sábado, julho 16, 2005


O artista plástico Charles Narloch (foto), de Joinville, participa da mostra "A Poética da Morte na Cultura Brasileira" no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em Florianópolis (6/12/2001). Foto do jornal A Notícia (Joinville, 6 de dezembro de 2001). Posted by Picasa

Foto do jornal A Notícia (Joinville, 6 de Dezembro de 2001) sobre a performance "Não Morro Só", que une instalação, body art e performance. Nela Charles Narloch apresenta reflexão sobre a morte violenta e trágica de homossexuais. Posted by Picasa

Foto do jornal A Notícia (Joinville, 19 de julho de 1999) com a seguinte legenda: Convidado pela coordenação dos Eventos Especiais do Festival de Dança a embelezar a cidade, Narloch volta a dar o que falar. "A pintura é para manifestar como a sociedade é preconceituosa", diz o artista Posted by Picasa

sexta-feira, julho 15, 2005

Pedindo a paz sem oferecer nada em troca

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, jurou que seu país "libertará o mundo dos malvados" e o papa disse que as pessoas estão rodeadas "pelas armações dos malvados" que atentam contra sua existência e querem "destruir todos os valores humanos".

Não, infelizmente não, nem Bush, nem papa estavam se referindo à tirinha dos malvados, a mais nova droga dos blogados, orkutados e googleados - não necessariamente nessa mesma ordem, uma pena, pois é bom quando pessoas de talento se tornam famosas.

Será que umas tirinhas em inglês e alemão ajudariam malvadão e malvadinho, que não são nem girassóis, nem margaridas, a ganharem fama mundial? Em tempo de tanta luta do bem contra o mal as tirinhas de André Dahmer fazem muito mais que divertir, são, como o próprio autor as define "um tapa na cara".

Para sintonizar os malvados ajuste seu dial para http://www.malvados.com.br e não deixe de conferir a seção "Proibidões" - ou o melhor dos Malvados. Depois de ver a tirinha do dia é inevitável seguir em busca de mais e mais, pois há um acervo viciante de Malvados.

Cena recorrente no universo dos malvados são as manifestações "pedindo a paz sem oferecer nada em troca" do malvadinho ou dos malvadinhos, sem dúvida uma sacada brilhante de André, que desnuda em um quadrinho a hipocrisia, tanto da luta anti-terrorismo, quanto da luta contra a violência urbana no Brasil, talvez no mundo.

Votos de longevidade ao Malvados, que estão sendo publicados no B do Jornal do Brasil desde que o Ziraldo assumiu a editoria. Como alguém disse na comunidade orkut Clube dos Malvados, tomara que em alguns dias os malvados se tornem atração nos Fantástico.

Vale a pena conferir, falta agora o André Dahmer disponibilizar os Malvados por RSS, da mesma forma que se pode acessar este blog apontando um newsreader como o Thunderbird para para http://www.anjomecanico.blogspot.com/atom.xml.

quinta-feira, julho 14, 2005

Voltaire, Da Vinci, Potter e o Papa

Às vésperas do lançamento do livro "Harry Potter and the Half Blood Prince", de J.K. Rowling, que tem lançamento marcado para 16 de julho, a escritora alemã Gabriele Kuby, de "Harry Potter: Good or Evil", divulgou trechos de duas cartas escritas a ela pelo papa Bento XVI em 2003, quando ainda era cardeal.

Kuby, católica fervorosa, atribui ao papa as afirmações de que os livros de Harry Potter exercem sedução sutil sobre os leitores jovens e distorcem o cristianismo na alma antes de ele ter tempo de se desenvolver de maneira adequada. O papa, então cardeal, teria autorizado na época a divulgação de seus comentários.

Ainda no início deste ano algumas autoridades do Vaticano condenaram o blockbuster "O Código Da Vinci", de Dan Brown, cujo enredo se refere a uma conspiração católica, que também foi classificado como uma distorção histórica absurda e que é repleto de mentiras baratas, mas o principal a se destacar é que o cardeal Tarcisio Bertone recomendou que as livrarias católicas o retirassem das estantes.

Pode soar clichê retomar Voltaire a essa altura dos tempos com seu aforismo clássico: “Eu não concordo com o que você diz, mas defendo, mesmo até à morte, o seu direito de se exprimir!”, mas esse é o sentimento que floresce diante da ação inquisitória das autoridades católicas citadas.

