que moram em uma pequena cidade do interior? Não é no interior que todas as pessoas sabem de tudo de todo mundo, incluindo aspectos da vida privada?
Em cidades do interior muitas vezes a exposição exagerada foge à previsão do usuário do Orkut, mas também isso não acontece nas pequenas cidades em que a vida privada pode se tornar pública em poucos dias?
E não é exatamente essa exposição que também proporciona apoio, sustentação para a vida em comunidade? Não é justamente se perceber conhecedor, participante e de certa forma responsável pela vida de todos que forma o espírito de comunidade?
O Orkut, ao promover essa exposição, pode estar justamente levantando esse paradoxo para a vida nas grandes metrópoles, para a vida globalizada, tornando possível participar mais da vida do outro, tornando possível vivenciar suas angústias, suas dúvidas, seus pesares.
Será que o Orkut, ao favorecer a exposição entre os indivíduos, não os proporciona maior intimidade e, com isso, além de saber e expressar sentimentos, também não favorece entre os amigos uma retomada do sentimento de responsabilidade sobre a vida do outro? Um sentimento de que se precisa ajudar quando alguém precisa?
É claro que isso implica em muitas vezes invadir o privado do outro, mas não é essa, às vezes, a única maneira de se ajudar esse outro? Claro, deve-se viver também boa parte das desvantagens da convivência em uma pequena comunidade. Quem já morou, mesmo que por algum tempo, em cidade pequena, deve saber bem as possibilidades ruins da intimidade coletiva.
Não há mal sem bem e nem bem sem mal. Até agora parece que o Orkut pode ajudar as pessoas a se tornarem mais próximas que antes, a se comunicarem com mais freqüência que antes.
Se se perguntava como seriam os sistemas de telefonia móvel se apropriando de mais características dos sistemas de mensagens instantâneas (ICQ, AIM, Messenger...), tais como informar o status do contato (ocupado, ausente, não perturbe...), agora se pergunta como seriam os telefones se fossem integrados ao Orkut.
Pode ser observado também como uma grande agenda de contatos pública, que desnuda o participante a partir de seus relacionamentos, a grande materialização do dito "diga-me com quem anda e lhe direi que é", o que pode ser bom ou ruim.
O mais interessante, contudo, é a forma como o Orkut tem se mostrado um espaço para gentilezas, para demonstrações de afeto entre pessoas que não tem mais ou às vezes jamais tiveram grande intimidade, um meio simples e direto para dizer que se lembrou, ou que foi lembrado pelo próprio Orkut, de determinada pessoa.
Essa afetividade pode parecer falaciosa, mentirosa, superficial, mas também há de se reconhecer que algumas vezes pode ser também verdadeira, sincera e até profunda, o que também pode ser considerado verdade na maioria dos espaços de socialização tais como a escola, o trabalho ou mesmo a família.
Com tudo isso é claro que o Orkut promove a exposição dos indivíduos e recompensa isso, pois essa exposição promove o cuidado dos outros participantes em relação aos sentimentos vivenciados, promove o debate em relação às idéias expressadas, promove a materilização da lembrança alheia, que de alheia passa a nossa em um simples scrap (palavra que permaneceu como sinônimo de recado no Orkut mesmos após sua localização - o termo que significa que o sistema se torna local, normalmente com idioma, data/hora e moeda locais).
A exposição implica em riscos, pode ser complicado ter muita gente sabendo muito sobre si, muita gente faz grande alarde sobre isso até nos jornais, quem sabe até em artigos científicos, mas são essas mesmas pessoas que normalmente condenam a vida nas grandes cidades, os relacionamentos apoiados em tecnologia e, muitas vezes, endeusam saudosamente o tempo das cidades pequenas, em que haviam verdadeiras comunidades.
É olhando para as comunidades das cidades pequenas, como nas pequenas cidades do interior, e para o Orkut que se pode perceber o quão paradoxal pode ser o Orkut, pois não são superexpostas as pessoas que moram em uma pequena cidade do interior? Não é no interior que todas as pessoas sabem de tudo de todo mundo, incluindo aspectos da vida privada?
Em cidades do interior muitas vezes a exposição exagerada foge à previsão do usuário do Orkut, mas também isso não acontece nas pequenas cidades em que a vida privada pode se tornar pública em poucos dias?
E não é exatamente essa exposição que também proporciona apoio, sustentação para a vida em comunidade? Não é justamente se perceber conhecedor, participante e de certa forma responsável pela vida de todos que forma o espírito de comunidade?
O Orkut, ao promover essa exposição, pode estar justamente levantando esse paradoxo para a vida nas grandes metrópoles, para a vida globalizada, tornando possível participar mais da vida do outro, tornando possível vivenciar suas angústias, suas dúvidas, seus pesares.
Será que o Orkut, ao favorecer a exposição entre os indivíduos, não os proporciona maior intimidade e, com isso, além de saber e expressar sentimentos, também não favorece entre os amigos uma retomada do sentimento de responsabilidade sobre a vida do outro? Um sentimento de que se precisa ajudar quando alguém precisa?
É claro que isso implica em muitas vezes invadir o privado do outro, mas não é essa, às vezes, a única maneira de se ajudar esse outro? Claro, deve-se viver também boa parte das desvantagens da convivência em uma pequena comunidade. Quem já morou, mesmo que por algum tempo, em cidade pequena, deve saber bem as possibilidades ruins da intimidade coletiva.
Não há mal sem bem e nem bem sem mal. Até agora parece que o Orkut pode ajudar as pessoas a se tornarem mais próximas que antes, a se comunicarem com mais freqüência que antes.
Se se perguntava como seriam os sistemas de telefonia móvel se apropriando de mais características dos sistemas de mensagens instantâneas (ICQ, AIM, Messenger...), tais como informar o status do contato (ocupado, ausente, não perturbe...), agora se pergunta como seriam os telefones se fossem integrados ao Orkut.
quarta-feira, julho 20, 2005
Vergonha sadia
Em 1950 o Brasil se viu imerso em imenso sentimento de vergonha quando a superfavorita seleção brasileira perde a final da copa do mundo de futebol para o Uruguai no estádio do Maracanã, na única copa realizada no Brasil.
Acreditar, sentir-se representando e se frustrar com a derrota no jogo se transforma em sentimento de vergonha que, pelo rádio, comove todo o país. A derrota em 50 talvez tenha sido a maior derrota do futebol brasileiro de todos os tempos.
Muitos dos que vivenciaram a derrota ainda estão vivos para testemunhar, mas a maioria das pessoas não era nem nascida em 1950, já se vão duas, três, quatro gerações a partir dos que estavam acompanhando a partida, seja no estádio ou seja no rádio.
O sentimento de vergonha relacionado à copa de 50 praticamente não existe mais, o futebol brasileiro superou o trauma, é hoje reconhecido como o melhor do mundo e acumula mais copas do mundo que qualquer outra seleção.
Vergonha por que o time perdeu tem o seu valor, se é a seleção em casa tem ainda mais valor, mas as competições esportivas não contém a aposta de futura de 100 milhões de pessoas. Lula traz em sua bagagem essa aposta e por isso o sentimento do brasileiro em relação à crise política hoje é muito mais grave que a vergonha da derrota no esporte.
A vergonha que assola hoje o Brasil é muito mais séria e muito mais sadia, muito mais importante. A vergonha que hoje assola o Brasil é a vergonha da confiança traída, pois estando o Partido dos Trabalhadores no poder, assume através de seu ex-tesoureiro que suas práticas eleitorais são iguais ou equivalentes à dos demais partidos brasileiros.
É sadio o constrangimento que a maioria da população vivencia hoje quando se fala em política, em mensalão, em PT, em governo Lula, talvez por que seja o primeiro governo no qual a nação se sinta representada, talvez por que Lula é um representante do povo, talvez por que o PT é o partido dos trabalhadores.
O PT não é o partido da social democracia, do liberalismo, do comunismo ou de outra denominação ideológica, é o partido dos trabalhadores, ele carrega em seu nome a representação simbólica daquele que trabalha e não do malandro. O PT não pode ser malandro.
Se o PT é malandro, se o PT não é honesto, se o PT não tem ética, se o PT não tem moral, se o PT não é correto, então o trabalhador também não é, uma vez que o PT é o seu partido, é a sua representação, é o seu símbolo.
O símbolo do trabalhador que luta há mais de um século pelo execicio de sua cidadania, por direitos sociais, às vezes por condições de trabalhos dígnas, muitas, mas muitas vezes mesmo com o próprio sangue agora é também cruz que pesa e envergonha o trabalhador, que se recusa a se aceitar enquanto malandro, ainda que sem a malicia necessária para não ser pego no exercício da contravenção, no exercício do crime.
Não é hora de fugir da vergonha, de tentar tapar o sol com a peneira. É hora de vivenciar o sentimento, entender a situação e, muito mais que iniciar uma caça às bruxas, é preciso compreender as engrenagens de um sistema que leva à corrupção.
É hora de buscar a transparência no Brasil, não só no governo, mas também nas empresas, somente com muita transparência é que se pode evitar a repetição recorrente de crises como a vivida hoje no Brasil, que de inédita só tem os péssimos atores, amadores e incapazes por isso de encenar satisfatóriamente a mesma peça encenada no Brasil há mais de 100 anos.
Acreditar, sentir-se representando e se frustrar com a derrota no jogo se transforma em sentimento de vergonha que, pelo rádio, comove todo o país. A derrota em 50 talvez tenha sido a maior derrota do futebol brasileiro de todos os tempos.
Muitos dos que vivenciaram a derrota ainda estão vivos para testemunhar, mas a maioria das pessoas não era nem nascida em 1950, já se vão duas, três, quatro gerações a partir dos que estavam acompanhando a partida, seja no estádio ou seja no rádio.
O sentimento de vergonha relacionado à copa de 50 praticamente não existe mais, o futebol brasileiro superou o trauma, é hoje reconhecido como o melhor do mundo e acumula mais copas do mundo que qualquer outra seleção.
Vergonha por que o time perdeu tem o seu valor, se é a seleção em casa tem ainda mais valor, mas as competições esportivas não contém a aposta de futura de 100 milhões de pessoas. Lula traz em sua bagagem essa aposta e por isso o sentimento do brasileiro em relação à crise política hoje é muito mais grave que a vergonha da derrota no esporte.
A vergonha que assola hoje o Brasil é muito mais séria e muito mais sadia, muito mais importante. A vergonha que hoje assola o Brasil é a vergonha da confiança traída, pois estando o Partido dos Trabalhadores no poder, assume através de seu ex-tesoureiro que suas práticas eleitorais são iguais ou equivalentes à dos demais partidos brasileiros.
É sadio o constrangimento que a maioria da população vivencia hoje quando se fala em política, em mensalão, em PT, em governo Lula, talvez por que seja o primeiro governo no qual a nação se sinta representada, talvez por que Lula é um representante do povo, talvez por que o PT é o partido dos trabalhadores.
O PT não é o partido da social democracia, do liberalismo, do comunismo ou de outra denominação ideológica, é o partido dos trabalhadores, ele carrega em seu nome a representação simbólica daquele que trabalha e não do malandro. O PT não pode ser malandro.
Se o PT é malandro, se o PT não é honesto, se o PT não tem ética, se o PT não tem moral, se o PT não é correto, então o trabalhador também não é, uma vez que o PT é o seu partido, é a sua representação, é o seu símbolo.
O símbolo do trabalhador que luta há mais de um século pelo execicio de sua cidadania, por direitos sociais, às vezes por condições de trabalhos dígnas, muitas, mas muitas vezes mesmo com o próprio sangue agora é também cruz que pesa e envergonha o trabalhador, que se recusa a se aceitar enquanto malandro, ainda que sem a malicia necessária para não ser pego no exercício da contravenção, no exercício do crime.
Não é hora de fugir da vergonha, de tentar tapar o sol com a peneira. É hora de vivenciar o sentimento, entender a situação e, muito mais que iniciar uma caça às bruxas, é preciso compreender as engrenagens de um sistema que leva à corrupção.
É hora de buscar a transparência no Brasil, não só no governo, mas também nas empresas, somente com muita transparência é que se pode evitar a repetição recorrente de crises como a vivida hoje no Brasil, que de inédita só tem os péssimos atores, amadores e incapazes por isso de encenar satisfatóriamente a mesma peça encenada no Brasil há mais de 100 anos.
terça-feira, julho 19, 2005
A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor
Há muito alarde em torno dos limites e da disciplina na escola, muito alarde mesmo. Joana (nome fictício), diretora de uma escola de bairro, afirma que "o mais importante da educação são os limites" e conclui que "devem ser os mesmos em casa e na escola”.
Tal pensamento não pode ser considerado um desvario isolado, pois são muitas as pedagogas - a minoria de homens que me perdoe a hegemonia feminina na profissão - que consideram as "crianças de hoje pequenos monstros indomáveis criados por famílias desestruturadas" e a escola como tendo o papel de substituir essa família, "uma instituição falida".
