Toda a crise leva a alguma renovação, espera-se. A importância maior da crise política nacional vivida atualmente situa-se exatamente no fato de que o PT representava a esperança de moralização política do Brasil, mas o que se percebe é que o PT está envolvido também em corrupção, a mesma corrupção que é praticamente imagem do Estado nesta nação.
Não se sabe e, provavelmente, nunca se vai saber se o atual governo, composto de executivo, de legislativo, de judiciário e também de traficantes (de influências, por enquanto) é mais ou menos corrupto que os governos anteriores, de Tomé de Souza a Fernando Henrique Cardoso.
Quem pode julgar a corrupção hoje no Brasil? Corrupção envolvendo o PT, o Partido dos Trabalhadores, na verdade o partido da classe média, de maioria católica, com um grande de lastro de luta pela tentativa de democratizar o Brasil, pelo orçamento participativo nos municípios, pelo apoio moderado à reforma agrária e outras tantas lutas travadas no Brasil recente.
Certamente não são os representantes, novos ou antigos, das oligarquias brasileiras, estes sempre foram e ainda são corruptos e, estão, no máximo, brigando pelo direito de corromper e ser corrompidos, como que reclamando de volta uma prerrogativa que um partido da classe média lhes quer tirar.
Certamente não é o judiciário, uma organização hermética, opressora, ostentadora, criada para defender os interesses dos grupos dominantes e que ainda serve unicamente aos interesses que lhe pariram, até por que o povo pouco pode influir, muito embora seja sustentada com o dinheiro público.
Poderia ser a nação como um todo, o eleitorado, mas que opções restam ao eleitor? Poderia se falar o PSol da Heloísa Helena, de admirável força, mas não era também o Lula do PT um guerreiro no mesmo estilo?
Parte mínima do eleitorado, que não se vê representada pelos governantes, defende o voto nulo, a intenção é a melhor de todas, mas mesmo que a maioria dos eleitores se tornasse consciente da falsa democracia, isso não significa que os desdobramentos seriam seguros, que não se correria o risco do estabelecimento de uma guerra civil.
É possível considerar que quem vai efetivamente julgar a questão é o eleitorado, sobre o que as pesquisas indicam que: (a) a crença é de que Lula sabe e sabia dos esquemas de corrupção, ou seja, que é cúmplice ou ator; (b) que deseja reeleger Lula para mais um mandato; (c) que acredita que os demais partidos e políticos também estão ou estiveram envolvidos em corrupção.
Disso é possível deduzir que (a) a população não é ingênua para acreditar em história da carochinha, (b) que a população não deseja um movimento de caça às bruxas e que ainda considera Lula e, talvez, o PT enquanto seus representantes legítimos e (c) que, de fato, não há perspectiva melhor para o futuro próximo.
Reeleger ou não o Lula é um dilema, pois, de um lado, a nação estaria legitimando formalmente a corrupção como instrumento de governo e de política, mas, de outro, estaria fazendo valer sua vontade acima do que considera um denuncismo, ou seja, acredita de alguma forma que a corrupção existe, mas que agora está sendo publicizada por não serem o Lula e o PT representantes diretos das elites.
A opção de reeleger Lula em detrimento do voto nulo, que seria a opção mais radical, aquela de repudia o sistema, o protesto esclarecido, representa uma escolha abstrata, a de realizar reformas graduais e não radicais no governo. É uma opção conservadora, uma opção que o PT adotou para que pudesse se tornar governo.
Se o PT optou por realizar reformas graduais, se precisou adotar uma postura oficial mais conservadora para que pudesse se eleger e assim foi eleito de fato, é fato que o eleitorado deseja mudança, mas a deseja gradual, sem choques. Deseja reforma e não revolução.
O eleitorado, consciente ou não disso, já previa e até pode se dizer que desejava, desde as eleições, que o PT fizesse o máximo de uso possível do sistema existente, estabelecido, então era e ainda é preciso usar de corrupção para governar. O PT só está fazendo a lição de casa.
O que muitos defendem é que é preciso investir na educação para melhorar o país de verdade, mas ao Estado, que representa aqueles que detêm a força: os grandes latifundiários, os grandes banqueiros, os grandes industriais, os grandes comerciários, não deseja, naturalmente, que a educação venha a prover mais que esperança à população em geral.
Esperança é muito importante, esperança faz com que as pessoas não se rebelem contra o sistema, mantém a ordem na sociedade, a educação é importante para isso, pois promove um ou outro indivíduo, oriundo das classes populares, que consegue se graduar, que consegue uma profissão boa, que consegue virar mestre, até doutor ou consegue enriquecer.
Essas pessoas são muito importantes, pois servem para mostrar que a grande maioria das pessoas só é miserável por sua própria incompetência, que passa fome apenas por que não teve a competência necessária para construir uma vida digna, afinal “fulano de tal da silva”, que nasceu e cresceu nas mesmas condições de todos os outros na comunidade, conseguiu.
A educação promovida pelo Estado serve, naturalmente, ao próprio Estado, que serve às classes dominantes, às elites, então não há que se esperar que essa educação transforme a realidade da população de forma significativa, é natural, esse tipo de educação seria uma ameaça.
Se a educação é o grande motor da transformação do Brasil, então não se pode entregar a responsabilidade da educação ao Estado, pois que o Estado é o procurador das elites, que não desejam transformar a realidade, pois desejam permanecer elite, desejam a manutenção dos seus privilégios.
Para transformar a realidade é preciso fazer uma escola que sirva e responda à comunidade e não ao Estado, é preciso que a escola compreenda e busque os anseios da comunidade, é preciso que a escola seja parte da comunidade e que a comunidade se responsabilize pela escola.
Se for desejo uma revolução de sucesso, essa revolução começa na própria comunidade, tomando de assalto a escola ou até criando a escola, se for preciso, fazendo com que os burocratas, os pedagogos, os professores e os servidores em geral compreendam que ou estão a serviço da comunidade ou que partam e nunca mais voltem.
Melhor que se comece uma nova história sem nenhum professor do que continuar com aqueles que querem tão somente ensinar e aprender a repetir a mesma história que oprime, que destrói, que violenta, que tão somente atende aos interesses de quem já está estabelecido.