É certo que tais declarações contribuem para ampliar o interesse pelas obras atacadas, assim como este post, chegando a parecer quase um truque de divulgação no melhor estilo Bruxa de Blair ou Matrix, mas não cabe a ninguém, seja do Estado, seja da Igreja, definir o que pode ou não estar disponível para os leitores.

Os leitores, crianças, jovens ou adultos, têm o direito e a necessidade de se expor aos mais diferentes estímulos, vivências ou idéias, precisam vivenciar a diversidade e a pluralidade do mundo para que possam aprender também a respeitar essa diversidade.

Aprender que bem e mal se misturam, que ambos seduzem e que ambos estão presentes dentro de cada um é fundamental para que aprender o que deveria ser o valor principal de qualquer religião: o respeito à vida, seja qual for o pensamento, seja qual for o credo.

É tempo de construir uma vida repleta de sim, de aceitação e não uma negação da vida, uma negação do outro diferente. A repressão e a discriminação não ajudam a construir a paz e a segurança como tanto se fala, pelo contrário, inflamam o ódio e incentivam a violência entre as pessoas.

quarta-feira, julho 13, 2005

Arapongas, bestas-feras e palhaços

Depois de chamar os parlamentares de "besta-feras" e o Congresso Nacional de "picadeiro" em mensagem que circulou na intranet da Agência Brasileira de Inteligência, Abin, no último dia 6, Mauro Marcelo de Lima e Silva, diretor geral da Abin, pede demissão.

Mesmo que as personagens envolvidas se tratassem de funcionários do setor de segurança de uma empresa privada se referindo à assembléia geral de acionistas, que portanto não estivessem ligados às principais instituições da república, seria difícil entender como alguém chega com tamanha imaturidade ao cargo de diretor de uma instituição com o porte e a representatividade da Abin.

É verdade que mensagens internas da Abin, quer circulem pela intranet, quer em qualquer outro meio, não deveriam vazar, mas também é óbvio que da mesma forma que existe a espionagem, existe a contra-espionagem e isso qualquer estagiário de araponga deveria saber.

Tal qual reclamou o deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP) a nota é realmente inaceitável, é um desrespeito ao Congresso Nacional, é um desrespeito ao país, a demissão é realmemente a menor punição necessária para tal sandice, mas não é apenas isso.

Não se trata de questão restrita apenas ao pessoal e ao personificado, trata-se, antes de mais nada, de questão institucional gravíssima, uma vez que além de ser Mauro Marcelo, o autor da nota, no momento em que a redige é também diretor geral do serviço secreto, está legitimado a falar em nome da instituição e, dessa forma, a Abin é responsável pela íntegra da mensagem enquanto instituição.

Contudo, as nomeações para cargos de confiança não são realizadas por eleições entre os servidores da instituição. A diretoria e o diretor geral nem sempre estão em plena consonância com o pensamento hegemônico da instituição, mas, independente disso, é ele quem vai nomear, direta ou indiretamente, todos os cargos de confiança da instituição, naturamente com pessoas de sua confiança. Pessoas cujo pensamento se assemelhe ao seu.

O mais grave, entretanto, é que o diretor geral da Abin, como qualquer outro cargo de confiança do Executivo, é nomeado por um superior, que é nomeado também por um superior, até chegar ao Presidente da República. A partir do pensamento e da personalidade de um único homem é definido, em princípio, todo o funcionamento do executivo, pois todos os cargos de confiança são nomeados direta ou indiretamente por ele. Um único homem define como funciona toda a máquina governamental.

O Presidente da República, por sua vez, é eleito pelos brasileiros aptos e obrigados a votar, pela maioria da população jovem e adulta da nação: o Brasil. Mais da metade dos eleitores brasileiros se identificaram, em maior ou menor grau com a personalidade eleita para o cargo de chefe supremo da nação e portanto se identificam, quer queira ou quer não, com cada ministro, secretário e diretor da máquina administrativa estatal.

Dessa forma deve-se compreender que é a nação brasileira que desrespeita o Congresso Nacional, pois o diretor geral demitido da Abin ao redigir sua mensagem não a redigiu somente em seu próprio nome, mas em nome da Abin, do Executivo e de cada brasileiro, mas não é o Congresso Nacional também representante dessa mesma nação? Desses mesmos eleitores?

Quantos brasileiros, embora indignados com tal texto originado de orgão do executivo, não concordam em gênero, número e grau com a classificação atribuída ao Congresso Nacional e seus congressistas, muitos talvez até mentalizando o grande complexo de entretenimento formado por Legislativo, Executivo e Judiciário?