É importante perceber o teor messiânico, e como tal autoritário, desse pensamento, pois ao afirmar que os limites ou regras devem ser os mesmos em casa e na escola aquela diretora defende, talvez até sem perceber, que as famílias, em suas casas, devem seguir as leis da escola, uma vez que seria inviável para a escola adotar simultaneamente as leis de todas as casas.
Do mesmo princípio autoritário decorre a relação causal estabelecida por Joana entre a educação e os limites, como se a essência da educação fosse “a capacitação para a obediência e a adequação à vigilância superior”.
Uma professora de pós-graduação na área de educação que prefere não ser identificada narra que ao facilitar encontros entre pedagogas, ouve já sem perplexidade que “tanto as práticas pedagógicas tradicionais quanto as construtivistas buscam os mesmos objetivos”, em que de forma quase unânime entre os participantes o construtivismo é definido enquanto espécie de “autoritarismo polido”.
Joana afirma que a escola que dirige é construtivista, talvez por que ser construtivista é bonito, está na moda, então a escola se diz construtivista por que os pais procuram tal palavra mágica, mas, sabendo que os pais também esperam da escola dos filhos algo parecido com o que vivenciaram há 20 ou 30 anos em suas próprias experiências, atende-os em todas as suas expectativas: denominação progressista e prática reacionária.
O confronto entre a vivência particular de uma escola e o relato de pedagogas e pesquisadores faz perceber que, talvez, não haja má fé em oferecer aos pais a mentira que desejam ouvir: a de que são construtivistas enquanto tão tradicionais quanto as freiras das escolas católicas da metade do século passado, pois é possível que boa parte das profissionais da educação acreditem, do fundo do coração, que são mesmo construtivistas.
Talvez seja necessário remover a poeira das obras de Piaget, Vygostsky e Wallon. Certamente seria de grande valia ir à livraria em busca de Paulo Freire ou até de Michael Foucault.
Tais leituras deveriam ser obrigatórias para a formação e a reciclagem de profissionais da educação e não são autores revolucionários, são fundantes do pensamento hegemônico atualmente nas ciências da educação.
Autores como Paulo Freire estão, apesar de tudo, esquecidos na prática da maioria das salas de aula e da maioria das escolas, sejam elas públicas ou privadas, de classe baixa, média ou rica, que se mantém, apesar de toda a reflexão publicada nos últimos 100 anos, extremamente autoritária.
Não há como esperar respeito e alteridade de alunos que aprendem com violência e autoritarismo. A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor na maioria das salas de aula.
A escola tem a função de facilitar o processo de socialização do indivíduo e para cumprir com essa função numa sociedade democrática a escola tem que educar para o exercício da democracia.
Não há como ensinar crianças e adolescentes a exercer a democracia em um processo de ensino-aprendizagem autoritário, em uma vivência autoritária.
Disciplina se refere ao atendimento a determinadas normas, mas pode ser extremamente ético e relevante descumprir deliberadamente normas que não possuem legitimação e as escolas estão cheias de regras que não são legitimadas por aqueles que as deveriam seguir e que, coincidentemente, deveriam ser também seus beneficiários.
Não há como pensar em ensinar e aprender sem a coerência entre o fazer e o falar.
Reproduzido em: http://pre-esferapublica.blogspot.com/2010/07/indisciplina-e-agressividade-sao.html
Tal pensamento não pode ser considerado um desvario isolado, pois são muitas as pedagogas - a minoria de homens que me perdoe a hegemonia feminina na profissão - que consideram as "crianças de hoje pequenos monstros indomáveis criados por famílias desestruturadas" e a escola como tendo o papel de substituir essa família, "uma instituição falida".
É importante perceber o teor messiânico, e como tal autoritário, desse pensamento, pois ao afirmar que os limites ou regras devem ser os mesmos em casa e na escola aquela diretora defende, talvez até sem perceber, que as famílias, em suas casas, devem seguir as leis da escola, uma vez que seria inviável para a escola adotar simultaneamente as leis de todas as casas.
Do mesmo princípio autoritário decorre a relação causal estabelecida por Joana entre a educação e os limites, como se a essência da educação fosse “a capacitação para a obediência e a adequação à vigilância superior”.
Uma professora de pós-graduação na área de educação que prefere não ser identificada narra que ao facilitar encontros entre pedagogas, ouve já sem perplexidade que “tanto as práticas pedagógicas tradicionais quanto as construtivistas buscam os mesmos objetivos”, em que de forma quase unânime entre os participantes o construtivismo é definido enquanto espécie de “autoritarismo polido”.
Joana afirma que a escola que dirige é construtivista, talvez por que ser construtivista é bonito, está na moda, então a escola se diz construtivista por que os pais procuram tal palavra mágica, mas, sabendo que os pais também esperam da escola dos filhos algo parecido com o que vivenciaram há 20 ou 30 anos em suas próprias experiências, atende-os em todas as suas expectativas: denominação progressista e prática reacionária.
O confronto entre a vivência particular de uma escola e o relato de pedagogas e pesquisadores faz perceber que, talvez, não haja má fé em oferecer aos pais a mentira que desejam ouvir: a de que são construtivistas enquanto tão tradicionais quanto as freiras das escolas católicas da metade do século passado, pois é possível que boa parte das profissionais da educação acreditem, do fundo do coração, que são mesmo construtivistas.
Talvez seja necessário remover a poeira das obras de Piaget, Vygostsky e Wallon. Certamente seria de grande valia ir à livraria em busca de Paulo Freire ou até de Michael Foucault.
Tais leituras deveriam ser obrigatórias para a formação e a reciclagem de profissionais da educação e não são autores revolucionários, são fundantes do pensamento hegemônico atualmente nas ciências da educação.
Autores como Paulo Freire estão, apesar de tudo, esquecidos na prática da maioria das salas de aula e da maioria das escolas, sejam elas públicas ou privadas, de classe baixa, média ou rica, que se mantém, apesar de toda a reflexão publicada nos últimos 100 anos, extremamente autoritária.
Não há como esperar respeito e alteridade de alunos que aprendem com violência e autoritarismo. A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor na maioria das salas de aula.
A escola tem a função de facilitar o processo de socialização do indivíduo e para cumprir com essa função numa sociedade democrática a escola tem que educar para o exercício da democracia.
Não há como ensinar crianças e adolescentes a exercer a democracia em um processo de ensino-aprendizagem autoritário, em uma vivência autoritária.
Disciplina se refere ao atendimento a determinadas normas, mas pode ser extremamente ético e relevante descumprir deliberadamente normas que não possuem legitimação e as escolas estão cheias de regras que não são legitimadas por aqueles que as deveriam seguir e que, coincidentemente, deveriam ser também seus beneficiários.
Não há como pensar em ensinar e aprender sem a coerência entre o fazer e o falar.
Reproduzido em: http://pre-esferapublica.blogspot.com/2010/07/indisciplina-e-agressividade-sao.html
segunda-feira, julho 18, 2005
Que credibilidade a Internet pode perder?
Alexandre Cruz Almeida, editor da coluna Blog, do site Sobre Sites, proferiu em um artigo seu entitulado Justiça às turras com a Internet, aparentemente de outubro de 2004, a seguinte sentença: "Se chegarmos a uma situação de fato em que a internet esteja fora do alcance da lei, a rede rapidamente se converterá em uma terra de ninguém de calúnias e difamação e perderá toda a credibilidade."
Não é relevante a autoridade do referido senhor, nem de seu veículo, nem o fato da declaração já ser por demais antiga. O que importa aqui é que tal declaração ainda permanece presente, talvez forte, no imaginário de muitos cidadãos do Brasil, quiçá até do mundo, tanto entre pessoas que utilizam a Internet, como entre as que pesquisam e refletem sobre a Internet e até entre aquelas que mal sabem ao certo o que é a Internet.
É preciso, em primeiro lugar, esclarecer que a Internet não está e nem jamais esteve fora do alcance da lei. A Internet é uma infra-estrutura complexa de comunicações, especificamente de telecomunicações e portanto é oferecido ao público pelas empresas de infra-estrutura de telecomunicações.
Credibilidade da Internet é sinônimo de confiabilidade, de qualidade de rede, de garantia de tempo no ar, de tempo mínimo para reestabelecimento dos serviços, dentre outras variáveis reguladas no Brasil pela Agencia Nacional de Telecomunicações, Anatel.
O termo núvem é utilizado entre os técnicos justamente para designar toda a infra-estrutura pública de Internet, aquilo que não está sob jurisdição de uma organização ou residência, aquilo que não é área restrita, às vezes denominada intranet corporativa.
A nuvem Internet é equivalente ao ar para os serviços de comunicação via rádio difusão, tais como as Rádios, as TVs, os rádio-amadores, a telefonia móvel celular, as redes de dados sem fio, os circuitos de longa distância para telefonia, os telefones rurais, os aparelhos de rádio comunicação e tantos outros serviços que fazem uso das ondas eletromagnéticas, que também são todos regulados pela Anatel.
A Internet está plenamente ao alcance da justiça, assim como o ar, respeitando-se naturalmente os limites de atuação de cada instituição e, inclusive, os limites de atuação de cada país. O papel, suporte da imprensa propriamente dita, não está sujeito à regulação da Anatel e sua regulação é bem mais restrita que as ondas eletromágnéticas ou a Internet.
Ninguém em nosso tempo pensa, contudo, que ao escrever um texto difamatório e enviar para várias pessoas, conhecidas ou não, de forma anônima ou através de um nome falso, alguém estará pondo em risco a credibilidade do papel.
Da mesma forma que ao utilizar o telefone celular para enviar mensagens denegrindo, justa ou injustamente, determinada empresa, um indivíduo não coloca em risco a credibilidade do sistema telefônico, pior ainda, não coloca em risco a credibilidade do ar.
A Justiça, em seu papel de mantenedora do status quoi e de defensora do poder estabelecido, pode desejar cercear a expressão individual ou coletiva contra o establishment e por conta disso os grupos ou indivíduos que desejam transformar o sistema se obrigam a imprimir e distribuir seus impressos a partir de outros países ou a transmitir seus programas de rádio de outros países e tantas outras formas para se fugir à pressão de auto-renovação do sistema.
A Internet é, provavelmente, muito mais simples de rastrear e buscar criminosos do que outros meios, mas isso não melhora ou piora sua credibilidade, posto que a credibilidade da informação não está no meio e sim no responsável pela informação.
Quem tem que ter credibilidade é o Universo Online, é o Terra, é o Noolhar.com e outros veículos de informação que utilizam a Internet como meio. Da mesma forma, os indíviduos também precisam de credibilidade para com seus interlocutores. Contudo, se um indivíduo dispara mentiras usando o correio eletrõnico ou o Universo Online incorre em grave erro de apuração, isso não afeta a credibilidade da Internet, isso afeta a credibilidade daquele individou ou portal junto a seus interlocutores.
A definição do termo Internet pode abranger também as diversas comunidades e seus participantes, é uma definição possível e ampla, mas para que se use esta basta incluir no sistema de telefonia ou de rádio os interlocutores de cada mensagem e no caso do papel os escritores e leitores dos textos impressos, sem alteração relevante da análise realizada, as metáforas seguem praticamente ilesas.
Não é relevante a autoridade do referido senhor, nem de seu veículo, nem o fato da declaração já ser por demais antiga. O que importa aqui é que tal declaração ainda permanece presente, talvez forte, no imaginário de muitos cidadãos do Brasil, quiçá até do mundo, tanto entre pessoas que utilizam a Internet, como entre as que pesquisam e refletem sobre a Internet e até entre aquelas que mal sabem ao certo o que é a Internet.
É preciso, em primeiro lugar, esclarecer que a Internet não está e nem jamais esteve fora do alcance da lei. A Internet é uma infra-estrutura complexa de comunicações, especificamente de telecomunicações e portanto é oferecido ao público pelas empresas de infra-estrutura de telecomunicações.
Credibilidade da Internet é sinônimo de confiabilidade, de qualidade de rede, de garantia de tempo no ar, de tempo mínimo para reestabelecimento dos serviços, dentre outras variáveis reguladas no Brasil pela Agencia Nacional de Telecomunicações, Anatel.
O termo núvem é utilizado entre os técnicos justamente para designar toda a infra-estrutura pública de Internet, aquilo que não está sob jurisdição de uma organização ou residência, aquilo que não é área restrita, às vezes denominada intranet corporativa.
A nuvem Internet é equivalente ao ar para os serviços de comunicação via rádio difusão, tais como as Rádios, as TVs, os rádio-amadores, a telefonia móvel celular, as redes de dados sem fio, os circuitos de longa distância para telefonia, os telefones rurais, os aparelhos de rádio comunicação e tantos outros serviços que fazem uso das ondas eletromagnéticas, que também são todos regulados pela Anatel.