Aprender a construir sua própria história em lugar de mera ficção de aprendizado.
sábado, julho 23, 2005
sexta-feira, julho 22, 2005
Para a mídia cachaça mata adolescente
O lide da matéria no jornal O Povo traz a acusação: "De acordo com amigos do torcedor, Bruno havia ingerido bebida alcoólica e estava pendurado nas grades de proteção da arquibancada quando perdeu o controle e caiu de cabeça de uma altura entre 15 e 20 metros".
A maioria das matérias que se pode ver, ouvir ou ler sobre o assunto enfatiza a questão de que adolescentes e até crianças têm acesso a bebidas e, aproveitando a deixa do amigo Róbson Freitas, 17: "A gente tinha bebido antes do jogo. Talvez por isso ele tenha caído", a mídia, aparentemente, encontrou um culpado.
Há outras suspeitas, segundo o coronel da PM Carlos Ribeiro, de que Bruno subiu nas grades de proteção para tentar pegar um dos bonés distribuídos por um dos patrocinadores do jogo, o estádio poderia estar fora das normas de segurança, mas nada é mais certo que o fato de que o torcedor havia ingerido álcool.
Ninguém afirmou que ele estivesse bêbado, até se pode imaginar que ele estava bem consciente, pois é difícil imaginar que um grupo de amigos deixe um colega em tal estado desafiar seu equilíbrio.
É certo que o garoto deveria realmente estar alcoolizado, pois a maioria das pessoas que vai a um jogo de futebol vai beber, seja cerveja, seja cachaça, seja o que for. O futebol é uma festa e festa tem bebida.
O garoto tem 17 anos, ele não tem 12, tem 17, alguns meses a mais e teria 18. Qual é a diferença tão grande entre alguns meses na vida de um adolescente. Consumir bebidas alcoólicas é crime antes dos 18 anos, mas os efeitos da cachaça que ele tomou variariam mais de uma pessoa para outra do que nos meses que faltavam para que completasse 18 e pudesse comprar bebidas legalmente.
Não se deve pensar que álcool é inofensivo à saúde e à segurança das pessoas, mesmo após a idade mínima para consumo legal, mas quase todo mundo que estava no estádio na noite do acidente deve ter tomado umas e outras e isso acontece em todos os jogos, em todos os anos e não há um festival de torcedores caindo de maduro das arquibancadas.
Ainda bem que o repórter, ávido por encontrar um culpado, não perguntou: "Ele já usou maconha?". O amigo inocente poderia ter respondido que sim, então teríamos a maconha como culpada, talvez a maconha que o garoto tivesse fumado dois dias antes.
De qualquer forma, a solução até para os acidentes é mais polícia, pois é necessário vigiar melhor para que adolescentes de 17 anos não consigam adquirir bebida alcoólica de vendedores ambulantes nos estádios. Não há como não rir, para não chorar é claro.
É difícil imaginar um mundo sem drogas, lícitas ou não, as pessoas enlouqueceriam um dia após o outro, talvez muito mais gente morreria vítima de queda de lugares altos, mas queda intencional.
Não foi a bebida, não foi o boné e não foram as muretas do estádio dentro das normas. A razão maior do acidente foi a imprudência, que nasce do desejo de se arriscar, de sentir frio na barriga, de desafiar a morte. Talvez uma forma de se provar que se está vivo.
O resto, provavelmente, foi acidente, trágico, mas obra do acaso, acontece, às vezes em tom de espetáculo. Seria mais charmoso se o garoto tivesse um bilhete de despedida em suas mãos, mas não tinha, não há muito que encompridar, morreu no intervalo atrapalhando o jogo, mas os jogadores lhe ofereceram um minuto de silêncio e a torcida agradeceu o espetáculo com uma salva de palmas.
A maioria das matérias que se pode ver, ouvir ou ler sobre o assunto enfatiza a questão de que adolescentes e até crianças têm acesso a bebidas e, aproveitando a deixa do amigo Róbson Freitas, 17: "A gente tinha bebido antes do jogo. Talvez por isso ele tenha caído", a mídia, aparentemente, encontrou um culpado.
Há outras suspeitas, segundo o coronel da PM Carlos Ribeiro, de que Bruno subiu nas grades de proteção para tentar pegar um dos bonés distribuídos por um dos patrocinadores do jogo, o estádio poderia estar fora das normas de segurança, mas nada é mais certo que o fato de que o torcedor havia ingerido álcool.
Ninguém afirmou que ele estivesse bêbado, até se pode imaginar que ele estava bem consciente, pois é difícil imaginar que um grupo de amigos deixe um colega em tal estado desafiar seu equilíbrio.
É certo que o garoto deveria realmente estar alcoolizado, pois a maioria das pessoas que vai a um jogo de futebol vai beber, seja cerveja, seja cachaça, seja o que for. O futebol é uma festa e festa tem bebida.
O garoto tem 17 anos, ele não tem 12, tem 17, alguns meses a mais e teria 18. Qual é a diferença tão grande entre alguns meses na vida de um adolescente. Consumir bebidas alcoólicas é crime antes dos 18 anos, mas os efeitos da cachaça que ele tomou variariam mais de uma pessoa para outra do que nos meses que faltavam para que completasse 18 e pudesse comprar bebidas legalmente.
Não se deve pensar que álcool é inofensivo à saúde e à segurança das pessoas, mesmo após a idade mínima para consumo legal, mas quase todo mundo que estava no estádio na noite do acidente deve ter tomado umas e outras e isso acontece em todos os jogos, em todos os anos e não há um festival de torcedores caindo de maduro das arquibancadas.
Ainda bem que o repórter, ávido por encontrar um culpado, não perguntou: "Ele já usou maconha?". O amigo inocente poderia ter respondido que sim, então teríamos a maconha como culpada, talvez a maconha que o garoto tivesse fumado dois dias antes.
De qualquer forma, a solução até para os acidentes é mais polícia, pois é necessário vigiar melhor para que adolescentes de 17 anos não consigam adquirir bebida alcoólica de vendedores ambulantes nos estádios. Não há como não rir, para não chorar é claro.
É difícil imaginar um mundo sem drogas, lícitas ou não, as pessoas enlouqueceriam um dia após o outro, talvez muito mais gente morreria vítima de queda de lugares altos, mas queda intencional.