Do Judiciário nem adianta reclamar, pois que para a sociedade intervir nos desmandos do terceiro poder é preciso talvez uma nova Constituição e essa depende da renovação do Legislativo e do Executivo, mas os últimos já representam e personificam essa sociedade, são sua própria expressão.

É a própria sociedade brasileira que não respeita a si mesma, que se transforma em nação-circo, que define seus representantes enquanto mitos mitos bons ou maus, heróis ou demônios e se assume enquanto palhaços deste mesmo picadeiro chamado Brasil, pois o papel que cada um de nós representa pode ser até diferente, mas a história, essa é a mesma de sempre.

O maior elogio que poderia receber de alguém, ser posto lado a lado com ele, diplomata, compositor, cronista, literato, cantor e, claro, poeta, o poetinha, o grande vininha, o Vinícios de Morais. Não vou dizer que não mereço, é óbvio, é claro que não, mas não posso negar que me envaideço, tamanho o elogio. Saravá! Posted by Picasa

terça-feira, julho 12, 2005

Fim da esperança ou fim da salvação?

Em 1889 um golpe de estado implantou a república, uma parte daqueles que deram suporte ao golpe desejavam um governo de exceção, também chamado um governo de fato, ou seja, um governo que se opõe ao estado de direito, portanto constitucional. Em outras palavras, desejavam trocar um imperador por um ditador.

O Estado brasileiro caminha exatmente assim, alternando governo constitucionais e governos de exceção, alguns menos sanguinários, outros mais, alguns mais reponsáveis com as finanças, outros menos, mas todos, se não eram um representante escolhido pelas oligarquias, eram obrigados a negociar com elas.

Não foi apenas um o salvador do Brasil, de Hermes da Fonseca, Floriano Peixoto, passando por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Goubery, Costa e Silva, chegando em Tancredo Neves, Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.

Lula traz um diferencial, é o primeiro presidente de origem popular, um sindicalista, que construiu sua história na luta pelo exercício da cidadania, na luta por melhores condições para o trabalhador, na luta por democracia e pelo respeito aos direitos humanos. Não se pode negar esse diferencial, mas Lula também é um salvador.

O presidente é eleito para salvar as pessoas. A esperança, infelizmente, não é a esperança de que a população assuma a governança do país, assuma o exercício da cidadania, é a esperança de que alguém resolva o problema da fome, do desemprego, da corrupção e tantos outros como num passe de mágica.

Agora Lula frustra a sociedade, que descobre que o governo continua o mesmo, que o Estado brasileiro continua corrupto, que a ausência de transparência permanece como necessidade para a estabilidade política, Lula também é corrupto. A população se depara com o fato de que não há ninguém em quem confiar.

Esse é talvez o passo mais importante da história da democracia brasileira: a sociedade compreender que não é possível acreditar em salvação, que um salvador resolverá com todo o seu poder todos os problemas do país.

O mais importante é compreender que é necessário aperfeiçoar a democracia, aperfeiçoar a participação da sociedade nas decisões governamentais, pois se o que a maioria deseja é a república presidencialista nas condições nos moldes em que existem hoje, é importante que essas instituições sejam fortalecidas em detrimento à esperança depositada nessa ou naquela personagem.

Não há nenhum salvador para o Brasil, pois a solução está na participação, no exercício da cidadania, na tomada de poder por parte da população, na busca de soluções reais para seus problemas dentro das comunidades e na escolha de representantes legítimos em cada instância governativa.

A descrença em qualquer salvador para o Brasil é o grande legado a ser deixado pelo, assim se deseja, último dos salvadores da nação brasileira.
Às vezes a gente odeia uma figura mesmo antes de conhecer e não sabe direito o motivo, tenta resolver a dissonância com algo bobo e sem sentido, mas nossa explicação não resiste ao primeiro confronto direto...

Pô, a figura vai publicizar nossas facetas que desejamos manter escondidas, vai chamar a atenção para aquilo que a gente quer que permaneça discreto! A figura ainda se acha o máximo fazendo isso! Como explicar para os amigos que a gente odeia a figura justamente por exalar aquilo que somos?

Às vezes isso dá paixão também...

Para Nathy,

Eu sinto muito, sinto de verdade, não quero falar muito, pois só o afeto verdadeiro é capaz de acalmar o coração, que toma todo o corpo para si e ainda assim não se contenta de tão apertado, que só um abraço apertado, prolongado e com amor para sempre é capaz de acalmar um instante.