A Internet está plenamente ao alcance da justiça, assim como o ar, respeitando-se naturalmente os limites de atuação de cada instituição e, inclusive, os limites de atuação de cada país. O papel, suporte da imprensa propriamente dita, não está sujeito à regulação da Anatel e sua regulação é bem mais restrita que as ondas eletromágnéticas ou a Internet.
Ninguém em nosso tempo pensa, contudo, que ao escrever um texto difamatório e enviar para várias pessoas, conhecidas ou não, de forma anônima ou através de um nome falso, alguém estará pondo em risco a credibilidade do papel.
Da mesma forma que ao utilizar o telefone celular para enviar mensagens denegrindo, justa ou injustamente, determinada empresa, um indivíduo não coloca em risco a credibilidade do sistema telefônico, pior ainda, não coloca em risco a credibilidade do ar.
A Justiça, em seu papel de mantenedora do status quoi e de defensora do poder estabelecido, pode desejar cercear a expressão individual ou coletiva contra o establishment e por conta disso os grupos ou indivíduos que desejam transformar o sistema se obrigam a imprimir e distribuir seus impressos a partir de outros países ou a transmitir seus programas de rádio de outros países e tantas outras formas para se fugir à pressão de auto-renovação do sistema.
A Internet é, provavelmente, muito mais simples de rastrear e buscar criminosos do que outros meios, mas isso não melhora ou piora sua credibilidade, posto que a credibilidade da informação não está no meio e sim no responsável pela informação.
Quem tem que ter credibilidade é o Universo Online, é o Terra, é o Noolhar.com e outros veículos de informação que utilizam a Internet como meio. Da mesma forma, os indíviduos também precisam de credibilidade para com seus interlocutores. Contudo, se um indivíduo dispara mentiras usando o correio eletrõnico ou o Universo Online incorre em grave erro de apuração, isso não afeta a credibilidade da Internet, isso afeta a credibilidade daquele individou ou portal junto a seus interlocutores.
A definição do termo Internet pode abranger também as diversas comunidades e seus participantes, é uma definição possível e ampla, mas para que se use esta basta incluir no sistema de telefonia ou de rádio os interlocutores de cada mensagem e no caso do papel os escritores e leitores dos textos impressos, sem alteração relevante da análise realizada, as metáforas seguem praticamente ilesas.
domingo, julho 17, 2005
Agora é tempo de escrever meu artigo ou minha crônica do dia. Passei quase o dia todo remodelando a nossa casa, então, bem, não acompanhei o noticiário pela televisão ou pelos jornais.
Leio agora algumas notícias, mas não encontro nada tão interessante que mereça minha atenção dedicada. Continuo buscando algo interessante sobre o que me debruçar.
Sabia que hora mais, hora menos, isso ia acontecer, tenho o compromisso de escrever ao final do dia e não tenho um assunto relevante ou simplesmente que queira minha atenção.
Ao final, eu sei que não adianta muito pensar ou planejar, pois ao começar a escrita o texto domina o escritor e eu escrevo o que o texto manda e não o que quero, mas é preciso começar de algum lugar, então é isso que procuro agora, um ponto no espaço em que começar.
Leio agora algumas notícias, mas não encontro nada tão interessante que mereça minha atenção dedicada. Continuo buscando algo interessante sobre o que me debruçar.
Sabia que hora mais, hora menos, isso ia acontecer, tenho o compromisso de escrever ao final do dia e não tenho um assunto relevante ou simplesmente que queira minha atenção.
Ao final, eu sei que não adianta muito pensar ou planejar, pois ao começar a escrita o texto domina o escritor e eu escrevo o que o texto manda e não o que quero, mas é preciso começar de algum lugar, então é isso que procuro agora, um ponto no espaço em que começar.
Sexualidade sem preconceito
Durante a campanha para o segundo turno das eleições à Prefeitura de Fortaleza o candidato do PFL, Moroni Bing Torgan, que não titubeou em buscar inspiração em Getúlio Vargas e seu populismo assemelhado ao fascismo italiano de Mussoline, acreditando que comunismo era cachorro morto, optou por um discurso de perseguição aos homossexuais.
A proposta de criação de uma disciplina de educação sexual na rede municipal de ensino serviu de pretexto para o ataque à candidatura de Luizianne, por condenar o tratamento positivo que seria dado à homossexualidades em sua gestão.
Inúmeros absurdos foram levantados contra a proposta, como a de que as escolas municipais iriam ensinar homossexualismo para crianças de sete anos ou de que tratamento positivo às homossexualidades era o mesmo que dizer que o homossexual é melhor que o resto das pessoas.
Qualquer semelhança com as campanhas anti-comunismo de Vargas não pode ser encarada como mera coincidência e, embora o candidato do PFL tenha sido derrotado no segundo turno, sua votação ainda foi expressiva, o que denuncia o preconceito e a discriminação contra o diferente entre os eleitores de Fortaleza.
Numa cidade em que os assassinatos de homossexuais ocorrem com freqüência e que em determinados casos há a presença de requintes de crueldade e tortura, é absolutamente necessário que a juventude tenha acesso a um debate positivo sobre a questão da sexualidade.
É necessário que o indivíduo possa ver e vivenciar sua sexualidade sem preconceito, que as pessoas tratem da sexualidade com dignidade, de forma positiva, e isso passa pela educação formal, passa pelos meios de comunicação, passa pela arte.
O preconceito contra as homossexualidades existe e, por isso, é necessário desenvolver ações que proporcionem uma mudança, é necessário reforçar os conteúdos que afirmem que se deve ter respeito e saber viver com as diferenças.
A existência e a aceitação da campanha pelos eleitores que votaram em Moroni e talvez até pelos demais, que não sairam às ruas em protesto contra o discurso discriminatório de Moroni, mostra que não se pode fugir à polêmica, pois o preconceito, a discriminação e a violência integram as fundações de nossa sociedade.
É preciso verificar neste momento quais são as ações concretas da Prefeitura de Fortaleza para fazer cumprir seu programa com o objetivo de valorizar a diversidade e não apenas em relação à sexualidade.
A proposta de criação de uma disciplina de educação sexual na rede municipal de ensino serviu de pretexto para o ataque à candidatura de Luizianne, por condenar o tratamento positivo que seria dado à homossexualidades em sua gestão.
Inúmeros absurdos foram levantados contra a proposta, como a de que as escolas municipais iriam ensinar homossexualismo para crianças de sete anos ou de que tratamento positivo às homossexualidades era o mesmo que dizer que o homossexual é melhor que o resto das pessoas.
Qualquer semelhança com as campanhas anti-comunismo de Vargas não pode ser encarada como mera coincidência e, embora o candidato do PFL tenha sido derrotado no segundo turno, sua votação ainda foi expressiva, o que denuncia o preconceito e a discriminação contra o diferente entre os eleitores de Fortaleza.
Numa cidade em que os assassinatos de homossexuais ocorrem com freqüência e que em determinados casos há a presença de requintes de crueldade e tortura, é absolutamente necessário que a juventude tenha acesso a um debate positivo sobre a questão da sexualidade.
É necessário que o indivíduo possa ver e vivenciar sua sexualidade sem preconceito, que as pessoas tratem da sexualidade com dignidade, de forma positiva, e isso passa pela educação formal, passa pelos meios de comunicação, passa pela arte.
O preconceito contra as homossexualidades existe e, por isso, é necessário desenvolver ações que proporcionem uma mudança, é necessário reforçar os conteúdos que afirmem que se deve ter respeito e saber viver com as diferenças.
A existência e a aceitação da campanha pelos eleitores que votaram em Moroni e talvez até pelos demais, que não sairam às ruas em protesto contra o discurso discriminatório de Moroni, mostra que não se pode fugir à polêmica, pois o preconceito, a discriminação e a violência integram as fundações de nossa sociedade.
É preciso verificar neste momento quais são as ações concretas da Prefeitura de Fortaleza para fazer cumprir seu programa com o objetivo de valorizar a diversidade e não apenas em relação à sexualidade.
sábado, julho 16, 2005
Foto do jornal A Notícia (Joinville, 6 de Dezembro de 2001) sobre a performance "Não Morro Só", que une instalação, body art e performance. Nela Charles Narloch apresenta reflexão sobre a morte violenta e trágica de homossexuais.
Foto do jornal A Notícia (Joinville, 19 de julho de 1999) com a seguinte legenda: Convidado pela coordenação dos Eventos Especiais do Festival de Dança a embelezar a cidade, Narloch volta a dar o que falar. "A pintura é para manifestar como a sociedade é preconceituosa", diz o artista
sexta-feira, julho 15, 2005
Pedindo a paz sem oferecer nada em troca
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, jurou que seu país "libertará o mundo dos malvados" e o papa disse que as pessoas estão rodeadas "pelas armações dos malvados" que atentam contra sua existência e querem "destruir todos os valores humanos".
Não, infelizmente não, nem Bush, nem papa estavam se referindo à tirinha dos malvados, a mais nova droga dos blogados, orkutados e googleados - não necessariamente nessa mesma ordem, uma pena, pois é bom quando pessoas de talento se tornam famosas.
Será que umas tirinhas em inglês e alemão ajudariam malvadão e malvadinho, que não são nem girassóis, nem margaridas, a ganharem fama mundial? Em tempo de tanta luta do bem contra o mal as tirinhas de André Dahmer fazem muito mais que divertir, são, como o próprio autor as define "um tapa na cara".
Para sintonizar os malvados ajuste seu dial para http://www.malvados.com.br e não deixe de conferir a seção "Proibidões" - ou o melhor dos Malvados. Depois de ver a tirinha do dia é inevitável seguir em busca de mais e mais, pois há um acervo viciante de Malvados.
Cena recorrente no universo dos malvados são as manifestações "pedindo a paz sem oferecer nada em troca" do malvadinho ou dos malvadinhos, sem dúvida uma sacada brilhante de André, que desnuda em um quadrinho a hipocrisia, tanto da luta anti-terrorismo, quanto da luta contra a violência urbana no Brasil, talvez no mundo.
Votos de longevidade ao Malvados, que estão sendo publicados no B do Jornal do Brasil desde que o Ziraldo assumiu a editoria. Como alguém disse na comunidade orkut Clube dos Malvados, tomara que em alguns dias os malvados se tornem atração nos Fantástico.
Vale a pena conferir, falta agora o André Dahmer disponibilizar os Malvados por RSS, da mesma forma que se pode acessar este blog apontando um newsreader como o Thunderbird para para http://www.anjomecanico.blogspot.com/atom.xml.
Não, infelizmente não, nem Bush, nem papa estavam se referindo à tirinha dos malvados, a mais nova droga dos blogados, orkutados e googleados - não necessariamente nessa mesma ordem, uma pena, pois é bom quando pessoas de talento se tornam famosas.
Será que umas tirinhas em inglês e alemão ajudariam malvadão e malvadinho, que não são nem girassóis, nem margaridas, a ganharem fama mundial? Em tempo de tanta luta do bem contra o mal as tirinhas de André Dahmer fazem muito mais que divertir, são, como o próprio autor as define "um tapa na cara".
Para sintonizar os malvados ajuste seu dial para http://www.malvados.com.br e não deixe de conferir a seção "Proibidões" - ou o melhor dos Malvados. Depois de ver a tirinha do dia é inevitável seguir em busca de mais e mais, pois há um acervo viciante de Malvados.
Cena recorrente no universo dos malvados são as manifestações "pedindo a paz sem oferecer nada em troca" do malvadinho ou dos malvadinhos, sem dúvida uma sacada brilhante de André, que desnuda em um quadrinho a hipocrisia, tanto da luta anti-terrorismo, quanto da luta contra a violência urbana no Brasil, talvez no mundo.
Votos de longevidade ao Malvados, que estão sendo publicados no B do Jornal do Brasil desde que o Ziraldo assumiu a editoria. Como alguém disse na comunidade orkut Clube dos Malvados, tomara que em alguns dias os malvados se tornem atração nos Fantástico.
Vale a pena conferir, falta agora o André Dahmer disponibilizar os Malvados por RSS, da mesma forma que se pode acessar este blog apontando um newsreader como o Thunderbird para para http://www.anjomecanico.blogspot.com/atom.xml.
quinta-feira, julho 14, 2005
Voltaire, Da Vinci, Potter e o Papa
Às vésperas do lançamento do livro "Harry Potter and the Half Blood Prince", de J.K. Rowling, que tem lançamento marcado para 16 de julho, a escritora alemã Gabriele Kuby, de "Harry Potter: Good or Evil", divulgou trechos de duas cartas escritas a ela pelo papa Bento XVI em 2003, quando ainda era cardeal.
Kuby, católica fervorosa, atribui ao papa as afirmações de que os livros de Harry Potter exercem sedução sutil sobre os leitores jovens e distorcem o cristianismo na alma antes de ele ter tempo de se desenvolver de maneira adequada. O papa, então cardeal, teria autorizado na época a divulgação de seus comentários.