Não foi a bebida, não foi o boné e não foram as muretas do estádio dentro das normas. A razão maior do acidente foi a imprudência, que nasce do desejo de se arriscar, de sentir frio na barriga, de desafiar a morte. Talvez uma forma de se provar que se está vivo.
O resto, provavelmente, foi acidente, trágico, mas obra do acaso, acontece, às vezes em tom de espetáculo. Seria mais charmoso se o garoto tivesse um bilhete de despedida em suas mãos, mas não tinha, não há muito que encompridar, morreu no intervalo atrapalhando o jogo, mas os jogadores lhe ofereceram um minuto de silêncio e a torcida agradeceu o espetáculo com uma salva de palmas.
quinta-feira, julho 21, 2005
Exposição em tempos de Orkut
O Orkut pode ser observado apenas como uma excelente ferramenta para manutenção e realização do networking, termo em inglês importado que pode ser traduzido como a manutenção deliberada de relacionamentos sociais com o objetivo de tirar proveito disso no presente ou no futuro, proveito que pode ser uma indicação de recolocação, por exemplo.
Pode ser observado também como uma grande agenda de contatos pública, que desnuda o participante a partir de seus relacionamentos, a grande materialização do dito "diga-me com quem anda e lhe direi que é", o que pode ser bom ou ruim.
O mais interessante, contudo, é a forma como o Orkut tem se mostrado um espaço para gentilezas, para demonstrações de afeto entre pessoas que não tem mais ou às vezes jamais tiveram grande intimidade, um meio simples e direto para dizer que se lembrou, ou que foi lembrado pelo próprio Orkut, de determinada pessoa.
Essa afetividade pode parecer falaciosa, mentirosa, superficial, mas também há de se reconhecer que algumas vezes pode ser também verdadeira, sincera e até profunda, o que também pode ser considerado verdade na maioria dos espaços de socialização tais como a escola, o trabalho ou mesmo a família.
Com tudo isso é claro que o Orkut promove a exposição dos indivíduos e recompensa isso, pois essa exposição promove o cuidado dos outros participantes em relação aos sentimentos vivenciados, promove o debate em relação às idéias expressadas, promove a materilização da lembrança alheia, que de alheia passa a nossa em um simples scrap (palavra que permaneceu como sinônimo de recado no Orkut mesmos após sua localização - o termo que significa que o sistema se torna local, normalmente com idioma, data/hora e moeda locais).
A exposição implica em riscos, pode ser complicado ter muita gente sabendo muito sobre si, muita gente faz grande alarde sobre isso até nos jornais, quem sabe até em artigos científicos, mas são essas mesmas pessoas que normalmente condenam a vida nas grandes cidades, os relacionamentos apoiados em tecnologia e, muitas vezes, endeusam saudosamente o tempo das cidades pequenas, em que haviam verdadeiras comunidades.
É olhando para as comunidades das cidades pequenas, como nas pequenas cidades do interior, e para o Orkut que se pode perceber o quão paradoxal pode ser o Orkut, pois não são superexpostas as pessoas que moram em uma pequena cidade do interior? Não é no interior que todas as pessoas sabem de tudo de todo mundo, incluindo aspectos da vida privada?
Em cidades do interior muitas vezes a exposição exagerada foge à previsão do usuário do Orkut, mas também isso não acontece nas pequenas cidades em que a vida privada pode se tornar pública em poucos dias?
E não é exatamente essa exposição que também proporciona apoio, sustentação para a vida em comunidade? Não é justamente se perceber conhecedor, participante e de certa forma responsável pela vida de todos que forma o espírito de comunidade?
O Orkut, ao promover essa exposição, pode estar justamente levantando esse paradoxo para a vida nas grandes metrópoles, para a vida globalizada, tornando possível participar mais da vida do outro, tornando possível vivenciar suas angústias, suas dúvidas, seus pesares.
Será que o Orkut, ao favorecer a exposição entre os indivíduos, não os proporciona maior intimidade e, com isso, além de saber e expressar sentimentos, também não favorece entre os amigos uma retomada do sentimento de responsabilidade sobre a vida do outro? Um sentimento de que se precisa ajudar quando alguém precisa?
É claro que isso implica em muitas vezes invadir o privado do outro, mas não é essa, às vezes, a única maneira de se ajudar esse outro? Claro, deve-se viver também boa parte das desvantagens da convivência em uma pequena comunidade. Quem já morou, mesmo que por algum tempo, em cidade pequena, deve saber bem as possibilidades ruins da intimidade coletiva.
Não há mal sem bem e nem bem sem mal. Até agora parece que o Orkut pode ajudar as pessoas a se tornarem mais próximas que antes, a se comunicarem com mais freqüência que antes.
Se se perguntava como seriam os sistemas de telefonia móvel se apropriando de mais características dos sistemas de mensagens instantâneas (ICQ, AIM, Messenger...), tais como informar o status do contato (ocupado, ausente, não perturbe...), agora se pergunta como seriam os telefones se fossem integrados ao Orkut.
Pode ser observado também como uma grande agenda de contatos pública, que desnuda o participante a partir de seus relacionamentos, a grande materialização do dito "diga-me com quem anda e lhe direi que é", o que pode ser bom ou ruim.
O mais interessante, contudo, é a forma como o Orkut tem se mostrado um espaço para gentilezas, para demonstrações de afeto entre pessoas que não tem mais ou às vezes jamais tiveram grande intimidade, um meio simples e direto para dizer que se lembrou, ou que foi lembrado pelo próprio Orkut, de determinada pessoa.
Essa afetividade pode parecer falaciosa, mentirosa, superficial, mas também há de se reconhecer que algumas vezes pode ser também verdadeira, sincera e até profunda, o que também pode ser considerado verdade na maioria dos espaços de socialização tais como a escola, o trabalho ou mesmo a família.
Com tudo isso é claro que o Orkut promove a exposição dos indivíduos e recompensa isso, pois essa exposição promove o cuidado dos outros participantes em relação aos sentimentos vivenciados, promove o debate em relação às idéias expressadas, promove a materilização da lembrança alheia, que de alheia passa a nossa em um simples scrap (palavra que permaneceu como sinônimo de recado no Orkut mesmos após sua localização - o termo que significa que o sistema se torna local, normalmente com idioma, data/hora e moeda locais).
