Depois de chamar os parlamentares de "besta-feras" e o Congresso Nacional de "picadeiro" em mensagem que circulou na intranet da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, no último dia 6, Mauro Marcelo de Lima e Silva, diretor geral da Abin, pede demissão.
Mesmo que as personagens envolvidas se tratassem de funcionários do setor de segurança de uma empresa privada se referindo à assembléia geral de acionistas, que portanto não estivessem ligados às principais instituições da república, seria difícil entender como alguém chega com tamanha imaturidade ao cargo de diretor de uma instituição com o porte e a representatividade da Abin.
É verdade que mensagens internas da Abin, quer circulem pela intranet, quer em qualquer outro meio, não deveriam vazar, mas também é óbvio que da mesma forma que existe a espionagem, existe a contra-espionagem e isso qualquer estagiário de araponga deveria saber.
Tal qual reclamou o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP) a nota é realmente inaceitável, é um desrespeito ao Congresso Nacional, é um desrespeito ao país, a demissão é realmemente a menor punição necessária para tal sandice, mas não é apenas isso.
Não se trata de questão restrita apenas ao pessoal e ao personificado, trata-se, antes de mais nada, de questão institucional gravíssima, uma vez que além de ser Mauro Marcelo, o autor da nota, no momento em que a redige é também diretor geral do serviço secreto, está legitimado a falar em nome da instituição e, dessa forma, a Abin é responsável pela íntegra da mensagem enquanto instituição.
Contudo, as nomeações para cargos de confiança não são realizadas por eleições entre os servidores da instituição. A diretoria e o diretor geral nem sempre estão em plena consonância com o pensamento hegemônico da instituição, mas, independente disso, é ele quem vai nomear, direta ou indiretamente, todos os cargos de confiança da instituição, naturamente com pessoas de sua confiança. Pessoas cujo pensamento se assemelhe ao seu.
O mais grave, entretanto, é que o diretor geral da Abin, como qualquer outro cargo de confiança do Executivo, é nomeado por um superior, que é nomeado também por um superior, até chegar ao Presidente da República. A partir do pensamento e da personalidade de um único homem é definido, em princípio, todo o funcionamento do executivo, pois todos os cargos de confiança são nomeados direta ou indiretamente por ele. Um único homem define como funciona toda a máquina governamental.
O Presidente da República, por sua vez, é eleito pelos brasileiros aptos e obrigados a votar, pela maioria da população jovem e adulta da nação: o Brasil. Mais da metade dos eleitores brasileiros se identificaram, em maior ou menor grau com a personalidade eleita para o cargo de chefe supremo da nação e portanto se identificam, quer queira ou quer não, com cada ministro, secretário e diretor da máquina administrativa estatal.
Dessa forma deve-se compreender que é a nação brasileira que desrespeita o Congresso Nacional, pois o diretor geral demitido da Abin ao redigir sua mensagem não a redigiu somente em seu próprio nome, mas em nome da Abin, do Executivo e de cada brasileiro, mas não é o Congresso Nacional também representante dessa mesma nação? Desses mesmos eleitores?
Quantos brasileiros, embora indignados com tal texto originado de orgão do executivo, não concordam em gênero, número e grau com a classificação atribuída ao Congresso Nacional e seus congressistas, muitos talvez até mentalizando o grande complexo de entretenimento formado por Legislativo, Executivo e Judiciário?
Do Judiciário nem adianta reclamar, pois que para a sociedade intervir nos desmandos do terceiro poder é preciso talvez uma nova Constituição e essa depende da renovação do Legislativo e do Executivo, mas os últimos já representam e personificam essa sociedade, são sua própria expressão.
É a própria sociedade brasileira que não respeita a si mesma, que se transforma em nação-circo, que define seus representantes enquanto mitos mitos bons ou maus, heróis ou demônios e se assume enquanto palhaços deste mesmo picadeiro chamado Brasil, pois o papel que cada um de nós representa pode ser até diferente, mas a história, essa é a mesma de sempre.
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