Ainda no início deste ano algumas autoridades do Vaticano condenaram o blockbuster "O Código Da Vinci", de Dan Brown, cujo enredo se refere a uma conspiração católica, que também foi classificado como uma distorção histórica absurda e que é repleto de mentiras baratas, mas o principal a se destacar é que o cardeal Tarcisio Bertone recomendou que as livrarias católicas o retirassem das estantes.
Pode soar clichê retomar Voltaire a essa altura dos tempos com seu aforismo clássico: “Eu não concordo com o que você diz, mas defendo, mesmo até à morte, o seu direito de se exprimir!”, mas esse é o sentimento que floresce diante da ação inquisitória das autoridades católicas citadas.
É certo que tais declarações contribuem para ampliar o interesse pelas obras atacadas, assim como este post, chegando a parecer quase um truque de divulgação no melhor estilo Bruxa de Blair ou Matrix, mas não cabe a ninguém, seja do Estado, seja da Igreja, definir o que pode ou não estar disponível para os leitores.
Os leitores, crianças, jovens ou adultos, têm o direito e a necessidade de se expor aos mais diferentes estímulos, vivências ou idéias, precisam vivenciar a diversidade e a pluralidade do mundo para que possam aprender também a respeitar essa diversidade.
Aprender que bem e mal se misturam, que ambos seduzem e que ambos estão presentes dentro de cada um é fundamental para que aprender o que deveria ser o valor principal de qualquer religião: o respeito à vida, seja qual for o pensamento, seja qual for o credo.
É tempo de construir uma vida repleta de sim, de aceitação e não uma negação da vida, uma negação do outro diferente. A repressão e a discriminação não ajudam a construir a paz e a segurança como tanto se fala, pelo contrário, inflamam o ódio e incentivam a violência entre as pessoas.
Kuby, católica fervorosa, atribui ao papa as afirmações de que os livros de Harry Potter exercem sedução sutil sobre os leitores jovens e distorcem o cristianismo na alma antes de ele ter tempo de se desenvolver de maneira adequada. O papa, então cardeal, teria autorizado na época a divulgação de seus comentários.
Ainda no início deste ano algumas autoridades do Vaticano condenaram o blockbuster "O Código Da Vinci", de Dan Brown, cujo enredo se refere a uma conspiração católica, que também foi classificado como uma distorção histórica absurda e que é repleto de mentiras baratas, mas o principal a se destacar é que o cardeal Tarcisio Bertone recomendou que as livrarias católicas o retirassem das estantes.
Pode soar clichê retomar Voltaire a essa altura dos tempos com seu aforismo clássico: “Eu não concordo com o que você diz, mas defendo, mesmo até à morte, o seu direito de se exprimir!”, mas esse é o sentimento que floresce diante da ação inquisitória das autoridades católicas citadas.
É certo que tais declarações contribuem para ampliar o interesse pelas obras atacadas, assim como este post, chegando a parecer quase um truque de divulgação no melhor estilo Bruxa de Blair ou Matrix, mas não cabe a ninguém, seja do Estado, seja da Igreja, definir o que pode ou não estar disponível para os leitores.
Os leitores, crianças, jovens ou adultos, têm o direito e a necessidade de se expor aos mais diferentes estímulos, vivências ou idéias, precisam vivenciar a diversidade e a pluralidade do mundo para que possam aprender também a respeitar essa diversidade.
Aprender que bem e mal se misturam, que ambos seduzem e que ambos estão presentes dentro de cada um é fundamental para que aprender o que deveria ser o valor principal de qualquer religião: o respeito à vida, seja qual for o pensamento, seja qual for o credo.
É tempo de construir uma vida repleta de sim, de aceitação e não uma negação da vida, uma negação do outro diferente. A repressão e a discriminação não ajudam a construir a paz e a segurança como tanto se fala, pelo contrário, inflamam o ódio e incentivam a violência entre as pessoas.
quarta-feira, julho 13, 2005
Arapongas, bestas-feras e palhaços
Depois de chamar os parlamentares de "besta-feras" e o Congresso Nacional de "picadeiro" em mensagem que circulou na intranet da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, no último dia 6, Mauro Marcelo de Lima e Silva, diretor geral da Abin, pede demissão.
Mesmo que as personagens envolvidas se tratassem de funcionários do setor de segurança de uma empresa privada se referindo à assembléia geral de acionistas, que portanto não estivessem ligados às principais instituições da república, seria difícil entender como alguém chega com tamanha imaturidade ao cargo de diretor de uma instituição com o porte e a representatividade da Abin.
É verdade que mensagens internas da Abin, quer circulem pela intranet, quer em qualquer outro meio, não deveriam vazar, mas também é óbvio que da mesma forma que existe a espionagem, existe a contra-espionagem e isso qualquer estagiário de araponga deveria saber.
Tal qual reclamou o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP) a nota é realmente inaceitável, é um desrespeito ao Congresso Nacional, é um desrespeito ao país, a demissão é realmemente a menor punição necessária para tal sandice, mas não é apenas isso.
Não se trata de questão restrita apenas ao pessoal e ao personificado, trata-se, antes de mais nada, de questão institucional gravíssima, uma vez que além de ser Mauro Marcelo, o autor da nota, no momento em que a redige é também diretor geral do serviço secreto, está legitimado a falar em nome da instituição e, dessa forma, a Abin é responsável pela íntegra da mensagem enquanto instituição.
Contudo, as nomeações para cargos de confiança não são realizadas por eleições entre os servidores da instituição. A diretoria e o diretor geral nem sempre estão em plena consonância com o pensamento hegemônico da instituição, mas, independente disso, é ele quem vai nomear, direta ou indiretamente, todos os cargos de confiança da instituição, naturamente com pessoas de sua confiança. Pessoas cujo pensamento se assemelhe ao seu.
O mais grave, entretanto, é que o diretor geral da Abin, como qualquer outro cargo de confiança do Executivo, é nomeado por um superior, que é nomeado também por um superior, até chegar ao Presidente da República. A partir do pensamento e da personalidade de um único homem é definido, em princípio, todo o funcionamento do executivo, pois todos os cargos de confiança são nomeados direta ou indiretamente por ele. Um único homem define como funciona toda a máquina governamental.
O Presidente da República, por sua vez, é eleito pelos brasileiros aptos e obrigados a votar, pela maioria da população jovem e adulta da nação: o Brasil. Mais da metade dos eleitores brasileiros se identificaram, em maior ou menor grau com a personalidade eleita para o cargo de chefe supremo da nação e portanto se identificam, quer queira ou quer não, com cada ministro, secretário e diretor da máquina administrativa estatal.
Dessa forma deve-se compreender que é a nação brasileira que desrespeita o Congresso Nacional, pois o diretor geral demitido da Abin ao redigir sua mensagem não a redigiu somente em seu próprio nome, mas em nome da Abin, do Executivo e de cada brasileiro, mas não é o Congresso Nacional também representante dessa mesma nação? Desses mesmos eleitores?
Quantos brasileiros, embora indignados com tal texto originado de orgão do executivo, não concordam em gênero, número e grau com a classificação atribuída ao Congresso Nacional e seus congressistas, muitos talvez até mentalizando o grande complexo de entretenimento formado por Legislativo, Executivo e Judiciário?
Do Judiciário nem adianta reclamar, pois que para a sociedade intervir nos desmandos do terceiro poder é preciso talvez uma nova Constituição e essa depende da renovação do Legislativo e do Executivo, mas os últimos já representam e personificam essa sociedade, são sua própria expressão.
É a própria sociedade brasileira que não respeita a si mesma, que se transforma em nação-circo, que define seus representantes enquanto mitos mitos bons ou maus, heróis ou demônios e se assume enquanto palhaços deste mesmo picadeiro chamado Brasil, pois o papel que cada um de nós representa pode ser até diferente, mas a história, essa é a mesma de sempre.
Mesmo que as personagens envolvidas se tratassem de funcionários do setor de segurança de uma empresa privada se referindo à assembléia geral de acionistas, que portanto não estivessem ligados às principais instituições da república, seria difícil entender como alguém chega com tamanha imaturidade ao cargo de diretor de uma instituição com o porte e a representatividade da Abin.
É verdade que mensagens internas da Abin, quer circulem pela intranet, quer em qualquer outro meio, não deveriam vazar, mas também é óbvio que da mesma forma que existe a espionagem, existe a contra-espionagem e isso qualquer estagiário de araponga deveria saber.
Tal qual reclamou o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP) a nota é realmente inaceitável, é um desrespeito ao Congresso Nacional, é um desrespeito ao país, a demissão é realmemente a menor punição necessária para tal sandice, mas não é apenas isso.
Não se trata de questão restrita apenas ao pessoal e ao personificado, trata-se, antes de mais nada, de questão institucional gravíssima, uma vez que além de ser Mauro Marcelo, o autor da nota, no momento em que a redige é também diretor geral do serviço secreto, está legitimado a falar em nome da instituição e, dessa forma, a Abin é responsável pela íntegra da mensagem enquanto instituição.
Contudo, as nomeações para cargos de confiança não são realizadas por eleições entre os servidores da instituição. A diretoria e o diretor geral nem sempre estão em plena consonância com o pensamento hegemônico da instituição, mas, independente disso, é ele quem vai nomear, direta ou indiretamente, todos os cargos de confiança da instituição, naturamente com pessoas de sua confiança. Pessoas cujo pensamento se assemelhe ao seu.
O mais grave, entretanto, é que o diretor geral da Abin, como qualquer outro cargo de confiança do Executivo, é nomeado por um superior, que é nomeado também por um superior, até chegar ao Presidente da República. A partir do pensamento e da personalidade de um único homem é definido, em princípio, todo o funcionamento do executivo, pois todos os cargos de confiança são nomeados direta ou indiretamente por ele. Um único homem define como funciona toda a máquina governamental.
O Presidente da República, por sua vez, é eleito pelos brasileiros aptos e obrigados a votar, pela maioria da população jovem e adulta da nação: o Brasil. Mais da metade dos eleitores brasileiros se identificaram, em maior ou menor grau com a personalidade eleita para o cargo de chefe supremo da nação e portanto se identificam, quer queira ou quer não, com cada ministro, secretário e diretor da máquina administrativa estatal.
Dessa forma deve-se compreender que é a nação brasileira que desrespeita o Congresso Nacional, pois o diretor geral demitido da Abin ao redigir sua mensagem não a redigiu somente em seu próprio nome, mas em nome da Abin, do Executivo e de cada brasileiro, mas não é o Congresso Nacional também representante dessa mesma nação? Desses mesmos eleitores?
Quantos brasileiros, embora indignados com tal texto originado de orgão do executivo, não concordam em gênero, número e grau com a classificação atribuída ao Congresso Nacional e seus congressistas, muitos talvez até mentalizando o grande complexo de entretenimento formado por Legislativo, Executivo e Judiciário?
Do Judiciário nem adianta reclamar, pois que para a sociedade intervir nos desmandos do terceiro poder é preciso talvez uma nova Constituição e essa depende da renovação do Legislativo e do Executivo, mas os últimos já representam e personificam essa sociedade, são sua própria expressão.
É a própria sociedade brasileira que não respeita a si mesma, que se transforma em nação-circo, que define seus representantes enquanto mitos mitos bons ou maus, heróis ou demônios e se assume enquanto palhaços deste mesmo picadeiro chamado Brasil, pois o papel que cada um de nós representa pode ser até diferente, mas a história, essa é a mesma de sempre.
O maior elogio que poderia receber de alguém, ser posto lado a lado com ele, diplomata, compositor, cronista, literato, cantor e, claro, poeta, o poetinha, o grande vininha, o Vinícios de Morais. Não vou dizer que não mereço, é óbvio, é claro que não, mas não posso negar que me envaideço, tamanho o elogio. Saravá!
terça-feira, julho 12, 2005
Fim da esperança ou fim da salvação?
Em 1889 um golpe de estado implantou a república, uma parte daqueles que deram suporte ao golpe desejavam um governo de exceção, também chamado um governo de fato, ou seja, um governo que se opõe ao estado de direito, portanto constitucional. Em outras palavras, desejavam trocar um imperador por um ditador.
O Estado brasileiro caminha exatmente assim, alternando governo constitucionais e governos de exceção, alguns menos sanguinários, outros mais, alguns mais reponsáveis com as finanças, outros menos, mas todos, se não eram um representante escolhido pelas oligarquias, eram obrigados a negociar com elas.
Não foi apenas um o salvador do Brasil, de Hermes da Fonseca, Floriano Peixoto, passando por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Goubery, Costa e Silva, chegando em Tancredo Neves, Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.
Lula traz um diferencial, é o primeiro presidente de origem popular, um sindicalista, que construiu sua história na luta pelo exercício da cidadania, na luta por melhores condições para o trabalhador, na luta por democracia e pelo respeito aos direitos humanos. Não se pode negar esse diferencial, mas Lula também é um salvador.
O presidente é eleito para salvar as pessoas. A esperança, infelizmente, não é a esperança de que a população assuma a governança do país, assuma o exercício da cidadania, é a esperança de que alguém resolva o problema da fome, do desemprego, da corrupção e tantos outros como num passe de mágica.