A exposição implica em riscos, pode ser complicado ter muita gente sabendo muito sobre si, muita gente faz grande alarde sobre isso até nos jornais, quem sabe até em artigos científicos, mas são essas mesmas pessoas que normalmente condenam a vida nas grandes cidades, os relacionamentos apoiados em tecnologia e, muitas vezes, endeusam saudosamente o tempo das cidades pequenas, em que haviam verdadeiras comunidades.
É olhando para as comunidades das cidades pequenas, como nas pequenas cidades do interior, e para o Orkut que se pode perceber o quão paradoxal pode ser o Orkut, pois não são superexpostas as pessoas que moram em uma pequena cidade do interior? Não é no interior que todas as pessoas sabem de tudo de todo mundo, incluindo aspectos da vida privada?
Em cidades do interior muitas vezes a exposição exagerada foge à previsão do usuário do Orkut, mas também isso não acontece nas pequenas cidades em que a vida privada pode se tornar pública em poucos dias?
E não é exatamente essa exposição que também proporciona apoio, sustentação para a vida em comunidade? Não é justamente se perceber conhecedor, participante e de certa forma responsável pela vida de todos que forma o espírito de comunidade?
O Orkut, ao promover essa exposição, pode estar justamente levantando esse paradoxo para a vida nas grandes metrópoles, para a vida globalizada, tornando possível participar mais da vida do outro, tornando possível vivenciar suas angústias, suas dúvidas, seus pesares.
Será que o Orkut, ao favorecer a exposição entre os indivíduos, não os proporciona maior intimidade e, com isso, além de saber e expressar sentimentos, também não favorece entre os amigos uma retomada do sentimento de responsabilidade sobre a vida do outro? Um sentimento de que se precisa ajudar quando alguém precisa?
É claro que isso implica em muitas vezes invadir o privado do outro, mas não é essa, às vezes, a única maneira de se ajudar esse outro? Claro, deve-se viver também boa parte das desvantagens da convivência em uma pequena comunidade. Quem já morou, mesmo que por algum tempo, em cidade pequena, deve saber bem as possibilidades ruins da intimidade coletiva.
Não há mal sem bem e nem bem sem mal. Até agora parece que o Orkut pode ajudar as pessoas a se tornarem mais próximas que antes, a se comunicarem com mais freqüência que antes.
Se se perguntava como seriam os sistemas de telefonia móvel se apropriando de mais características dos sistemas de mensagens instantâneas (ICQ, AIM, Messenger...), tais como informar o status do contato (ocupado, ausente, não perturbe...), agora se pergunta como seriam os telefones se fossem integrados ao Orkut.
quarta-feira, julho 20, 2005
Vergonha sadia
Em 1950 o Brasil se viu imerso em imenso sentimento de vergonha quando a superfavorita seleção brasileira perde a final da copa do mundo de futebol para o Uruguai no estádio do Maracanã, na única copa realizada no Brasil.
Acreditar, sentir-se representando e se frustrar com a derrota no jogo se transforma em sentimento de vergonha que, pelo rádio, comove todo o país. A derrota em 50 talvez tenha sido a maior derrota do futebol brasileiro de todos os tempos.
Muitos dos que vivenciaram a derrota ainda estão vivos para testemunhar, mas a maioria das pessoas não era nem nascida em 1950, já se vão duas, três, quatro gerações a partir dos que estavam acompanhando a partida, seja no estádio ou seja no rádio.
O sentimento de vergonha relacionado à copa de 50 praticamente não existe mais, o futebol brasileiro superou o trauma, é hoje reconhecido como o melhor do mundo e acumula mais copas do mundo que qualquer outra seleção.
Vergonha por que o time perdeu tem o seu valor, se é a seleção em casa tem ainda mais valor, mas as competições esportivas não contém a aposta de futura de 100 milhões de pessoas. Lula traz em sua bagagem essa aposta e por isso o sentimento do brasileiro em relação à crise política hoje é muito mais grave que a vergonha da derrota no esporte.
A vergonha que assola hoje o Brasil é muito mais séria e muito mais sadia, muito mais importante. A vergonha que hoje assola o Brasil é a vergonha da confiança traída, pois estando o Partido dos Trabalhadores no poder, assume através de seu ex-tesoureiro que suas práticas eleitorais são iguais ou equivalentes à dos demais partidos brasileiros.
É sadio o constrangimento que a maioria da população vivencia hoje quando se fala em política, em mensalão, em PT, em governo Lula, talvez por que seja o primeiro governo no qual a nação se sinta representada, talvez por que Lula é um representante do povo, talvez por que o PT é o partido dos trabalhadores.
O PT não é o partido da social democracia, do liberalismo, do comunismo ou de outra denominação ideológica, é o partido dos trabalhadores, ele carrega em seu nome a representação simbólica daquele que trabalha e não do malandro. O PT não pode ser malandro.
Se o PT é malandro, se o PT não é honesto, se o PT não tem ética, se o PT não tem moral, se o PT não é correto, então o trabalhador também não é, uma vez que o PT é o seu partido, é a sua representação, é o seu símbolo.
O símbolo do trabalhador que luta há mais de um século pelo execicio de sua cidadania, por direitos sociais, às vezes por condições de trabalhos dígnas, muitas, mas muitas vezes mesmo com o próprio sangue agora é também cruz que pesa e envergonha o trabalhador, que se recusa a se aceitar enquanto malandro, ainda que sem a malicia necessária para não ser pego no exercício da contravenção, no exercício do crime.
Não é hora de fugir da vergonha, de tentar tapar o sol com a peneira. É hora de vivenciar o sentimento, entender a situação e, muito mais que iniciar uma caça às bruxas, é preciso compreender as engrenagens de um sistema que leva à corrupção.
É hora de buscar a transparência no Brasil, não só no governo, mas também nas empresas, somente com muita transparência é que se pode evitar a repetição recorrente de crises como a vivida hoje no Brasil, que de inédita só tem os péssimos atores, amadores e incapazes por isso de encenar satisfatóriamente a mesma peça encenada no Brasil há mais de 100 anos.
