sábado, julho 23, 2005

É possível quebrar o círculo vicioso da corrupção e da miséria?

Toda a crise leva a alguma renovação, espera-se. A importância maior da crise política nacional vivida atualmente situa-se exatamente no fato de que o PT representava a esperança de moralização política do Brasil, mas o que se percebe é que o PT está envolvido também em corrupção, a mesma corrupção que é praticamente imagem do Estado nesta nação.

Não se sabe e, provavelmente, nunca se vai saber se o atual governo, composto de executivo, de legislativo, de judiciário e também de traficantes (de influências, por enquanto) é mais ou menos corrupto que os governos anteriores, de Tomé de Souza a Fernando Henrique Cardoso.

Quem pode julgar a corrupção hoje no Brasil? Corrupção envolvendo o PT, o Partido dos Trabalhadores, na verdade o partido da classe média, de maioria católica, com um grande de lastro de luta pela tentativa de democratizar o Brasil, pelo orçamento participativo nos municípios, pelo apoio moderado à reforma agrária e outras tantas lutas travadas no Brasil recente.

Certamente não são os representantes, novos ou antigos, das oligarquias brasileiras, estes sempre foram e ainda são corruptos e, estão, no máximo, brigando pelo direito de corromper e ser corrompidos, como que reclamando de volta uma prerrogativa que um partido da classe média lhes quer tirar.

Certamente não é o judiciário, uma organização hermética, opressora, ostentadora, criada para defender os interesses dos grupos dominantes e que ainda serve unicamente aos interesses que lhe pariram, até por que o povo pouco pode influir, muito embora seja sustentada com o dinheiro público.

Poderia ser a nação como um todo, o eleitorado, mas que opções restam ao eleitor? Poderia se falar o PSol da Heloísa Helena, de admirável força, mas não era também o Lula do PT um guerreiro no mesmo estilo?

Parte mínima do eleitorado, que não se vê representada pelos governantes, defende o voto nulo, a intenção é a melhor de todas, mas mesmo que a maioria dos eleitores se tornasse consciente da falsa democracia, isso não significa que os desdobramentos seriam seguros, que não se correria o risco do estabelecimento de uma guerra civil.

É possível considerar que quem vai efetivamente julgar a questão é o eleitorado, sobre o que as pesquisas indicam que: (a) a crença é de que Lula sabe e sabia dos esquemas de corrupção, ou seja, que é cúmplice ou ator; (b) que deseja reeleger Lula para mais um mandato; (c) que acredita que os demais partidos e políticos também estão ou estiveram envolvidos em corrupção.

Disso é possível deduzir que (a) a população não é ingênua para acreditar em história da carochinha, (b) que a população não deseja um movimento de caça às bruxas e que ainda considera Lula e, talvez, o PT enquanto seus representantes legítimos e (c) que, de fato, não há perspectiva melhor para o futuro próximo.

Reeleger ou não o Lula é um dilema, pois, de um lado, a nação estaria legitimando formalmente a corrupção como instrumento de governo e de política, mas, de outro, estaria fazendo valer sua vontade acima do que considera um denuncismo, ou seja, acredita de alguma forma que a corrupção existe, mas que agora está sendo publicizada por não serem o Lula e o PT representantes diretos das elites.

A opção de reeleger Lula em detrimento do voto nulo, que seria a opção mais radical, aquela de repudia o sistema, o protesto esclarecido, representa uma escolha abstrata, a de realizar reformas graduais e não radicais no governo. É uma opção conservadora, uma opção que o PT adotou para que pudesse se tornar governo.

Se o PT optou por realizar reformas graduais, se precisou adotar uma postura oficial mais conservadora para que pudesse se eleger e assim foi eleito de fato, é fato que o eleitorado deseja mudança, mas a deseja gradual, sem choques. Deseja reforma e não revolução.

O eleitorado, consciente ou não disso, já previa e até pode se dizer que desejava, desde as eleições, que o PT fizesse o máximo de uso possível do sistema existente, estabelecido, então era e ainda é preciso usar de corrupção para governar. O PT só está fazendo a lição de casa.

O que muitos defendem é que é preciso investir na educação para melhorar o país de verdade, mas ao Estado, que representa aqueles que detêm a força: os grandes latifundiários, os grandes banqueiros, os grandes industriais, os grandes comerciários, não deseja, naturalmente, que a educação venha a prover mais que esperança à população em geral.

Esperança é muito importante, esperança faz com que as pessoas não se rebelem contra o sistema, mantém a ordem na sociedade, a educação é importante para isso, pois promove um ou outro indivíduo, oriundo das classes populares, que consegue se graduar, que consegue uma profissão boa, que consegue virar mestre, até doutor ou consegue enriquecer.

Essas pessoas são muito importantes, pois servem para mostrar que a grande maioria das pessoas só é miserável por sua própria incompetência, que passa fome apenas por que não teve a competência necessária para construir uma vida digna, afinal “fulano de tal da silva”, que nasceu e cresceu nas mesmas condições de todos os outros na comunidade, conseguiu.

A educação promovida pelo Estado serve, naturalmente, ao próprio Estado, que serve às classes dominantes, às elites, então não há que se esperar que essa educação transforme a realidade da população de forma significativa, é natural, esse tipo de educação seria uma ameaça.

Se a educação é o grande motor da transformação do Brasil, então não se pode entregar a responsabilidade da educação ao Estado, pois que o Estado é o procurador das elites, que não desejam transformar a realidade, pois desejam permanecer elite, desejam a manutenção dos seus privilégios.

Para transformar a realidade é preciso fazer uma escola que sirva e responda à comunidade e não ao Estado, é preciso que a escola compreenda e busque os anseios da comunidade, é preciso que a escola seja parte da comunidade e que a comunidade se responsabilize pela escola.

Se for desejo uma revolução de sucesso, essa revolução começa na própria comunidade, tomando de assalto a escola ou até criando a escola, se for preciso, fazendo com que os burocratas, os pedagogos, os professores e os servidores em geral compreendam que ou estão a serviço da comunidade ou que partam e nunca mais voltem.

Melhor que se comece uma nova história sem nenhum professor do que continuar com aqueles que querem tão somente ensinar e aprender a repetir a mesma história que oprime, que destrói, que violenta, que tão somente atende aos interesses de quem já está estabelecido.

Aprender a construir sua própria história em lugar de mera ficção de aprendizado.

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