Agora Lula frustra a sociedade, que descobre que o governo continua o mesmo, que o Estado brasileiro continua corrupto, que a ausência de transparência permanece como necessidade para a estabilidade política, Lula também é corrupto. A população se depara com o fato de que não há ninguém em quem confiar.
Esse é talvez o passo mais importante da história da democracia brasileira: a sociedade compreender que não é possível acreditar em salvação, que um salvador resolverá com todo o seu poder todos os problemas do país.
O mais importante é compreender que é necessário aperfeiçoar a democracia, aperfeiçoar a participação da sociedade nas decisões governamentais, pois se o que a maioria deseja é a república presidencialista nas condições nos moldes em que existem hoje, é importante que essas instituições sejam fortalecidas em detrimento à esperança depositada nessa ou naquela personagem.
Não há nenhum salvador para o Brasil, pois a solução está na participação, no exercício da cidadania, na tomada de poder por parte da população, na busca de soluções reais para seus problemas dentro das comunidades e na escolha de representantes legítimos em cada instância governativa.
A descrença em qualquer salvador para o Brasil é o grande legado a ser deixado pelo, assim se deseja, último dos salvadores da nação brasileira.
O Estado brasileiro caminha exatmente assim, alternando governo constitucionais e governos de exceção, alguns menos sanguinários, outros mais, alguns mais reponsáveis com as finanças, outros menos, mas todos, se não eram um representante escolhido pelas oligarquias, eram obrigados a negociar com elas.
Não foi apenas um o salvador do Brasil, de Hermes da Fonseca, Floriano Peixoto, passando por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Goubery, Costa e Silva, chegando em Tancredo Neves, Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.
Lula traz um diferencial, é o primeiro presidente de origem popular, um sindicalista, que construiu sua história na luta pelo exercício da cidadania, na luta por melhores condições para o trabalhador, na luta por democracia e pelo respeito aos direitos humanos. Não se pode negar esse diferencial, mas Lula também é um salvador.
O presidente é eleito para salvar as pessoas. A esperança, infelizmente, não é a esperança de que a população assuma a governança do país, assuma o exercício da cidadania, é a esperança de que alguém resolva o problema da fome, do desemprego, da corrupção e tantos outros como num passe de mágica.
Agora Lula frustra a sociedade, que descobre que o governo continua o mesmo, que o Estado brasileiro continua corrupto, que a ausência de transparência permanece como necessidade para a estabilidade política, Lula também é corrupto. A população se depara com o fato de que não há ninguém em quem confiar.
Esse é talvez o passo mais importante da história da democracia brasileira: a sociedade compreender que não é possível acreditar em salvação, que um salvador resolverá com todo o seu poder todos os problemas do país.
O mais importante é compreender que é necessário aperfeiçoar a democracia, aperfeiçoar a participação da sociedade nas decisões governamentais, pois se o que a maioria deseja é a república presidencialista nas condições nos moldes em que existem hoje, é importante que essas instituições sejam fortalecidas em detrimento à esperança depositada nessa ou naquela personagem.
Não há nenhum salvador para o Brasil, pois a solução está na participação, no exercício da cidadania, na tomada de poder por parte da população, na busca de soluções reais para seus problemas dentro das comunidades e na escolha de representantes legítimos em cada instância governativa.
A descrença em qualquer salvador para o Brasil é o grande legado a ser deixado pelo, assim se deseja, último dos salvadores da nação brasileira.
Às vezes a gente odeia uma figura mesmo antes de conhecer e não sabe direito o motivo, tenta resolver a dissonância com algo bobo e sem sentido, mas nossa explicação não resiste ao primeiro confronto direto...
Pô, a figura vai publicizar nossas facetas que desejamos manter escondidas, vai chamar a atenção para aquilo que a gente quer que permaneça discreto! A figura ainda se acha o máximo fazendo isso! Como explicar para os amigos que a gente odeia a figura justamente por exalar aquilo que somos?
Às vezes isso dá paixão também...
Pô, a figura vai publicizar nossas facetas que desejamos manter escondidas, vai chamar a atenção para aquilo que a gente quer que permaneça discreto! A figura ainda se acha o máximo fazendo isso! Como explicar para os amigos que a gente odeia a figura justamente por exalar aquilo que somos?
Às vezes isso dá paixão também...
Para Nathy,
Eu sinto muito, sinto de verdade, não quero falar muito, pois só o afeto verdadeiro é capaz de acalmar o coração, que toma todo o corpo para si e ainda assim não se contenta de tão apertado, que só um abraço apertado, prolongado e com amor para sempre é capaz de acalmar um instante.
Não estou ao seu lado, deixei de estar, tenho minhas desculpas, elas não servem de muita coisa, não são mais que desculpas, ainda que meu pensamento tenha estado com você tantas vezes desde então. Não estou presente e sinto por isso, não estar presente quando você mais precisa, mas há pouco a fazer a essa altura.
Não há nada além do acalanto de quem ama de verdade, nada além de vivenciar o que maltrata, o carinho de quem está perto, a energia de quem está longe.
Talvez escrever, talvez pintar, às vezes gritar, girar, até dançar, que nem toda dança é de alegria. Talvez contemplar à beira da praia as ondas que vão e vem carregando um pouco do sofrer que brota, esperar que todo o dia se passe a cada minuto.
Não se assuste com a vontade de parar sentada olhando o tempo, que é tempo de viver e não de fazer, é tempo de passar, de passar a alegria, a tristeza, a agonia e a certeza. É tempo de perceber que o amor não passa, que o amor fica, que o amor, ah! o amor...
Enquanto o amor se finca bem dentro da gente, o mundo passa devagar ao longe, como se nada tivesse a ver com nossa vida. E se não há nada a fazer para sanar a dor, por que fazer alguma coisa?
Tudo que nos resta é sentir tudo e com toda a intensidade, deixar que as lagrimas esvaziem nossa tristeza, deixar que dor saia por cada poro de nosso corpo inteiro.
É preciso sentir, é preciso ver, é preciso ouvir, é preciso cheirar. É preciso ver o mar, é preciso ouvir o vento, é preciso cheirar a relva. É preciso sentir o amor que nos aquece e o que nos mata. Podemos fazer isso, por que não?
Não estou ao seu lado, deixei de estar, tenho minhas desculpas, elas não servem de muita coisa, não são mais que desculpas, ainda que meu pensamento tenha estado com você tantas vezes desde então. Não estou presente e sinto por isso, não estar presente quando você mais precisa, mas há pouco a fazer a essa altura.
Não há nada além do acalanto de quem ama de verdade, nada além de vivenciar o que maltrata, o carinho de quem está perto, a energia de quem está longe.
Talvez escrever, talvez pintar, às vezes gritar, girar, até dançar, que nem toda dança é de alegria. Talvez contemplar à beira da praia as ondas que vão e vem carregando um pouco do sofrer que brota, esperar que todo o dia se passe a cada minuto.
Não se assuste com a vontade de parar sentada olhando o tempo, que é tempo de viver e não de fazer, é tempo de passar, de passar a alegria, a tristeza, a agonia e a certeza. É tempo de perceber que o amor não passa, que o amor fica, que o amor, ah! o amor...
Enquanto o amor se finca bem dentro da gente, o mundo passa devagar ao longe, como se nada tivesse a ver com nossa vida. E se não há nada a fazer para sanar a dor, por que fazer alguma coisa?
Tudo que nos resta é sentir tudo e com toda a intensidade, deixar que as lagrimas esvaziem nossa tristeza, deixar que dor saia por cada poro de nosso corpo inteiro.
É preciso sentir, é preciso ver, é preciso ouvir, é preciso cheirar. É preciso ver o mar, é preciso ouvir o vento, é preciso cheirar a relva. É preciso sentir o amor que nos aquece e o que nos mata. Podemos fazer isso, por que não?
segunda-feira, julho 11, 2005
Começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria
É possível que entre as vítimas do atentado exista uma menina de cinco anos que iniciava suas aulas de piano, que no trem a caminho da aula ainda balbuciava as notas da primeira aula e dos primeiros ensaios: "mi mi fa sol sol fa mi re do...", uma das primeiras que se aprende ao piano em nosso mundo ocidental.
Ao mesmo tempo, vinham-lhe as imagens do entardecer do dia anterior, quando logo ao chegar em casa, procura ansiosa e inquieta aquele álbum da nona já um pouco empoeirado, coloca o disco no aparelho, procura a faixa correta, aumenta o volume ao máximo, pois que nenhum máximo jamais será suficiente para tal explendor e inicia-se para ela, só para ela, a primeira lição ao piano, a maior lição da vida, a grande ode.
A ode então renasce nos graves, repete-se de forma calma, serena, avança com a orquestra, se expande por todo o ambiente, mas, de repente, é interrompida, há agitação por toda parte, busca-se uma acomodação, um lugar seguro para partir, há muita tensão no ar.
É anunciado então o barítono, que canta os primeiros versos da ode: "O Freunde, nicht diese Töne, sondern lasst uns angenehmere anstimmen, und freudenvollere." (Amigos, chega desse tom, Melhor se tocarmos algo mais agradável e cheio de alegria)
Ao que a multidão do côro entôa bravamente "Freude!" (Alegria!) e o barítono heróicamente proclama toda a primeira parte da ode: "Freude, schöner Götterfunken. Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder, Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
A ode continua com um quarteto de vozes: "Wem der grosse Wurf gelungen, Eines Freundes Freund zu sein, Wer ein holdes Weib errungen, Mische seinen Jubel ein! Ja--wer auch nur eine Seele Sein nennt auf' dem Erdenrund! Und wer's nie gekonnt, der stehle Weinend sich aus diesem Bund." (Aquele que conseguiu, Ser amigo de um amigo, Aquele que tem uma nobre esposa, Festeje também! Sim-se existe uma alma solitária! No mundo que clama por Ele! Mas o que não pode! Angustiado, deve ficar de fora)
Tornando-se cada vez mais elaborada a ode preenche a mente da menina, imaginando-se um dia, ela o piano, a orquestra e o coro, heróicamente repetindo heróicamente as últimas quatro linhas do poema: "Freude trinken alle Wesen! An den Brüsten der Natur; Alle Guten, alle Bösen! Folgen irher Rosenspur. Küsse gab sie uns und RebenEinen Freund, geprüft im Tod; Wollust ward dem Wurm gegeben, Und der Cherub steht vor Gott." (Todos os seres bebam à alegria! No peito da natureza; Todos os bons, todos os maus! Como experimentam o presente dela! Ela nos deu beijos e videiras! Um amigo até o fim; Até mesmo o verme pode sentir alegria! E o Querubim prosta-se ante Deus).
Tudo para no momento em que a palavra Deus é pronunciada pela última vez. Surge o silêncio, os olhos estão fechados, a parada do conservatório está próxima quando inicia-se uma marcha militar, que reforça o solo do tenor: "Froh, wie seine Sonnen fliegen! Durch des Himmels prachtgen Plan, Wandelt, Bruder, eure Bahn, Freudig wie ein Held zum Siegen." (Com alegria, como os corpos celestes! Que Ele colocou em seus cursos pelo esplendor do firmamento! Então, irmãos, sigam seus caminhos! Alegres, como um herói rumo à conquista).
Faz-se um intervalo com a orquestra e o coro recomeça repetindo incessantemente: "Freude, schöner Götterfunken! Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder,Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa).
O drama se espalha e o poema continua, repetindo-se sem cessar: "Seid umschlungen, Millionen! Diesen Kub der ganzen Welt! Bruder - uberm Sternenzelt! Mub ein lieber Vater wohnen". (Milhões, um abraço à vocês! Este beijo é para todo o mundo! Irmãos- acima da cúpula estrelar! Deve morar um Pai que nos ama).
Em veneração "Ihr stürt nieder, Millionen?" (Milhões, vocês se ajoelham?). A esperança cresce com a música, então se dá o final: "Ahnest du den Schopfer, Welt? Such ihn uberm Sternenzelt! Uber Sternen mub er wohnen." (Vocês percebem o Criador, Mundo? Procurem-No nos céus! Ele deve morar sobre as estrelas.)
O quarteto então entra retomando o início do poema: "Tochter aus Elysium, Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt." (Filha de Elysium, Tua magia reúne, O que a tradição severamente separou.) E o côro retoma com "Alle Menschen werden Brüder Wo dein sanfter Flügel weilt." (Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
Enquanto os mesmos versos são repetidos com extrema alegria pelo quarteto em busca do clímax, a conclusão se dá com uma explosão, os vagões ficam escuros, o solavando derruba a menina, dezenas de pessoas caem sobre ela enquanto o vagão queima, há dor, muita dor e, de repente, a dor para, mas os versos persistem, desejam permanecer enquanto as luzes de emergência se apagam, enquanto a alegria encontra sua conclusão, enquanto a vida se extingue em busca do clímax.