Acreditar, sentir-se representando e se frustrar com a derrota no jogo se transforma em sentimento de vergonha que, pelo rádio, comove todo o país. A derrota em 50 talvez tenha sido a maior derrota do futebol brasileiro de todos os tempos.
Muitos dos que vivenciaram a derrota ainda estão vivos para testemunhar, mas a maioria das pessoas não era nem nascida em 1950, já se vão duas, três, quatro gerações a partir dos que estavam acompanhando a partida, seja no estádio ou seja no rádio.
O sentimento de vergonha relacionado à copa de 50 praticamente não existe mais, o futebol brasileiro superou o trauma, é hoje reconhecido como o melhor do mundo e acumula mais copas do mundo que qualquer outra seleção.
Vergonha por que o time perdeu tem o seu valor, se é a seleção em casa tem ainda mais valor, mas as competições esportivas não contém a aposta de futura de 100 milhões de pessoas. Lula traz em sua bagagem essa aposta e por isso o sentimento do brasileiro em relação à crise política hoje é muito mais grave que a vergonha da derrota no esporte.
A vergonha que assola hoje o Brasil é muito mais séria e muito mais sadia, muito mais importante. A vergonha que hoje assola o Brasil é a vergonha da confiança traída, pois estando o Partido dos Trabalhadores no poder, assume através de seu ex-tesoureiro que suas práticas eleitorais são iguais ou equivalentes à dos demais partidos brasileiros.
É sadio o constrangimento que a maioria da população vivencia hoje quando se fala em política, em mensalão, em PT, em governo Lula, talvez por que seja o primeiro governo no qual a nação se sinta representada, talvez por que Lula é um representante do povo, talvez por que o PT é o partido dos trabalhadores.
O PT não é o partido da social democracia, do liberalismo, do comunismo ou de outra denominação ideológica, é o partido dos trabalhadores, ele carrega em seu nome a representação simbólica daquele que trabalha e não do malandro. O PT não pode ser malandro.
Se o PT é malandro, se o PT não é honesto, se o PT não tem ética, se o PT não tem moral, se o PT não é correto, então o trabalhador também não é, uma vez que o PT é o seu partido, é a sua representação, é o seu símbolo.
O símbolo do trabalhador que luta há mais de um século pelo execicio de sua cidadania, por direitos sociais, às vezes por condições de trabalhos dígnas, muitas, mas muitas vezes mesmo com o próprio sangue agora é também cruz que pesa e envergonha o trabalhador, que se recusa a se aceitar enquanto malandro, ainda que sem a malicia necessária para não ser pego no exercício da contravenção, no exercício do crime.
Não é hora de fugir da vergonha, de tentar tapar o sol com a peneira. É hora de vivenciar o sentimento, entender a situação e, muito mais que iniciar uma caça às bruxas, é preciso compreender as engrenagens de um sistema que leva à corrupção.
É hora de buscar a transparência no Brasil, não só no governo, mas também nas empresas, somente com muita transparência é que se pode evitar a repetição recorrente de crises como a vivida hoje no Brasil, que de inédita só tem os péssimos atores, amadores e incapazes por isso de encenar satisfatóriamente a mesma peça encenada no Brasil há mais de 100 anos.
terça-feira, julho 19, 2005
A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor
Há muito alarde em torno dos limites e da disciplina na escola, muito alarde mesmo. Joana (nome fictício), diretora de uma escola de bairro, afirma que "o mais importante da educação são os limites" e conclui que "devem ser os mesmos em casa e na escola”.
Tal pensamento não pode ser considerado um desvario isolado, pois são muitas as pedagogas - a minoria de homens que me perdoe a hegemonia feminina na profissão - que consideram as "crianças de hoje pequenos monstros indomáveis criados por famílias desestruturadas" e a escola como tendo o papel de substituir essa família, "uma instituição falida".
É importante perceber o teor messiânico, e como tal autoritário, desse pensamento, pois ao afirmar que os limites ou regras devem ser os mesmos em casa e na escola aquela diretora defende, talvez até sem perceber, que as famílias, em suas casas, devem seguir as leis da escola, uma vez que seria inviável para a escola adotar simultaneamente as leis de todas as casas.
Do mesmo princípio autoritário decorre a relação causal estabelecida por Joana entre a educação e os limites, como se a essência da educação fosse “a capacitação para a obediência e a adequação à vigilância superior”.
Uma professora de pós-graduação na área de educação que prefere não ser identificada narra que ao facilitar encontros entre pedagogas, ouve já sem perplexidade que “tanto as práticas pedagógicas tradicionais quanto as construtivistas buscam os mesmos objetivos”, em que de forma quase unânime entre os participantes o construtivismo é definido enquanto espécie de “autoritarismo polido”.
Joana afirma que a escola que dirige é construtivista, talvez por que ser construtivista é bonito, está na moda, então a escola se diz construtivista por que os pais procuram tal palavra mágica, mas, sabendo que os pais também esperam da escola dos filhos algo parecido com o que vivenciaram há 20 ou 30 anos em suas próprias experiências, atende-os em todas as suas expectativas: denominação progressista e prática reacionária.
O confronto entre a vivência particular de uma escola e o relato de pedagogas e pesquisadores faz perceber que, talvez, não haja má fé em oferecer aos pais a mentira que desejam ouvir: a de que são construtivistas enquanto tão tradicionais quanto as freiras das escolas católicas da metade do século passado, pois é possível que boa parte das profissionais da educação acreditem, do fundo do coração, que são mesmo construtivistas.
Talvez seja necessário remover a poeira das obras de Piaget, Vygostsky e Wallon. Certamente seria de grande valia ir à livraria em busca de Paulo Freire ou até de Michael Foucault.
Tais leituras deveriam ser obrigatórias para a formação e a reciclagem de profissionais da educação e não são autores revolucionários, são fundantes do pensamento hegemônico atualmente nas ciências da educação.
Autores como Paulo Freire estão, apesar de tudo, esquecidos na prática da maioria das salas de aula e da maioria das escolas, sejam elas públicas ou privadas, de classe baixa, média ou rica, que se mantém, apesar de toda a reflexão publicada nos últimos 100 anos, extremamente autoritária.
Não há como esperar respeito e alteridade de alunos que aprendem com violência e autoritarismo. A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor na maioria das salas de aula.