Não estou ao seu lado, deixei de estar, tenho minhas desculpas, elas não servem de muita coisa, não são mais que desculpas, ainda que meu pensamento tenha estado com você tantas vezes desde então. Não estou presente e sinto por isso, não estar presente quando você mais precisa, mas há pouco a fazer a essa altura.

Não há nada além do acalanto de quem ama de verdade, nada além de vivenciar o que maltrata, o carinho de quem está perto, a energia de quem está longe.

Talvez escrever, talvez pintar, às vezes gritar, girar, até dançar, que nem toda dança é de alegria. Talvez contemplar à beira da praia as ondas que vão e vem carregando um pouco do sofrer que brota, esperar que todo o dia se passe a cada minuto.

Não se assuste com a vontade de parar sentada olhando o tempo, que é tempo de viver e não de fazer, é tempo de passar, de passar a alegria, a tristeza, a agonia e a certeza. É tempo de perceber que o amor não passa, que o amor fica, que o amor, ah! o amor...

Enquanto o amor se finca bem dentro da gente, o mundo passa devagar ao longe, como se nada tivesse a ver com nossa vida. E se não há nada a fazer para sanar a dor, por que fazer alguma coisa?


Tudo que nos resta é sentir tudo e com toda a intensidade, deixar que as lagrimas esvaziem nossa tristeza, deixar que dor saia por cada poro de nosso corpo inteiro.

É preciso sentir, é preciso ver, é preciso ouvir, é preciso cheirar. É preciso ver o mar, é preciso ouvir o vento, é preciso cheirar a relva. É preciso sentir o amor que nos aquece e o que nos mata. Podemos fazer isso, por que não?

segunda-feira, julho 11, 2005

Começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria

É possível que entre as vítimas do atentado exista uma menina de cinco anos que iniciava suas aulas de piano, que no trem a caminho da aula ainda balbuciava as notas da primeira aula e dos primeiros ensaios: "mi mi fa sol sol fa mi re do...", uma das primeiras que se aprende ao piano em nosso mundo ocidental.

Ao mesmo tempo, vinham-lhe as imagens do entardecer do dia anterior, quando logo ao chegar em casa, procura ansiosa e inquieta aquele álbum da nona já um pouco empoeirado, coloca o disco no aparelho, procura a faixa correta, aumenta o volume ao máximo, pois que nenhum máximo jamais será suficiente para tal explendor e inicia-se para ela, só para ela, a primeira lição ao piano, a maior lição da vida, a grande ode.

A cançao se inicia com a orquestra relembrando os movimentos anteriores, como que ligando passado e futuro, descartando-os um a um, buscando o caminho certo, enquanto a mente busca ansiosa as primeiras notas do tema principal, que se encerra, é retomado pelos sopros e é novamente quebrado.

A ode então renasce nos graves, repete-se de forma calma, serena, avança com a orquestra, se expande por todo o ambiente, mas, de repente, é interrompida, há agitação por toda parte, busca-se uma acomodação, um lugar seguro para partir, há muita tensão no ar.

É anunciado então o barítono, que canta os primeiros versos da ode: "O Freunde, nicht diese Töne, sondern lasst uns angenehmere anstimmen, und freudenvollere." (Amigos, chega desse tom, Melhor se tocarmos algo mais agradável e cheio de alegria)

Ao que a multidão do côro entôa bravamente "Freude!" (Alegria!) e o barítono heróicamente proclama toda a primeira parte da ode: "Freude, schöner Götterfunken. Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder, Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)

A ode continua com um quarteto de vozes: "Wem der grosse Wurf gelungen, Eines Freundes Freund zu sein, Wer ein holdes Weib errungen, Mische seinen Jubel ein! Ja--wer auch nur eine Seele Sein nennt auf' dem Erdenrund! Und wer's nie gekonnt, der stehle Weinend sich aus diesem Bund." (Aquele que conseguiu, Ser amigo de um amigo, Aquele que tem uma nobre esposa, Festeje também! Sim-se existe uma alma solitária! No mundo que clama por Ele! Mas o que não pode! Angustiado, deve ficar de fora)

Tornando-se cada vez mais elaborada a ode preenche a mente da menina, imaginando-se um dia, ela o piano, a orquestra e o coro, heróicamente repetindo heróicamente as últimas quatro linhas do poema: "Freude trinken alle Wesen! An den Brüsten der Natur; Alle Guten, alle Bösen! Folgen irher Rosenspur. Küsse gab sie uns und RebenEinen Freund, geprüft im Tod; Wollust ward dem Wurm gegeben, Und der Cherub steht vor Gott." (Todos os seres bebam à alegria! No peito da natureza; Todos os bons, todos os maus! Como experimentam o presente dela! Ela nos deu beijos e videiras! Um amigo até o fim; Até mesmo o verme pode sentir alegria! E o Querubim prosta-se ante Deus).