A população civil de um país tem sim responsabilidade pela ação de seus governantes, seja por que eles foram eleitos através do voto direto ou indireto, seja por que essa população dá suporte, legitima seus governantes. A população de um país forma um coletivo, que é responsável pela ação de seus representantes.
É importante destacar que tanto na Inglaterra, quanto nos Estados Unidos, os líderes do governo foram reeleitos após as últimas guerras no Afeganistão e no Iraque, conflitos que foram usados como trunfos políticos por ambos os líderes, ou seja, a população, enquanto coletivo, é absolutamente responsável e endossa as atitudes de seus governantes.
Acontece que somos humanos, não nos adianta o olhar distante do historiador, nossas emoções sabem muito mais que nossa razão que nem todos os indíviduos que compõe o coletivo apoiam ou dão suporte ao governo, de forma direta ou indireta, que há possibilidade de que entre as vítimas do último ataque terrorista em Londres haja algum poeta pacifista ou alguma criança que começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria.
Ao mesmo tempo, vinham-lhe as imagens do entardecer do dia anterior, quando logo ao chegar em casa, procura ansiosa e inquieta aquele álbum da nona já um pouco empoeirado, coloca o disco no aparelho, procura a faixa correta, aumenta o volume ao máximo, pois que nenhum máximo jamais será suficiente para tal explendor e inicia-se para ela, só para ela, a primeira lição ao piano, a maior lição da vida, a grande ode.
A cançao se inicia com a orquestra relembrando os movimentos anteriores, como que ligando passado e futuro, descartando-os um a um, buscando o caminho certo, enquanto a mente busca ansiosa as primeiras notas do tema principal, que se encerra, é retomado pelos sopros e é novamente quebrado.
A ode então renasce nos graves, repete-se de forma calma, serena, avança com a orquestra, se expande por todo o ambiente, mas, de repente, é interrompida, há agitação por toda parte, busca-se uma acomodação, um lugar seguro para partir, há muita tensão no ar.
É anunciado então o barítono, que canta os primeiros versos da ode: "O Freunde, nicht diese Töne, sondern lasst uns angenehmere anstimmen, und freudenvollere." (Amigos, chega desse tom, Melhor se tocarmos algo mais agradável e cheio de alegria)
Ao que a multidão do côro entôa bravamente "Freude!" (Alegria!) e o barítono heróicamente proclama toda a primeira parte da ode: "Freude, schöner Götterfunken. Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder, Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
A ode continua com um quarteto de vozes: "Wem der grosse Wurf gelungen, Eines Freundes Freund zu sein, Wer ein holdes Weib errungen, Mische seinen Jubel ein! Ja--wer auch nur eine Seele Sein nennt auf' dem Erdenrund! Und wer's nie gekonnt, der stehle Weinend sich aus diesem Bund." (Aquele que conseguiu, Ser amigo de um amigo, Aquele que tem uma nobre esposa, Festeje também! Sim-se existe uma alma solitária! No mundo que clama por Ele! Mas o que não pode! Angustiado, deve ficar de fora)
Tornando-se cada vez mais elaborada a ode preenche a mente da menina, imaginando-se um dia, ela o piano, a orquestra e o coro, heróicamente repetindo heróicamente as últimas quatro linhas do poema: "Freude trinken alle Wesen! An den Brüsten der Natur; Alle Guten, alle Bösen! Folgen irher Rosenspur. Küsse gab sie uns und RebenEinen Freund, geprüft im Tod; Wollust ward dem Wurm gegeben, Und der Cherub steht vor Gott." (Todos os seres bebam à alegria! No peito da natureza; Todos os bons, todos os maus! Como experimentam o presente dela! Ela nos deu beijos e videiras! Um amigo até o fim; Até mesmo o verme pode sentir alegria! E o Querubim prosta-se ante Deus).
Tudo para no momento em que a palavra Deus é pronunciada pela última vez. Surge o silêncio, os olhos estão fechados, a parada do conservatório está próxima quando inicia-se uma marcha militar, que reforça o solo do tenor: "Froh, wie seine Sonnen fliegen! Durch des Himmels prachtgen Plan, Wandelt, Bruder, eure Bahn, Freudig wie ein Held zum Siegen." (Com alegria, como os corpos celestes! Que Ele colocou em seus cursos pelo esplendor do firmamento! Então, irmãos, sigam seus caminhos! Alegres, como um herói rumo à conquista).
Faz-se um intervalo com a orquestra e o coro recomeça repetindo incessantemente: "Freude, schöner Götterfunken! Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder,Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa).
O drama se espalha e o poema continua, repetindo-se sem cessar: "Seid umschlungen, Millionen! Diesen Kub der ganzen Welt! Bruder - uberm Sternenzelt! Mub ein lieber Vater wohnen". (Milhões, um abraço à vocês! Este beijo é para todo o mundo! Irmãos- acima da cúpula estrelar! Deve morar um Pai que nos ama).
Em veneração "Ihr stürt nieder, Millionen?" (Milhões, vocês se ajoelham?). A esperança cresce com a música, então se dá o final: "Ahnest du den Schopfer, Welt? Such ihn uberm Sternenzelt! Uber Sternen mub er wohnen." (Vocês percebem o Criador, Mundo? Procurem-No nos céus! Ele deve morar sobre as estrelas.)
O quarteto então entra retomando o início do poema: "Tochter aus Elysium, Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt." (Filha de Elysium, Tua magia reúne, O que a tradição severamente separou.) E o côro retoma com "Alle Menschen werden Brüder Wo dein sanfter Flügel weilt." (Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
Enquanto os mesmos versos são repetidos com extrema alegria pelo quarteto em busca do clímax, a conclusão se dá com uma explosão, os vagões ficam escuros, o solavando derruba a menina, dezenas de pessoas caem sobre ela enquanto o vagão queima, há dor, muita dor e, de repente, a dor para, mas os versos persistem, desejam permanecer enquanto as luzes de emergência se apagam, enquanto a alegria encontra sua conclusão, enquanto a vida se extingue em busca do clímax.
A população civil de um país tem sim responsabilidade pela ação de seus governantes, seja por que eles foram eleitos através do voto direto ou indireto, seja por que essa população dá suporte, legitima seus governantes. A população de um país forma um coletivo, que é responsável pela ação de seus representantes.
É importante destacar que tanto na Inglaterra, quanto nos Estados Unidos, os líderes do governo foram reeleitos após as últimas guerras no Afeganistão e no Iraque, conflitos que foram usados como trunfos políticos por ambos os líderes, ou seja, a população, enquanto coletivo, é absolutamente responsável e endossa as atitudes de seus governantes.
Acontece que somos humanos, não nos adianta o olhar distante do historiador, nossas emoções sabem muito mais que nossa razão que nem todos os indíviduos que compõe o coletivo apoiam ou dão suporte ao governo, de forma direta ou indireta, que há possibilidade de que entre as vítimas do último ataque terrorista em Londres haja algum poeta pacifista ou alguma criança que começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria.
domingo, julho 10, 2005
Crise e Felicidade
A crise aproxima a felicidade, em momentos de crise é que se tem clareza do que é a sua negação: A notícia de explosões de bombas em atentados terroristas torna feliz quem que se sente seguro em casa, no trabalho ou em seus caminhos. A notícia da fome e da desnutrição torna feliz quem tem perpectiva de se saciar plenamente pelo resto da vida. A notícia da morte torna feliz quem é imortal, em corpo ou em alma.
Não há atalho, não há caminho certo, não há mapa detalhado para a felicidade, talvez felicidade seja nada mais que acreditar que se está a caminho dela e se ter motivação suficiente para seguir esse caminho. Talvez seja apenas um longo caminho que se inicia com o nascimento e se encerra provavelmente com a morte, mas um caminho por vezes tão difícil e tão pesado que se torna necessário acreditar em algum atalho.
É na promessa de atalho que reside o perigo, pois distanciam ainda mais a felicidade possível: acreditar que se pode prosseguir em sua busca. Os atalhos sempre falham, ou por que a tal felicidade nunca chega ou por que é deixada a cargo da eternidade, para depois da morte.
O terrorismo é um desses atalhos, a violência satisfaz, é um caminho breve para sensação de segurança, de poder e de reconhecimento. É um caminho de retrocesso, onde cada vitória representa uma perda, muitas vezes despercebida, muitas vezes maior que o que se pode ganhar, mas é busca da felicidade.
Há um artigo que recomento a todos, do Millôr Fernandes (2005), um ótimo artigo, que muito me serve para expressar boa parte das minhas idéias e para complementar o que já foi dito aqui nos últimos dias:
"O mundo está melhor. Só fica horrorizado com o presente do Iraque, onde o número de vítimas é mínimo – e que logo são socorridas e anestesiadas pra que não sintam dor –, quem não sabe que os turcos mataram 1 milhão de armênios (de uma população de 3 milhões) no século XX e nunca ouviu falar na Guerra de 18 – a Grande Guerra. Os caras apodreciam nas trincheiras. E os ferimentos não eram bonitinhos como no cinema. O soldado via o companheiro a seu lado berrando aos céus sem um pedaço da cara, sem um olho. Sem socorro.
(...)
Acabo de ler um livro admirável, Wide as the Waters (Benson Bobrick; Simon & Schuster; 380 páginas). Livro impossível de ser traduzido, pois trata justamente da luta mortal, na Inglaterra, através de séculos, pra traduzir a Bíblia pro povo. Contém comparações lingüísticas de rara beleza – em inglês! A Bíblia que resultou dessas traduções influenciou definitivamente na luta entre o Papado, a Reforma, o Stablishment inglês. A Bíblia – ampla como as águas. A maior influência pra formação da língua inglesa, pra unificação da unidade nacional.
É desse admirável Livro – feito por scholars e tratando de assunto em que só entram scholars – que tiro este pequeno trecho: "Todos os historiadores católicos reconhecem as múltiplas manifestações de corrupção da Igreja medieval – parecia determinada a se autodesacreditar. Tudo podia ser obtido por dinheiro, por mais danoso que isso fosse pra própria Igreja".
(...)
Aí é que foi a inana. Felipe, o Belo, da França, cobiçando a riqueza da Igreja, taxou pesadamente os clérigos franceses. O Papa Bonifácio resolveu enfrentá-lo, mas foi vencido, e espancado até a morte. Logo depois Clemente V, a pedido de Felipe, transferiu o papado para Avignon, na França, onde ficou sessenta anos, perdendo todo o prestígio.
Só recuperado materialmente por seu sucessor, João XXII, que criou o sistema de apaziguar os pecados com a venda de indulgências! Qualquer um com dinheiro podia pecar (agir criminosamente) com impunidade.
(...)
Também na Inglaterra os prelados possuíam imensas propriedades rurais, tinham rendas principescas, e poderes eclesiásticos e civis inacreditáveis. Anátemas terríveis eram expelidos dos púlpitos contra todos os que resistiam aos desígnios do mando. Os mais ferozes anátemas eram excomunhões "gerais", que excediam qualquer pena contra crimes capitais. Exemplo:
"Que sejam malditos pelo que comem e pelo que bebem; pelo que andam e pelo que param; quando remam e quando cavalgam; porque riem e porque choram; em casa ou no campo; na água ou em terra, em todos os lugares. Amaldiçoados sejam seus pensamentos e suas cabeças; seus olhos e seus ouvidos; suas línguas e seus lábios; seus dentes e suas gargantas; seus ombros e seus peitos; seus pés e suas pernas; suas coxas e seus bofes. E que permaneçam malditos da sola dos pés ao alto da cabeça, a não ser que reflitam no que dizem e pensam e fazem, e venham dar satisfações".
Mensalão – eu, hein?!"
sábado, julho 09, 2005
Domingo é um bom dia para relaxar, curtir a folga, talvez encontrar alguns parentes, quem sabe curtir o filho que está no final de semana sim e visitar os avós, dele claro, por um acaso os seus pais, quem sabe aproveitar que o filho está no final de semana não e curtir um domingo romántico com a esposa.
Muito mais comum do que deveria ser, o domingo sobra, seja por ter sido tempo demais no ócio, seja por que o horário de visita se encerra às 19h e, como sobra, o domingo se torna um dia obrigatório para se refletir, por mais que se tente fugir assistindo ao filme de péssimo gosto que fatalmente vai passar na TV ao final da noite.
E há muito para se refletir neste domingo:
- Novos atentados terroristas atingiram Londres. Os militantes do PT estão esgotando todo o leque de desculpas possíveis para os acontecimentos.
- Muitos casais estão se casando agora em julho, outros casais recebem a notícia de que estão grávidos, alguns de gêmeos ou até mais. Algum pai ou mãe inventa de ler o material institucional da escola na agenda do filho e descobre que o autor dos textos é um construtivista de orelha.
- O preço do barril de petróleo continua subindo. A crise na Bolívia pode afetar o fornecimento e o preço de GNV no Brasil. Os usineiros continuam tratando os cortadores de cana de forma talvez pior que eram tratados os escravos no tempo do engenho.
