Ao mesmo tempo, vinham-lhe as imagens do entardecer do dia anterior, quando logo ao chegar em casa, procura ansiosa e inquieta aquele álbum da nona já um pouco empoeirado, coloca o disco no aparelho, procura a faixa correta, aumenta o volume ao máximo, pois que nenhum máximo jamais será suficiente para tal explendor e inicia-se para ela, só para ela, a primeira lição ao piano, a maior lição da vida, a grande ode.
A cançao se inicia com a orquestra relembrando os movimentos anteriores, como que ligando passado e futuro, descartando-os um a um, buscando o caminho certo, enquanto a mente busca ansiosa as primeiras notas do tema principal, que se encerra, é retomado pelos sopros e é novamente quebrado.
A ode então renasce nos graves, repete-se de forma calma, serena, avança com a orquestra, se expande por todo o ambiente, mas, de repente, é interrompida, há agitação por toda parte, busca-se uma acomodação, um lugar seguro para partir, há muita tensão no ar.
É anunciado então o barítono, que canta os primeiros versos da ode: "O Freunde, nicht diese Töne, sondern lasst uns angenehmere anstimmen, und freudenvollere." (Amigos, chega desse tom, Melhor se tocarmos algo mais agradável e cheio de alegria)
Ao que a multidão do côro entôa bravamente "Freude!" (Alegria!) e o barítono heróicamente proclama toda a primeira parte da ode: "Freude, schöner Götterfunken. Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder, Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
A ode continua com um quarteto de vozes: "Wem der grosse Wurf gelungen, Eines Freundes Freund zu sein, Wer ein holdes Weib errungen, Mische seinen Jubel ein! Ja--wer auch nur eine Seele Sein nennt auf' dem Erdenrund! Und wer's nie gekonnt, der stehle Weinend sich aus diesem Bund." (Aquele que conseguiu, Ser amigo de um amigo, Aquele que tem uma nobre esposa, Festeje também! Sim-se existe uma alma solitária! No mundo que clama por Ele! Mas o que não pode! Angustiado, deve ficar de fora)
Tornando-se cada vez mais elaborada a ode preenche a mente da menina, imaginando-se um dia, ela o piano, a orquestra e o coro, heróicamente repetindo heróicamente as últimas quatro linhas do poema: "Freude trinken alle Wesen! An den Brüsten der Natur; Alle Guten, alle Bösen! Folgen irher Rosenspur. Küsse gab sie uns und RebenEinen Freund, geprüft im Tod; Wollust ward dem Wurm gegeben, Und der Cherub steht vor Gott." (Todos os seres bebam à alegria! No peito da natureza; Todos os bons, todos os maus! Como experimentam o presente dela! Ela nos deu beijos e videiras! Um amigo até o fim; Até mesmo o verme pode sentir alegria! E o Querubim prosta-se ante Deus).
Tudo para no momento em que a palavra Deus é pronunciada pela última vez. Surge o silêncio, os olhos estão fechados, a parada do conservatório está próxima quando inicia-se uma marcha militar, que reforça o solo do tenor: "Froh, wie seine Sonnen fliegen! Durch des Himmels prachtgen Plan, Wandelt, Bruder, eure Bahn, Freudig wie ein Held zum Siegen." (Com alegria, como os corpos celestes! Que Ele colocou em seus cursos pelo esplendor do firmamento! Então, irmãos, sigam seus caminhos! Alegres, como um herói rumo à conquista).
Faz-se um intervalo com a orquestra e o coro recomeça repetindo incessantemente: "Freude, schöner Götterfunken! Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder,Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa).
O drama se espalha e o poema continua, repetindo-se sem cessar: "Seid umschlungen, Millionen! Diesen Kub der ganzen Welt! Bruder - uberm Sternenzelt! Mub ein lieber Vater wohnen". (Milhões, um abraço à vocês! Este beijo é para todo o mundo! Irmãos- acima da cúpula estrelar! Deve morar um Pai que nos ama).
Em veneração "Ihr stürt nieder, Millionen?" (Milhões, vocês se ajoelham?). A esperança cresce com a música, então se dá o final: "Ahnest du den Schopfer, Welt? Such ihn uberm Sternenzelt! Uber Sternen mub er wohnen." (Vocês percebem o Criador, Mundo? Procurem-No nos céus! Ele deve morar sobre as estrelas.)
O quarteto então entra retomando o início do poema: "Tochter aus Elysium, Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt." (Filha de Elysium, Tua magia reúne, O que a tradição severamente separou.) E o côro retoma com "Alle Menschen werden Brüder Wo dein sanfter Flügel weilt." (Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)
Enquanto os mesmos versos são repetidos com extrema alegria pelo quarteto em busca do clímax, a conclusão se dá com uma explosão, os vagões ficam escuros, o solavando derruba a menina, dezenas de pessoas caem sobre ela enquanto o vagão queima, há dor, muita dor e, de repente, a dor para, mas os versos persistem, desejam permanecer enquanto as luzes de emergência se apagam, enquanto a alegria encontra sua conclusão, enquanto a vida se extingue em busca do clímax.
A população civil de um país tem sim responsabilidade pela ação de seus governantes, seja por que eles foram eleitos através do voto direto ou indireto, seja por que essa população dá suporte, legitima seus governantes. A população de um país forma um coletivo, que é responsável pela ação de seus representantes.
É importante destacar que tanto na Inglaterra, quanto nos Estados Unidos, os líderes do governo foram reeleitos após as últimas guerras no Afeganistão e no Iraque, conflitos que foram usados como trunfos políticos por ambos os líderes, ou seja, a população, enquanto coletivo, é absolutamente responsável e endossa as atitudes de seus governantes.
Acontece que somos humanos, não nos adianta o olhar distante do historiador, nossas emoções sabem muito mais que nossa razão que nem todos os indíviduos que compõe o coletivo apoiam ou dão suporte ao governo, de forma direta ou indireta, que há possibilidade de que entre as vítimas do último ataque terrorista em Londres haja algum poeta pacifista ou alguma criança que começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria.
3 comentários:
Sensível, emocionante, direto.
Não há o que dizer.
Lágrimas nos olhos, aperto no peito, desalento na alma...
Estou encantada! Parabéns...
Obrigado! Elogios assim são um incentivo a permanecer escrevendo, sem dúvida, são uma forma de alimento, de recompensa. Felicidades!
Não deixe de escrever nunca anjinho.
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