Tudo para no momento em que a palavra Deus é pronunciada pela última vez. Surge o silêncio, os olhos estão fechados, a parada do conservatório está próxima quando inicia-se uma marcha militar, que reforça o solo do tenor: "Froh, wie seine Sonnen fliegen! Durch des Himmels prachtgen Plan, Wandelt, Bruder, eure Bahn, Freudig wie ein Held zum Siegen." (Com alegria, como os corpos celestes! Que Ele colocou em seus cursos pelo esplendor do firmamento! Então, irmãos, sigam seus caminhos! Alegres, como um herói rumo à conquista).

Faz-se um intervalo com a orquestra e o coro recomeça repetindo incessantemente: "Freude, schöner Götterfunken! Tochter aus Elysium Filha de Elysium Wir betreten feuertrunken, Himmlische, dein Heiligtum. Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt; Alle Menschen werden Brüder,Wo dein sanfter Flügel weilt." (Alegria, linda faísca divina! Inspirados pelo fogo, nós marchamos! Divino, Teu santuário! Tua magia reúne! O que a tradição severamente separou! Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa).

O drama se espalha e o poema continua, repetindo-se sem cessar: "Seid umschlungen, Millionen! Diesen Kub der ganzen Welt! Bruder - uberm Sternenzelt! Mub ein lieber Vater wohnen". (Milhões, um abraço à vocês! Este beijo é para todo o mundo! Irmãos- acima da cúpula estrelar! Deve morar um Pai que nos ama).

Em veneração "Ihr stürt nieder, Millionen?" (Milhões, vocês se ajoelham?). A esperança cresce com a música, então se dá o final: "Ahnest du den Schopfer, Welt? Such ihn uberm Sternenzelt! Uber Sternen mub er wohnen." (Vocês percebem o Criador, Mundo? Procurem-No nos céus! Ele deve morar sobre as estrelas.)

O quarteto então entra retomando o início do poema: "Tochter aus Elysium, Deine Sauber binden wieder, Was die Mode streng geteilt." (Filha de Elysium, Tua magia reúne, O que a tradição severamente separou.) E o côro retoma com "Alle Menschen werden Brüder Wo dein sanfter Flügel weilt." (Todos os homens se tornam irmãos! Sob o suave balanço de Tua asa.)

Enquanto os mesmos versos são repetidos com extrema alegria pelo quarteto em busca do clímax, a conclusão se dá com uma explosão, os vagões ficam escuros, o solavando derruba a menina, dezenas de pessoas caem sobre ela enquanto o vagão queima, há dor, muita dor e, de repente, a dor para, mas os versos persistem, desejam permanecer enquanto as luzes de emergência se apagam, enquanto a alegria encontra sua conclusão, enquanto a vida se extingue em busca do clímax.

A população civil de um país tem sim responsabilidade pela ação de seus governantes, seja por que eles foram eleitos através do voto direto ou indireto, seja por que essa população dá suporte, legitima seus governantes. A população de um país forma um coletivo, que é responsável pela ação de seus representantes.

É importante destacar que tanto na Inglaterra, quanto nos Estados Unidos, os líderes do governo foram reeleitos após as últimas guerras no Afeganistão e no Iraque, conflitos que foram usados como trunfos políticos por ambos os líderes, ou seja, a população, enquanto coletivo, é absolutamente responsável e endossa as atitudes de seus governantes.

Acontece que somos humanos, não nos adianta o olhar distante do historiador, nossas emoções sabem muito mais que nossa razão que nem todos os indíviduos que compõe o coletivo apoiam ou dão suporte ao governo, de forma direta ou indireta, que há possibilidade de que entre as vítimas do último ataque terrorista em Londres haja algum poeta pacifista ou alguma criança que começava a descobrir as traduções mais sublimes da alegria.

domingo, julho 10, 2005

Crise e Felicidade

A crise aproxima a felicidade, em momentos de crise é que se tem clareza do que é a sua negação: A notícia de explosões de bombas em atentados terroristas torna feliz quem que se sente seguro em casa, no trabalho ou em seus caminhos. A notícia da fome e da desnutrição torna feliz quem tem perpectiva de se saciar plenamente pelo resto da vida. A notícia da morte torna feliz quem é imortal, em corpo ou em alma.