- A conta corrente está no limite no dia dez. Já passam mil quilômetros da hora de trocar óleo lubrificante do carro. Os amigos sabem que o próximo jantar é na sua casa, por sua conta.
Ainda é sábado, então ainda é tempo de aproveitar o efeito do diluidor de superego clássico e deitar aconchegado ao seu amor, pensando em quantos motivos existem para a felicidade...
Muito mais comum do que deveria ser, o domingo sobra, seja por ter sido tempo demais no ócio, seja por que o horário de visita se encerra às 19h e, como sobra, o domingo se torna um dia obrigatório para se refletir, por mais que se tente fugir assistindo ao filme de péssimo gosto que fatalmente vai passar na TV ao final da noite.
E há muito para se refletir neste domingo:
- Novos atentados terroristas atingiram Londres. Os militantes do PT estão esgotando todo o leque de desculpas possíveis para os acontecimentos.
- Muitos casais estão se casando agora em julho, outros casais recebem a notícia de que estão grávidos, alguns de gêmeos ou até mais. Algum pai ou mãe inventa de ler o material institucional da escola na agenda do filho e descobre que o autor dos textos é um construtivista de orelha.
- O preço do barril de petróleo continua subindo. A crise na Bolívia pode afetar o fornecimento e o preço de GNV no Brasil. Os usineiros continuam tratando os cortadores de cana de forma talvez pior que eram tratados os escravos no tempo do engenho.
- A conta corrente está no limite no dia dez. Já passam mil quilômetros da hora de trocar óleo lubrificante do carro. Os amigos sabem que o próximo jantar é na sua casa, por sua conta.
Ainda é sábado, então ainda é tempo de aproveitar o efeito do diluidor de superego clássico e deitar aconchegado ao seu amor, pensando em quantos motivos existem para a felicidade...
sexta-feira, julho 08, 2005
A falta de deus no mundo
O mundo está um caos, não há lugares seguros para estar. Não há respeito por vidas humanas ou mesmo por outras formas de vida na fauna ou na flora global. Um assessor parlamentar é preso com dólares na bunda, tal qual um traficante ao embarcar com sua mercadoria oculta. Um ônibos abre-se, leia-se explode, como uma lata de sardinhas. Um adolescente é assassinado na periferia por credor a quem devia menos de dois reais.
Alguém diz que é falta de deus no mundo, mas essa não é apenas mais uma batalha de uma guerra teológica sem fim? Não são justamente cristãos, islâmicos e judeus os protagonistas dessa reedição high-tech das cruzadas? Não tomam parte entre os conselheiros de Bush justamente os líderes cristãos conservadores dos Estados Unidos? Já não é parte da vida dos britânicos o confronto entre os cristãos protestantes e a resistência católida na Irlanda? Não é a al-Qaeda um exercíto do islã?
O argumento de falta de deus só se sustentaria no fato de que essas três religiões são monoteístas, pois se deus for realmente criado à imagem e semelhança do seus criador basta se substituir a palavra monoteísmo, do dicionário divino, pela palavra totalitarismo, do dicionário secular, e encontramos a sustenção: É falta de deus sim, pois um deus totalitário, a palavra que os cristãos gostam de utilizar é todo-poderoso, nega a alteridade, a pluralidade e a diversidade. É um deus que não pode aceitar ou conviver com outros deuses, então os todos os demais deuses e, claro, também seus seguidores, devem ser eliminados.
É dessa forma que o valor da vida humana é relativizado, pois não basta assassinar seis mil civis afegãos para saciar a sede de vingança por cerca de três mil civis mortos em 11 de setembro. É preciso mais, muito mais, dois para um não resolve, é preciso mais, três para um, quatro para um. Quantos muçulmanos vale um cristão?
É chocante ver a morte pela TV, é chocante ver um ferido com o rosto queimado, é chocante saber que morreram cerca de 50 pessoas nos atentados a Londres, mas também é chocante saber que morrem milhares de pessoas todos os dias na África do Sul por conta da Aids. Como calcular o valor dessas vidas, como comparar o valor da vida de uma vítima no ataque terrorista em Londres, sede do império britânico com o valor da vida de uma vítima da Aids na África do Sul, terra do Apartheid, contra o qual a ONU jamais lutou de forma efetiva e que os britânicos apoiaram e subsidiaram?
Há pouco mais de um século a vida de um africano ou descendente era contabilizada a partir do trabalho que poderia realizar para seu proprietário, afinal um africano não tinha alma, como também não o tinham os nativos do continente hoje chamado de América. Os ameríndios ou simplesmente índios, como não serviram para a escravidão, foram exterminados. Cerca de cinco milhões apenas no que hoje chamamos de Brasil.
Talvez seja mesmo melhor um deus dançarino e que para sua dança convidasse outros deuses e deusas, talvez esses deuses pudesssem compreender melhor os demais, entender que para construir a própria felicidade não é necessário exterminar a todos que não lhe rendem oferendas.
Cada um de nós é reponsável, mesmo que de forma indireta, mesmo sem puxar o gatilho, pois assim como o homem-bomba age legitimado por suas crenças ou, como costumamos chamar no ocidente, seu fundamentalismo religioso, também o fuzileiro naval assim age, legitimano por seus líderes religiosos, os quais gostamos de denominar apenas conservadores, afinal seria feio dizer que o papa é fundamentalista por condenar o uso de preservativos na África.
São crenças diferentes, são deuses diferentes, mas o mecanismo é o mesmo e por trás desse mecanismo está cada uma das pessoas "inocentes", que apenas cumprem seu papel de manter a chama acesa da fé.
Ou será do pavio?
Alguém diz que é falta de deus no mundo, mas essa não é apenas mais uma batalha de uma guerra teológica sem fim? Não são justamente cristãos, islâmicos e judeus os protagonistas dessa reedição high-tech das cruzadas? Não tomam parte entre os conselheiros de Bush justamente os líderes cristãos conservadores dos Estados Unidos? Já não é parte da vida dos britânicos o confronto entre os cristãos protestantes e a resistência católida na Irlanda? Não é a al-Qaeda um exercíto do islã?
O argumento de falta de deus só se sustentaria no fato de que essas três religiões são monoteístas, pois se deus for realmente criado à imagem e semelhança do seus criador basta se substituir a palavra monoteísmo, do dicionário divino, pela palavra totalitarismo, do dicionário secular, e encontramos a sustenção: É falta de deus sim, pois um deus totalitário, a palavra que os cristãos gostam de utilizar é todo-poderoso, nega a alteridade, a pluralidade e a diversidade. É um deus que não pode aceitar ou conviver com outros deuses, então os todos os demais deuses e, claro, também seus seguidores, devem ser eliminados.
É dessa forma que o valor da vida humana é relativizado, pois não basta assassinar seis mil civis afegãos para saciar a sede de vingança por cerca de três mil civis mortos em 11 de setembro. É preciso mais, muito mais, dois para um não resolve, é preciso mais, três para um, quatro para um. Quantos muçulmanos vale um cristão?
É chocante ver a morte pela TV, é chocante ver um ferido com o rosto queimado, é chocante saber que morreram cerca de 50 pessoas nos atentados a Londres, mas também é chocante saber que morrem milhares de pessoas todos os dias na África do Sul por conta da Aids. Como calcular o valor dessas vidas, como comparar o valor da vida de uma vítima no ataque terrorista em Londres, sede do império britânico com o valor da vida de uma vítima da Aids na África do Sul, terra do Apartheid, contra o qual a ONU jamais lutou de forma efetiva e que os britânicos apoiaram e subsidiaram?
Há pouco mais de um século a vida de um africano ou descendente era contabilizada a partir do trabalho que poderia realizar para seu proprietário, afinal um africano não tinha alma, como também não o tinham os nativos do continente hoje chamado de América. Os ameríndios ou simplesmente índios, como não serviram para a escravidão, foram exterminados. Cerca de cinco milhões apenas no que hoje chamamos de Brasil.
Talvez seja mesmo melhor um deus dançarino e que para sua dança convidasse outros deuses e deusas, talvez esses deuses pudesssem compreender melhor os demais, entender que para construir a própria felicidade não é necessário exterminar a todos que não lhe rendem oferendas.
Cada um de nós é reponsável, mesmo que de forma indireta, mesmo sem puxar o gatilho, pois assim como o homem-bomba age legitimado por suas crenças ou, como costumamos chamar no ocidente, seu fundamentalismo religioso, também o fuzileiro naval assim age, legitimano por seus líderes religiosos, os quais gostamos de denominar apenas conservadores, afinal seria feio dizer que o papa é fundamentalista por condenar o uso de preservativos na África.
São crenças diferentes, são deuses diferentes, mas o mecanismo é o mesmo e por trás desse mecanismo está cada uma das pessoas "inocentes", que apenas cumprem seu papel de manter a chama acesa da fé.
Ou será do pavio?
Ontem o ator que faz este anjo esteve fora noite e madrugada toda, não tive como escrever algo, muito embora assuntos não faltem, terrorismo é assunto que me fascina, pois é a encarnação do dilema.
Deixo contudo uma citação de Gerald Thomas (07/07/2005):
Deixo contudo uma citação de Gerald Thomas (07/07/2005):
"Sei la. Passei o dia no telefone pra ver se estavam todos bem. Ninguem estava bem. Como estar bem numa epoca tao maluca em que presidentes invadem paises e matam 140 000 civis (iraquianos, no caso) e nao esperam uma retribuicao."
quarta-feira, julho 06, 2005
O Fantasma do Parlamento
Não é objetivo e nem se faz necessário esmiuçar a biografia deste político que se assume como um ex-troglodita de berro na cinta cuja cirurgia para redução de estômago o transformou em um novo homem, mas não em Mary Poppins. Roberto Jefferson, 51, PTB-RJ, não é flor que se cheire e seu perfume é herança de família, dos tempos do totalitarismo sedento do sangue popular representado por Getúlio Vargas, quiçá de antes. É representante fiel do mais absoluto continuísmo nos quadros políticos brasileiros.
Domina o palco, é carismático, é hábil no discurso como o são poucos políticos, especialmente se forem considerados no páreo a grande maioria dos petistas. É advogado formado pela Estácio de Sá, mas dificilmente se deve à sua experiência no judiciário a sua comprovada habilidade retórica, pois se iniciou na política a partir da participação no programa popular "O Povo na TV", já no SBT após o fechamento da Tupi, entre 1981 e 1984, e também pelo legado de sua família, pois pai e avô também eram do PTB desde sua fundação em 1945.
Não há como imaginar-se conhecedor de todos os fatos, provavelmente nem Lula, nem Dirceu e nem Roberto Jefferson tem plena segurança de que merda e em que quantidade ainda pode ser jogada no ventilador, quanto mais meros espectadores de toda essa novela, mas é possível aprender com tudo isso, é possível encontrar soluções plausíveis a partir da tragédia que hoje se presencia em cadeia nacional.
É preciso, antes de mais nada, compreender que, qualquer que seja o resultado da CPI dos Correios ou da CPI do mensalão, tais práticas deverão continuar de uma ou de outra forma no exercício do governo, deste e dos próximos, pois não se muda uma nação por ato mágico de qualquer natureza, seja emanado do Executivo, do Legislativa ou do Judiciário. Não bastaram 100 anos para constituir nossas instituições e não bastarão outros 100 para que se consolidem. Sequer é certo de que tal consolidação garantirá ao brasileiro uma vida melhor.
Para que se possa encontrar uma solução para o problema que hoje se vive é preciso focalizar o bem-estar de sete gerações à frente do nosso tempo e esquecer dos clichês eleitoreiros relacionados à mágica solução da educação ou da bolsa escola. São investimentos necessários, mas não se pode esquecer que dentre as funções da escola está a manutenção do estabelecido e o estabelecido hoje é bem representado pelo mensalão.
Roberto Jefferson é um fantasma, mas nem é o único e nem é destoante de nossa história ou de nosso presente. Há Robertos Jeffersons por todos os lados em nosso quotidiano, por sorte poucos com poder semelhante ao do ícone, mas com pensamentos e ações absolutamente similares, e, melhor do que isso, Roberto Jefferson nos representa a todos, todos temos uma parte de nós fielmente representada por ele, pode não ser nosso eu dominante, mas certamente está lá, em conflito com nosso Lula, com nosso Fernado Henrique Cardoso, com nosso José Sarney e com nosso Antonio Carlos Magalhães. Há um pouco de cada um desses e de outros políticos dentro de cada um de nós, dentro de cada brasileiro.
Se não somos capazes de perceber de que forma cada parte de nosso eu está representado no olímpo político, não somos capazes de mudar a nós mesmos, quanto mais de mudar o pensamento de nossa comunidade ou de nossa nação.
O oposto, se formos capazes de nos perceber em todos os deuses e demônios que nos representam, seremos capazes de transformar a nós mesmos, o que é todo o princípio para a construção de um futuro melhor, pois ao transmitir essa habilidade às gerações futuras, aos nossos descendentes, estaremos possibilitando a eles um grande instrumental de aprendizado, de reflexão, de crítica e de mudança da única coisa que se pode mudar em uma vida: nossa própria vida.
