Em 1889 um golpe de estado implantou a república, uma parte daqueles que deram suporte ao golpe desejavam um governo de exceção, também chamado um governo de fato, ou seja, um governo que se opõe ao estado de direito, portanto constitucional. Em outras palavras, desejavam trocar um imperador por um ditador.
O Estado brasileiro caminha exatmente assim, alternando governo constitucionais e governos de exceção, alguns menos sanguinários, outros mais, alguns mais reponsáveis com as finanças, outros menos, mas todos, se não eram um representante escolhido pelas oligarquias, eram obrigados a negociar com elas.
Não foi apenas um o salvador do Brasil, de Hermes da Fonseca, Floriano Peixoto, passando por Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Goubery, Costa e Silva, chegando em Tancredo Neves, Fernando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso.
Lula traz um diferencial, é o primeiro presidente de origem popular, um sindicalista, que construiu sua história na luta pelo exercício da cidadania, na luta por melhores condições para o trabalhador, na luta por democracia e pelo respeito aos direitos humanos. Não se pode negar esse diferencial, mas Lula também é um salvador.
O presidente é eleito para salvar as pessoas. A esperança, infelizmente, não é a esperança de que a população assuma a governança do país, assuma o exercício da cidadania, é a esperança de que alguém resolva o problema da fome, do desemprego, da corrupção e tantos outros como num passe de mágica.
Agora Lula frustra a sociedade, que descobre que o governo continua o mesmo, que o Estado brasileiro continua corrupto, que a ausência de transparência permanece como necessidade para a estabilidade política, Lula também é corrupto. A população se depara com o fato de que não há ninguém em quem confiar.
Esse é talvez o passo mais importante da história da democracia brasileira: a sociedade compreender que não é possível acreditar em salvação, que um salvador resolverá com todo o seu poder todos os problemas do país.
O mais importante é compreender que é necessário aperfeiçoar a democracia, aperfeiçoar a participação da sociedade nas decisões governamentais, pois se o que a maioria deseja é a república presidencialista nas condições nos moldes em que existem hoje, é importante que essas instituições sejam fortalecidas em detrimento à esperança depositada nessa ou naquela personagem.
Não há nenhum salvador para o Brasil, pois a solução está na participação, no exercício da cidadania, na tomada de poder por parte da população, na busca de soluções reais para seus problemas dentro das comunidades e na escolha de representantes legítimos em cada instância governativa.
A descrença em qualquer salvador para o Brasil é o grande legado a ser deixado pelo, assim se deseja, último dos salvadores da nação brasileira.
3 comentários:
Ótimo Post. Realmente não existe salvador, nunca existiu, mas as pessoas irão continuar esperando por ele. Assisti ao filme Terra em Transe e nele o personagem principal diz que o povo não tem maturidade para se auto-governar, e infelizmente isto é uma grande verdade. Duas ótimas coisas aconteceram nos últimos anos. 1ª foi o fim do gov. Collor, 2ª foi o tio Bob Jef. As pessoas irão a partir disso aprender a fiscalizar melhor o gov. Isto é exercer a cidadania. Votar e depois cobrar para que as promessas sejam cumpridas. Hoje quem votou no Tio Bob Jef nem se lembra mais ou simplesmente ignoram o fato. Depois de toda esta crise política o eleitorado Brasileiro com certeza vai ter mais maturidade e a tendência eu acredito é melhorar.
Não acredito na tese de que o povo não tem maturidade para governar, existe sim, uma tese de que o povo precisa ser governado por uma elite esclarecida, é um discurso forte das elites que é praticamente hegemônico, mas acredito que isso até perdeu um pouco do encanto com a chegado do Lula ao executivo, uma vez que Lula é um representante do povo e não das elites.
Em todo caso concordo que o aprendizado será importante, mas isso não significa uma grande mudança já nas próximas eleições, a ficha normalmente demora para cair.
Concordo que Lula seja um representante do povo, mas o modo como vêm governando o país é semelhante à forma de um FHC. Acho isto positivo. O Lula de 10 anos atrás não poderia ter sido eleito, teve que amadurecer e perceber que as coisas não são como ele pensava. Normalmente governos populares são muito radicais e acabam caindo rapidamente. É necessário um meio termo.
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