A escola tem a função de facilitar o processo de socialização do indivíduo e para cumprir com essa função numa sociedade democrática a escola tem que educar para o exercício da democracia.
Não há como ensinar crianças e adolescentes a exercer a democracia em um processo de ensino-aprendizagem autoritário, em uma vivência autoritária.
Disciplina se refere ao atendimento a determinadas normas, mas pode ser extremamente ético e relevante descumprir deliberadamente normas que não possuem legitimação e as escolas estão cheias de regras que não são legitimadas por aqueles que as deveriam seguir e que, coincidentemente, deveriam ser também seus beneficiários.
Não há como pensar em ensinar e aprender sem a coerência entre o fazer e o falar.
Reproduzido em: http://pre-esferapublica.blogspot.com/2010/07/indisciplina-e-agressividade-sao.html
Tal pensamento não pode ser considerado um desvario isolado, pois são muitas as pedagogas - a minoria de homens que me perdoe a hegemonia feminina na profissão - que consideram as "crianças de hoje pequenos monstros indomáveis criados por famílias desestruturadas" e a escola como tendo o papel de substituir essa família, "uma instituição falida".
É importante perceber o teor messiânico, e como tal autoritário, desse pensamento, pois ao afirmar que os limites ou regras devem ser os mesmos em casa e na escola aquela diretora defende, talvez até sem perceber, que as famílias, em suas casas, devem seguir as leis da escola, uma vez que seria inviável para a escola adotar simultaneamente as leis de todas as casas.
Do mesmo princípio autoritário decorre a relação causal estabelecida por Joana entre a educação e os limites, como se a essência da educação fosse “a capacitação para a obediência e a adequação à vigilância superior”.
Uma professora de pós-graduação na área de educação que prefere não ser identificada narra que ao facilitar encontros entre pedagogas, ouve já sem perplexidade que “tanto as práticas pedagógicas tradicionais quanto as construtivistas buscam os mesmos objetivos”, em que de forma quase unânime entre os participantes o construtivismo é definido enquanto espécie de “autoritarismo polido”.
Joana afirma que a escola que dirige é construtivista, talvez por que ser construtivista é bonito, está na moda, então a escola se diz construtivista por que os pais procuram tal palavra mágica, mas, sabendo que os pais também esperam da escola dos filhos algo parecido com o que vivenciaram há 20 ou 30 anos em suas próprias experiências, atende-os em todas as suas expectativas: denominação progressista e prática reacionária.
O confronto entre a vivência particular de uma escola e o relato de pedagogas e pesquisadores faz perceber que, talvez, não haja má fé em oferecer aos pais a mentira que desejam ouvir: a de que são construtivistas enquanto tão tradicionais quanto as freiras das escolas católicas da metade do século passado, pois é possível que boa parte das profissionais da educação acreditem, do fundo do coração, que são mesmo construtivistas.
Talvez seja necessário remover a poeira das obras de Piaget, Vygostsky e Wallon. Certamente seria de grande valia ir à livraria em busca de Paulo Freire ou até de Michael Foucault.
Tais leituras deveriam ser obrigatórias para a formação e a reciclagem de profissionais da educação e não são autores revolucionários, são fundantes do pensamento hegemônico atualmente nas ciências da educação.
Autores como Paulo Freire estão, apesar de tudo, esquecidos na prática da maioria das salas de aula e da maioria das escolas, sejam elas públicas ou privadas, de classe baixa, média ou rica, que se mantém, apesar de toda a reflexão publicada nos últimos 100 anos, extremamente autoritária.
Não há como esperar respeito e alteridade de alunos que aprendem com violência e autoritarismo. A indisciplina e a agressividade são defesas legítimas e necessárias para o aluno em um sistema opressor na maioria das salas de aula.
A escola tem a função de facilitar o processo de socialização do indivíduo e para cumprir com essa função numa sociedade democrática a escola tem que educar para o exercício da democracia.
Não há como ensinar crianças e adolescentes a exercer a democracia em um processo de ensino-aprendizagem autoritário, em uma vivência autoritária.
Disciplina se refere ao atendimento a determinadas normas, mas pode ser extremamente ético e relevante descumprir deliberadamente normas que não possuem legitimação e as escolas estão cheias de regras que não são legitimadas por aqueles que as deveriam seguir e que, coincidentemente, deveriam ser também seus beneficiários.
Não há como pensar em ensinar e aprender sem a coerência entre o fazer e o falar.
Reproduzido em: http://pre-esferapublica.blogspot.com/2010/07/indisciplina-e-agressividade-sao.html
segunda-feira, julho 18, 2005
Que credibilidade a Internet pode perder?
Alexandre Cruz Almeida, editor da coluna Blog, do site Sobre Sites, proferiu em um artigo seu entitulado Justiça às turras com a Internet, aparentemente de outubro de 2004, a seguinte sentença: "Se chegarmos a uma situação de fato em que a internet esteja fora do alcance da lei, a rede rapidamente se converterá em uma terra de ninguém de calúnias e difamação e perderá toda a credibilidade."
Não é relevante a autoridade do referido senhor, nem de seu veículo, nem o fato da declaração já ser por demais antiga. O que importa aqui é que tal declaração ainda permanece presente, talvez forte, no imaginário de muitos cidadãos do Brasil, quiçá até do mundo, tanto entre pessoas que utilizam a Internet, como entre as que pesquisam e refletem sobre a Internet e até entre aquelas que mal sabem ao certo o que é a Internet.
É preciso, em primeiro lugar, esclarecer que a Internet não está e nem jamais esteve fora do alcance da lei. A Internet é uma infra-estrutura complexa de comunicações, especificamente de telecomunicações e portanto é oferecido ao público pelas empresas de infra-estrutura de telecomunicações.
Credibilidade da Internet é sinônimo de confiabilidade, de qualidade de rede, de garantia de tempo no ar, de tempo mínimo para reestabelecimento dos serviços, dentre outras variáveis reguladas no Brasil pela Agencia Nacional de Telecomunicações, Anatel.
O termo núvem é utilizado entre os técnicos justamente para designar toda a infra-estrutura pública de Internet, aquilo que não está sob jurisdição de uma organização ou residência, aquilo que não é área restrita, às vezes denominada intranet corporativa.