Domina o palco, é carismático, é hábil no discurso como o são poucos políticos, especialmente se forem considerados no páreo a grande maioria dos petistas. É advogado formado pela Estácio de Sá, mas dificilmente se deve à sua experiência no judiciário a sua comprovada habilidade retórica, pois se iniciou na política a partir da participação no programa popular "O Povo na TV", já no SBT após o fechamento da Tupi, entre 1981 e 1984, e também pelo legado de sua família, pois pai e avô também eram do PTB desde sua fundação em 1945.
Não há como imaginar-se conhecedor de todos os fatos, provavelmente nem Lula, nem Dirceu e nem Roberto Jefferson tem plena segurança de que merda e em que quantidade ainda pode ser jogada no ventilador, quanto mais meros espectadores de toda essa novela, mas é possível aprender com tudo isso, é possível encontrar soluções plausíveis a partir da tragédia que hoje se presencia em cadeia nacional.
É preciso, antes de mais nada, compreender que, qualquer que seja o resultado da CPI dos Correios ou da CPI do mensalão, tais práticas deverão continuar de uma ou de outra forma no exercício do governo, deste e dos próximos, pois não se muda uma nação por ato mágico de qualquer natureza, seja emanado do Executivo, do Legislativa ou do Judiciário. Não bastaram 100 anos para constituir nossas instituições e não bastarão outros 100 para que se consolidem. Sequer é certo de que tal consolidação garantirá ao brasileiro uma vida melhor.
Para que se possa encontrar uma solução para o problema que hoje se vive é preciso focalizar o bem-estar de sete gerações à frente do nosso tempo e esquecer dos clichês eleitoreiros relacionados à mágica solução da educação ou da bolsa escola. São investimentos necessários, mas não se pode esquecer que dentre as funções da escola está a manutenção do estabelecido e o estabelecido hoje é bem representado pelo mensalão.
Roberto Jefferson é um fantasma, mas nem é o único e nem é destoante de nossa história ou de nosso presente. Há Robertos Jeffersons por todos os lados em nosso quotidiano, por sorte poucos com poder semelhante ao do ícone, mas com pensamentos e ações absolutamente similares, e, melhor do que isso, Roberto Jefferson nos representa a todos, todos temos uma parte de nós fielmente representada por ele, pode não ser nosso eu dominante, mas certamente está lá, em conflito com nosso Lula, com nosso Fernado Henrique Cardoso, com nosso José Sarney e com nosso Antonio Carlos Magalhães. Há um pouco de cada um desses e de outros políticos dentro de cada um de nós, dentro de cada brasileiro.
Se não somos capazes de perceber de que forma cada parte de nosso eu está representado no olímpo político, não somos capazes de mudar a nós mesmos, quanto mais de mudar o pensamento de nossa comunidade ou de nossa nação.
O oposto, se formos capazes de nos perceber em todos os deuses e demônios que nos representam, seremos capazes de transformar a nós mesmos, o que é todo o princípio para a construção de um futuro melhor, pois ao transmitir essa habilidade às gerações futuras, aos nossos descendentes, estaremos possibilitando a eles um grande instrumental de aprendizado, de reflexão, de crítica e de mudança da única coisa que se pode mudar em uma vida: nossa própria vida.
terça-feira, julho 05, 2005
Sexo e Política
Estamos agindo como a mãe que é denunciada publicamente em sua falha vigilância pela gravidez da filha adolescente: "Oh, meu deus, eu sabia que esse seu namorado não prestava!" Estamos fingindo espanto para todos e para nós mesmos, preferindo máscara de ingênuos à de co-responsáveis ou, ao menos, cúmplices da situação.
Assim como eu me coloco ao lado da filha adolescente, e não apenas por que sexo é bom, mas também por que é o contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho da mãe, o principal responsável pela gravidez, também eu me coloco ao lado do PT no mensalão, pois não é menor a culpa do contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho dos oligarcas.
Sexo é tão bom quanto dinheiro, um leva ao outro e vice-versa, ambos representam e propiciam poder, todos querem e todos gostam, talvez não todos, certamente quase todos. Sexo e mensalão são a mesma coisa se fizermos um julgamento baseado em princípios e intenções, trata-se apenas de apropriação das relações mundana para a análise das fricções olimpianas.
Acontece que poucos de nós temos dinheiro, apenas alguns podem se dar ao luxo de avalizar contratos de 2,4 milhões de reais, o que é uma merreca em termos Estado ou até mesmo em termos de corrupção, mas quase todos nos experimentamos sexo, a maioria de nós, eu espero.
Poucos de nós participa da política além do voto, das torcidas, das apostas, da panfletagem ou da militância. A maioria de nós acompanha a política da mesma poltrona em que acompanhamos a novela, aliás uns poucos se dão conta de que nossa capacidade de interferência no destino das personagens de Benedito Rui Barbosa é bem maior que no das herdeiras do maledito Rui Barbosa, o do encilhamento.
Não nos é possível avaliar o universo olimpiano se não o trouxermos para o nosso domínio quotidiano, é por isso que sexo, novela e família são fundamentais para entender o que acontece com o mensalão. É fundamental também para compreender que a questão do mensalão nada mais é que um sintoma, que a ponta de um iceberg, que todos procuramos manter escondido, pois na base deste iceberg está cada um de nós.
Encerrar a questão do mensalão numa análise factual e pontual é nada além de auto-proteção, pois o mensalão nos representa, tal qual a gravidez de adolescentes também nos representa. Podemos prosseguir em busca de bodes-expiatórios para nossos próprios erros, mas devemos ter consciência que tal busca não nos conduzirá à mudança que fingimos desejar, pois sabemos que é mais seguro escrever de forma diferente sempre a mesma história, alternando conflito e resolução, tensão e apaziguamento.
É preciso compreender que a origem do mensalão não está na má-índole do Lula ou de quem quer que seja eleito como bode-expiatório ao final de tudo, mas em nossas atitudes diárias e não me refiro às atitudes relacionadas à viciante idéia de cidadania, mas nossas atitudes quotidianas e intimistas, aquilo que de mais nosso transmitimos a nossos filhos para que se perpetue de geração em geração.
Poderia se defender que para entender o mensalão é preciso estudar história, pois assim compreenderemos que o mensalão é um evento recorrente, que se sucede desde antes da república e se arrasta até hoje, mas sem discordar eu afirmo que para entender o mensalão é preciso entender nossos próprios erros na formação e na educação de nossos filhos, seja em casa, seja na escola ou seja no trabalho.
Assim como eu me coloco ao lado da filha adolescente, e não apenas por que sexo é bom, mas também por que é o contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho da mãe, o principal responsável pela gravidez, também eu me coloco ao lado do PT no mensalão, pois não é menor a culpa do contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho dos oligarcas.
Sexo é tão bom quanto dinheiro, um leva ao outro e vice-versa, ambos representam e propiciam poder, todos querem e todos gostam, talvez não todos, certamente quase todos. Sexo e mensalão são a mesma coisa se fizermos um julgamento baseado em princípios e intenções, trata-se apenas de apropriação das relações mundana para a análise das fricções olimpianas.
Acontece que poucos de nós temos dinheiro, apenas alguns podem se dar ao luxo de avalizar contratos de 2,4 milhões de reais, o que é uma merreca em termos Estado ou até mesmo em termos de corrupção, mas quase todos nos experimentamos sexo, a maioria de nós, eu espero.
Poucos de nós participa da política além do voto, das torcidas, das apostas, da panfletagem ou da militância. A maioria de nós acompanha a política da mesma poltrona em que acompanhamos a novela, aliás uns poucos se dão conta de que nossa capacidade de interferência no destino das personagens de Benedito Rui Barbosa é bem maior que no das herdeiras do maledito Rui Barbosa, o do encilhamento.
Não nos é possível avaliar o universo olimpiano se não o trouxermos para o nosso domínio quotidiano, é por isso que sexo, novela e família são fundamentais para entender o que acontece com o mensalão. É fundamental também para compreender que a questão do mensalão nada mais é que um sintoma, que a ponta de um iceberg, que todos procuramos manter escondido, pois na base deste iceberg está cada um de nós.
Encerrar a questão do mensalão numa análise factual e pontual é nada além de auto-proteção, pois o mensalão nos representa, tal qual a gravidez de adolescentes também nos representa. Podemos prosseguir em busca de bodes-expiatórios para nossos próprios erros, mas devemos ter consciência que tal busca não nos conduzirá à mudança que fingimos desejar, pois sabemos que é mais seguro escrever de forma diferente sempre a mesma história, alternando conflito e resolução, tensão e apaziguamento.
É preciso compreender que a origem do mensalão não está na má-índole do Lula ou de quem quer que seja eleito como bode-expiatório ao final de tudo, mas em nossas atitudes diárias e não me refiro às atitudes relacionadas à viciante idéia de cidadania, mas nossas atitudes quotidianas e intimistas, aquilo que de mais nosso transmitimos a nossos filhos para que se perpetue de geração em geração.
Poderia se defender que para entender o mensalão é preciso estudar história, pois assim compreenderemos que o mensalão é um evento recorrente, que se sucede desde antes da república e se arrasta até hoje, mas sem discordar eu afirmo que para entender o mensalão é preciso entender nossos próprios erros na formação e na educação de nossos filhos, seja em casa, seja na escola ou seja no trabalho.
Carta aberta à comunidade: Esfera Pública 1/2005
Reprodução - Reprodução - Reprodução - Reprodução
Fortaleza, 5 de julho de 2005
Fortaleza, 5 de julho de 2005
Carta aberta à comunidade,
Preliminarmente gostaria de destacar que sei que nem todos são do jornalismo, da publicidade ou tem interesse em artes ou comunicação, mas quem sou eu para decidir isso para cada um de vocês?
Sendo assim, envio para todos e peço que aqueles que se determinarem em recebimento indevido desta mensagem, apenas me avisem, e procurarei não mais os incluir nas mensagens referentes à Revista Esfera Pública.
Alguns colegas já estão por dentro, alguns mais que outros, de que estamos iniciando o projeto de uma revista experimental alternativa eletrônica semanal, que talvez durante a fase beta seja ainda mensal.
Alguns podem pensar que deveria ser segredo o lançamento de uma nova revista, mas não temos como trabalhar em segredo se queremos que seja um projeto participativo e plural. Eu gostaria de adicionar a palavra democrático ou libertário, mas não estou certo ainda de que seremos capazes de honrar tais conceitos em nossa praxis, desejo que sim, mas essa será certamente razão de grandes debates entre os colaboradores.
Vários colegas já se manifestaram interessados em colaborar das mais diversas formas e vamos precisar de todas essas colaborações. Precisaremos de jornalistas, de publicitários, de designers, de artistas, de cronistas, de articulistas, de amigos, de leitores e, bem, quem será capaz de determinar quanta colaboração será necessária?
Estou enviando esta mensagem com o objetivo de formar o coletivo de sustentação do projeto, desejo marcar uma primeira reunião com o máximo de interessados possível e para que isso se torne possível, peço que aqueles que tiverem interesse verdadeiro em participar do projeto Esfera Pública, que me enviem resposta com urgência.
Preliminarmente gostaria de destacar que sei que nem todos são do jornalismo, da publicidade ou tem interesse em artes ou comunicação, mas quem sou eu para decidir isso para cada um de vocês?
Sendo assim, envio para todos e peço que aqueles que se determinarem em recebimento indevido desta mensagem, apenas me avisem, e procurarei não mais os incluir nas mensagens referentes à Revista Esfera Pública.
Alguns colegas já estão por dentro, alguns mais que outros, de que estamos iniciando o projeto de uma revista experimental alternativa eletrônica semanal, que talvez durante a fase beta seja ainda mensal.
Alguns podem pensar que deveria ser segredo o lançamento de uma nova revista, mas não temos como trabalhar em segredo se queremos que seja um projeto participativo e plural. Eu gostaria de adicionar a palavra democrático ou libertário, mas não estou certo ainda de que seremos capazes de honrar tais conceitos em nossa praxis, desejo que sim, mas essa será certamente razão de grandes debates entre os colaboradores.
Vários colegas já se manifestaram interessados em colaborar das mais diversas formas e vamos precisar de todas essas colaborações. Precisaremos de jornalistas, de publicitários, de designers, de artistas, de cronistas, de articulistas, de amigos, de leitores e, bem, quem será capaz de determinar quanta colaboração será necessária?
Estou enviando esta mensagem com o objetivo de formar o coletivo de sustentação do projeto, desejo marcar uma primeira reunião com o máximo de interessados possível e para que isso se torne possível, peço que aqueles que tiverem interesse verdadeiro em participar do projeto Esfera Pública, que me enviem resposta com urgência.
Atenciosamente,
Leonardo Ruoso
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