quinta-feira, julho 14, 2005

Voltaire, Da Vinci, Potter e o Papa

Às vésperas do lançamento do livro "Harry Potter and the Half Blood Prince", de J.K. Rowling, que tem lançamento marcado para 16 de julho, a escritora alemã Gabriele Kuby, de "Harry Potter: Good or Evil", divulgou trechos de duas cartas escritas a ela pelo papa Bento XVI em 2003, quando ainda era cardeal.

Kuby, católica fervorosa, atribui ao papa as afirmações de que os livros de Harry Potter exercem sedução sutil sobre os leitores jovens e distorcem o cristianismo na alma antes de ele ter tempo de se desenvolver de maneira adequada. O papa, então cardeal, teria autorizado na época a divulgação de seus comentários.

Ainda no início deste ano algumas autoridades do Vaticano condenaram o blockbuster "O Código Da Vinci", de Dan Brown, cujo enredo se refere a uma conspiração católica, que também foi classificado como uma distorção histórica absurda e que é repleto de mentiras baratas, mas o principal a se destacar é que o cardeal Tarcisio Bertone recomendou que as livrarias católicas o retirassem das estantes.

Pode soar clichê retomar Voltaire a essa altura dos tempos com seu aforismo clássico: “Eu não concordo com o que você diz, mas defendo, mesmo até à morte, o seu direito de se exprimir!”, mas esse é o sentimento que floresce diante da ação inquisitória das autoridades católicas citadas.

É certo que tais declarações contribuem para ampliar o interesse pelas obras atacadas, assim como este post, chegando a parecer quase um truque de divulgação no melhor estilo Bruxa de Blair ou Matrix, mas não cabe a ninguém, seja do Estado, seja da Igreja, definir o que pode ou não estar disponível para os leitores.

Os leitores, crianças, jovens ou adultos, têm o direito e a necessidade de se expor aos mais diferentes estímulos, vivências ou idéias, precisam vivenciar a diversidade e a pluralidade do mundo para que possam aprender também a respeitar essa diversidade.

Aprender que bem e mal se misturam, que ambos seduzem e que ambos estão presentes dentro de cada um é fundamental para que aprender o que deveria ser o valor principal de qualquer religião: o respeito à vida, seja qual for o pensamento, seja qual for o credo.

É tempo de construir uma vida repleta de sim, de aceitação e não uma negação da vida, uma negação do outro diferente. A repressão e a discriminação não ajudam a construir a paz e a segurança como tanto se fala, pelo contrário, inflamam o ódio e incentivam a violência entre as pessoas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo, mas não se pode negar a influência de livros e da Tv na formação das crianças. Eu li os 4 primeiros livros da coleção Potter e achei um ótimo passatempo para mim que não sou mais criança. Eu adorei os livros e não tenho vergonha de dizer. Li "O código Da Vinci" e odiei, o livro é péssimo. Eu leio estes livros que estão na moda. Morro de curiosidade de saber porque fazem tanto sucesso. Potter é contagiante e O côdigo Da Vinci fez sucesso só por causa da propaganda da igreja, porque é péssimo e chato de ler.

Anjo Mecânico disse...

Se não influenciasse não seria importante que as pessoas tivessem acesso, é apenas por influenciar que é importante.

E é exatamente por isso que a pluralidade é uma necessidade, pois várias vozes são sempre melhor influência que uma ou poucas.

De fato, não era minha questão defender um ou outro livro, mas defender que todos estejam nas estantes, preferencialmente também das bibliotecas, para que não exista custo para a leitura diversa.