A nuvem Internet é equivalente ao ar para os serviços de comunicação via rádio difusão, tais como as Rádios, as TVs, os rádio-amadores, a telefonia móvel celular, as redes de dados sem fio, os circuitos de longa distância para telefonia, os telefones rurais, os aparelhos de rádio comunicação e tantos outros serviços que fazem uso das ondas eletromagnéticas, que também são todos regulados pela Anatel.
A Internet está plenamente ao alcance da justiça, assim como o ar, respeitando-se naturalmente os limites de atuação de cada instituição e, inclusive, os limites de atuação de cada país. O papel, suporte da imprensa propriamente dita, não está sujeito à regulação da Anatel e sua regulação é bem mais restrita que as ondas eletromágnéticas ou a Internet.
Ninguém em nosso tempo pensa, contudo, que ao escrever um texto difamatório e enviar para várias pessoas, conhecidas ou não, de forma anônima ou através de um nome falso, alguém estará pondo em risco a credibilidade do papel.
Da mesma forma que ao utilizar o telefone celular para enviar mensagens denegrindo, justa ou injustamente, determinada empresa, um indivíduo não coloca em risco a credibilidade do sistema telefônico, pior ainda, não coloca em risco a credibilidade do ar.
A Justiça, em seu papel de mantenedora do status quoi e de defensora do poder estabelecido, pode desejar cercear a expressão individual ou coletiva contra o establishment e por conta disso os grupos ou indivíduos que desejam transformar o sistema se obrigam a imprimir e distribuir seus impressos a partir de outros países ou a transmitir seus programas de rádio de outros países e tantas outras formas para se fugir à pressão de auto-renovação do sistema.
A Internet é, provavelmente, muito mais simples de rastrear e buscar criminosos do que outros meios, mas isso não melhora ou piora sua credibilidade, posto que a credibilidade da informação não está no meio e sim no responsável pela informação.
Quem tem que ter credibilidade é o Universo Online, é o Terra, é o Noolhar.com e outros veículos de informação que utilizam a Internet como meio. Da mesma forma, os indíviduos também precisam de credibilidade para com seus interlocutores. Contudo, se um indivíduo dispara mentiras usando o correio eletrõnico ou o Universo Online incorre em grave erro de apuração, isso não afeta a credibilidade da Internet, isso afeta a credibilidade daquele individou ou portal junto a seus interlocutores.
A definição do termo Internet pode abranger também as diversas comunidades e seus participantes, é uma definição possível e ampla, mas para que se use esta basta incluir no sistema de telefonia ou de rádio os interlocutores de cada mensagem e no caso do papel os escritores e leitores dos textos impressos, sem alteração relevante da análise realizada, as metáforas seguem praticamente ilesas.
Não é relevante a autoridade do referido senhor, nem de seu veículo, nem o fato da declaração já ser por demais antiga. O que importa aqui é que tal declaração ainda permanece presente, talvez forte, no imaginário de muitos cidadãos do Brasil, quiçá até do mundo, tanto entre pessoas que utilizam a Internet, como entre as que pesquisam e refletem sobre a Internet e até entre aquelas que mal sabem ao certo o que é a Internet.
É preciso, em primeiro lugar, esclarecer que a Internet não está e nem jamais esteve fora do alcance da lei. A Internet é uma infra-estrutura complexa de comunicações, especificamente de telecomunicações e portanto é oferecido ao público pelas empresas de infra-estrutura de telecomunicações.
Credibilidade da Internet é sinônimo de confiabilidade, de qualidade de rede, de garantia de tempo no ar, de tempo mínimo para reestabelecimento dos serviços, dentre outras variáveis reguladas no Brasil pela Agencia Nacional de Telecomunicações, Anatel.
O termo núvem é utilizado entre os técnicos justamente para designar toda a infra-estrutura pública de Internet, aquilo que não está sob jurisdição de uma organização ou residência, aquilo que não é área restrita, às vezes denominada intranet corporativa.
A nuvem Internet é equivalente ao ar para os serviços de comunicação via rádio difusão, tais como as Rádios, as TVs, os rádio-amadores, a telefonia móvel celular, as redes de dados sem fio, os circuitos de longa distância para telefonia, os telefones rurais, os aparelhos de rádio comunicação e tantos outros serviços que fazem uso das ondas eletromagnéticas, que também são todos regulados pela Anatel.
A Internet está plenamente ao alcance da justiça, assim como o ar, respeitando-se naturalmente os limites de atuação de cada instituição e, inclusive, os limites de atuação de cada país. O papel, suporte da imprensa propriamente dita, não está sujeito à regulação da Anatel e sua regulação é bem mais restrita que as ondas eletromágnéticas ou a Internet.
Ninguém em nosso tempo pensa, contudo, que ao escrever um texto difamatório e enviar para várias pessoas, conhecidas ou não, de forma anônima ou através de um nome falso, alguém estará pondo em risco a credibilidade do papel.
Da mesma forma que ao utilizar o telefone celular para enviar mensagens denegrindo, justa ou injustamente, determinada empresa, um indivíduo não coloca em risco a credibilidade do sistema telefônico, pior ainda, não coloca em risco a credibilidade do ar.
A Justiça, em seu papel de mantenedora do status quoi e de defensora do poder estabelecido, pode desejar cercear a expressão individual ou coletiva contra o establishment e por conta disso os grupos ou indivíduos que desejam transformar o sistema se obrigam a imprimir e distribuir seus impressos a partir de outros países ou a transmitir seus programas de rádio de outros países e tantas outras formas para se fugir à pressão de auto-renovação do sistema.
A Internet é, provavelmente, muito mais simples de rastrear e buscar criminosos do que outros meios, mas isso não melhora ou piora sua credibilidade, posto que a credibilidade da informação não está no meio e sim no responsável pela informação.
Quem tem que ter credibilidade é o Universo Online, é o Terra, é o Noolhar.com e outros veículos de informação que utilizam a Internet como meio. Da mesma forma, os indíviduos também precisam de credibilidade para com seus interlocutores. Contudo, se um indivíduo dispara mentiras usando o correio eletrõnico ou o Universo Online incorre em grave erro de apuração, isso não afeta a credibilidade da Internet, isso afeta a credibilidade daquele individou ou portal junto a seus interlocutores.