Não há atalho, não há caminho certo, não há mapa detalhado para a felicidade, talvez felicidade seja nada mais que acreditar que se está a caminho dela e se ter motivação suficiente para seguir esse caminho. Talvez seja apenas um longo caminho que se inicia com o nascimento e se encerra provavelmente com a morte, mas um caminho por vezes tão difícil e tão pesado que se torna necessário acreditar em algum atalho.

É na promessa de atalho que reside o perigo, pois distanciam ainda mais a felicidade possível: acreditar que se pode prosseguir em sua busca. Os atalhos sempre falham, ou por que a tal felicidade nunca chega ou por que é deixada a cargo da eternidade, para depois da morte.

O terrorismo é um desses atalhos, a violência satisfaz, é um caminho breve para sensação de segurança, de poder e de reconhecimento. É um caminho de retrocesso, onde cada vitória representa uma perda, muitas vezes despercebida, muitas vezes maior que o que se pode ganhar, mas é busca da felicidade.
Há um artigo que recomento a todos, do Millôr Fernandes (2005), um ótimo artigo, que muito me serve para expressar boa parte das minhas idéias e para complementar o que já foi dito aqui nos últimos dias:

"O mundo está melhor. Só fica horrorizado com o presente do Iraque, onde o número de vítimas é mínimo – e que logo são socorridas e anestesiadas pra que não sintam dor –, quem não sabe que os turcos mataram 1 milhão de armênios (de uma população de 3 milhões) no século XX e nunca ouviu falar na Guerra de 18 – a Grande Guerra. Os caras apodreciam nas trincheiras. E os ferimentos não eram bonitinhos como no cinema. O soldado via o companheiro a seu lado berrando aos céus sem um pedaço da cara, sem um olho. Sem socorro.

(...)

Acabo de ler um livro admirável, Wide as the Waters (Benson Bobrick; Simon & Schuster; 380 páginas). Livro impossível de ser traduzido, pois trata justamente da luta mortal, na Inglaterra, através de séculos, pra traduzir a Bíblia pro povo. Contém comparações lingüísticas de rara beleza – em inglês! A Bíblia que resultou dessas traduções influenciou definitivamente na luta entre o Papado, a Reforma, o Stablishment inglês. A Bíbliaampla como as águas. A maior influência pra formação da língua inglesa, pra unificação da unidade nacional.

É desse admirável Livro – feito por scholars e tratando de assunto em que só entram scholars – que tiro este pequeno trecho: "Todos os historiadores católicos reconhecem as múltiplas manifestações de corrupção da Igreja medieval – parecia determinada a se autodesacreditar. Tudo podia ser obtido por dinheiro, por mais danoso que isso fosse pra própria Igreja".

(...)

Aí é que foi a inana. Felipe, o Belo, da França, cobiçando a riqueza da Igreja, taxou pesadamente os clérigos franceses. O Papa Bonifácio resolveu enfrentá-lo, mas foi vencido, e espancado até a morte. Logo depois Clemente V, a pedido de Felipe, transferiu o papado para Avignon, na França, onde ficou sessenta anos, perdendo todo o prestígio.

Só recuperado materialmente por seu sucessor, João XXII, que criou o sistema de apaziguar os pecados com a venda de indulgências! Qualquer um com dinheiro podia pecar (agir criminosamente) com impunidade.

(...)

Também na Inglaterra os prelados possuíam imensas propriedades rurais, tinham rendas principescas, e poderes eclesiásticos e civis inacreditáveis. Anátemas terríveis eram expelidos dos púlpitos contra todos os que resistiam aos desígnios do mando. Os mais ferozes anátemas eram excomunhões "gerais", que excediam qualquer pena contra crimes capitais. Exemplo:
"Que sejam malditos pelo que comem e pelo que bebem; pelo que andam e pelo que param; quando remam e quando cavalgam; porque riem e porque choram; em casa ou no campo; na água ou em terra, em todos os lugares. Amaldiçoados sejam seus pensamentos e suas cabeças; seus olhos e seus ouvidos; suas línguas e seus lábios; seus dentes e suas gargantas; seus ombros e seus peitos; seus pés e suas pernas; suas coxas e seus bofes. E que permaneçam malditos da sola dos pés ao alto da cabeça, a não ser que reflitam no que dizem e pensam e fazem, e venham dar satisfações".

Mensalão – eu, hein?!"