A definição do termo Internet pode abranger também as diversas comunidades e seus participantes, é uma definição possível e ampla, mas para que se use esta basta incluir no sistema de telefonia ou de rádio os interlocutores de cada mensagem e no caso do papel os escritores e leitores dos textos impressos, sem alteração relevante da análise realizada, as metáforas seguem praticamente ilesas.
domingo, julho 17, 2005
Agora é tempo de escrever meu artigo ou minha crônica do dia. Passei quase o dia todo remodelando a nossa casa, então, bem, não acompanhei o noticiário pela televisão ou pelos jornais.
Leio agora algumas notícias, mas não encontro nada tão interessante que mereça minha atenção dedicada. Continuo buscando algo interessante sobre o que me debruçar.
Sabia que hora mais, hora menos, isso ia acontecer, tenho o compromisso de escrever ao final do dia e não tenho um assunto relevante ou simplesmente que queira minha atenção.
Ao final, eu sei que não adianta muito pensar ou planejar, pois ao começar a escrita o texto domina o escritor e eu escrevo o que o texto manda e não o que quero, mas é preciso começar de algum lugar, então é isso que procuro agora, um ponto no espaço em que começar.
Leio agora algumas notícias, mas não encontro nada tão interessante que mereça minha atenção dedicada. Continuo buscando algo interessante sobre o que me debruçar.
Sabia que hora mais, hora menos, isso ia acontecer, tenho o compromisso de escrever ao final do dia e não tenho um assunto relevante ou simplesmente que queira minha atenção.
Ao final, eu sei que não adianta muito pensar ou planejar, pois ao começar a escrita o texto domina o escritor e eu escrevo o que o texto manda e não o que quero, mas é preciso começar de algum lugar, então é isso que procuro agora, um ponto no espaço em que começar.
Sexualidade sem preconceito
Durante a campanha para o segundo turno das eleições à Prefeitura de Fortaleza o candidato do PFL, Moroni Bing Torgan, que não titubeou em buscar inspiração em Getúlio Vargas e seu populismo assemelhado ao fascismo italiano de Mussoline, acreditando que comunismo era cachorro morto, optou por um discurso de perseguição aos homossexuais.
A proposta de criação de uma disciplina de educação sexual na rede municipal de ensino serviu de pretexto para o ataque à candidatura de Luizianne, por condenar o tratamento positivo que seria dado à homossexualidades em sua gestão.
Inúmeros absurdos foram levantados contra a proposta, como a de que as escolas municipais iriam ensinar homossexualismo para crianças de sete anos ou de que tratamento positivo às homossexualidades era o mesmo que dizer que o homossexual é melhor que o resto das pessoas.
Qualquer semelhança com as campanhas anti-comunismo de Vargas não pode ser encarada como mera coincidência e, embora o candidato do PFL tenha sido derrotado no segundo turno, sua votação ainda foi expressiva, o que denuncia o preconceito e a discriminação contra o diferente entre os eleitores de Fortaleza.
Numa cidade em que os assassinatos de homossexuais ocorrem com freqüência e que em determinados casos há a presença de requintes de crueldade e tortura, é absolutamente necessário que a juventude tenha acesso a um debate positivo sobre a questão da sexualidade.
É necessário que o indivíduo possa ver e vivenciar sua sexualidade sem preconceito, que as pessoas tratem da sexualidade com dignidade, de forma positiva, e isso passa pela educação formal, passa pelos meios de comunicação, passa pela arte.
O preconceito contra as homossexualidades existe e, por isso, é necessário desenvolver ações que proporcionem uma mudança, é necessário reforçar os conteúdos que afirmem que se deve ter respeito e saber viver com as diferenças.
A existência e a aceitação da campanha pelos eleitores que votaram em Moroni e talvez até pelos demais, que não sairam às ruas em protesto contra o discurso discriminatório de Moroni, mostra que não se pode fugir à polêmica, pois o preconceito, a discriminação e a violência integram as fundações de nossa sociedade.
É preciso verificar neste momento quais são as ações concretas da Prefeitura de Fortaleza para fazer cumprir seu programa com o objetivo de valorizar a diversidade e não apenas em relação à sexualidade.
A proposta de criação de uma disciplina de educação sexual na rede municipal de ensino serviu de pretexto para o ataque à candidatura de Luizianne, por condenar o tratamento positivo que seria dado à homossexualidades em sua gestão.
Inúmeros absurdos foram levantados contra a proposta, como a de que as escolas municipais iriam ensinar homossexualismo para crianças de sete anos ou de que tratamento positivo às homossexualidades era o mesmo que dizer que o homossexual é melhor que o resto das pessoas.
Qualquer semelhança com as campanhas anti-comunismo de Vargas não pode ser encarada como mera coincidência e, embora o candidato do PFL tenha sido derrotado no segundo turno, sua votação ainda foi expressiva, o que denuncia o preconceito e a discriminação contra o diferente entre os eleitores de Fortaleza.
Numa cidade em que os assassinatos de homossexuais ocorrem com freqüência e que em determinados casos há a presença de requintes de crueldade e tortura, é absolutamente necessário que a juventude tenha acesso a um debate positivo sobre a questão da sexualidade.
É necessário que o indivíduo possa ver e vivenciar sua sexualidade sem preconceito, que as pessoas tratem da sexualidade com dignidade, de forma positiva, e isso passa pela educação formal, passa pelos meios de comunicação, passa pela arte.
O preconceito contra as homossexualidades existe e, por isso, é necessário desenvolver ações que proporcionem uma mudança, é necessário reforçar os conteúdos que afirmem que se deve ter respeito e saber viver com as diferenças.
A existência e a aceitação da campanha pelos eleitores que votaram em Moroni e talvez até pelos demais, que não sairam às ruas em protesto contra o discurso discriminatório de Moroni, mostra que não se pode fugir à polêmica, pois o preconceito, a discriminação e a violência integram as fundações de nossa sociedade.
É preciso verificar neste momento quais são as ações concretas da Prefeitura de Fortaleza para fazer cumprir seu programa com o objetivo de valorizar a diversidade e não apenas em relação à sexualidade.
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