quinta-feira, agosto 28, 2003

Dinheiro não consegue mesmo comprar educação

Eu sei que ainda não consegui sair dos flashbacks pré-natal, mas é que são tantos, e ainda não estava tão engodado, então para dar um pulinho para depois do nascimento, vou compartilhar com vocês mais umas das minhas indignações com novos ricos.

Imagine-se reponsável por um múseu na ála de óbras neo-clássicas, então chegam aqueles turistas idiotas, cuja única importância de sua visita ao museu será contar aos colegas de trabalho que lá estiveram, com suas super câmeras ultra-modernas, caras mesmo, mas que vem sem o acessório desconfiômetro, decididamente um opconal. Então, apesar de todas as vezes que isso aparece na mídia, dos guias do museu pedirem e das milhões de sinalizações nesse sentido, esses chatos insistem em fotografar originais de supremo valor para a humanidade utilizando o maldito flash. Sentiram raiva dessas pessoas?

Bem, agora imagina seu filho recém-nascido, mas quando eu falo recém-nascido, to falando que acabou de chegar do seu primeiro banho depois do nascimento, você acabou de fazer uma cobertura descente do parto e do pós-parto com sua velha Nikon FM2, lente normal, filme 400 e está dividido entre bater fotos e cuidar de seu filho e seu amor, meus pais também querem fotos, uma Yashika, boazinha, batem umas fotos e outras, terminam o filme que tinha trazido.

Lógico que não poderíamos ficar em paz por muito tempo, logo, avô e tio, da família da minha ex-amorrzinho, começam sua seção de fotos, mas não poderiam passar despercebidos, discretos como todo mundo, começam a bater fotos de uma pessoa que acabou de sair de uma cirurgia e de um recém nascido com flash, e continuaram apesar dos apelos da enfermeira, meus, dos meus pais, do meu avô, da minha própria ex-amorrzinho. Agora você imagina até que número eu tive que contar para ver, meu filho que acabou de ver a luz pela primeira vez, tentando dormir e superar o trauma do parto, sendo bombardeados de flash.

E tudo isso para que? Quem me conhece sabe que eu fotografo e que minha predileção são as expressões humanas e suas emoções, então não preciso nem dizer que a qualidade das fotos que eu bato do Cauê são fastásticas, legal que ele tem suas preferidas também.

Mas não pensem que minha ex-sogra quase psicótica deixou por menos, oras, não é que logo que todo mundo saiu, já que eu pedi para que pudéssemos ficar a sós, num dia tão importante, eu, minha mulher e meu filho, não se contentando em infernizar, sabendo que estava fazendo isso, desembestou a ligar para os parentes do telefone que ficava entre a cama e o berço, com a altura de voz típica dos novos ricos em restaurantes franceses, convidá-los para virem ao hospital, sabendo de nosso pedido para que deixassem as visitas para uma ou duas semanas depois do nascimento.

Nem todo mundo é mau nessa história, umas das tias da minha ex-amorrzinho, resistiu bravamente à insistência da minha ex-sogra ainda psicótica para pegar meu filho recém nascido, chegou a ir ao banheiro lavar as mãos, mas se recusou a pegâ-lo, alegando sensatamente que havia trabalhado o dia todo, estava suja e que um recém nascido não deve, em seus primeiros dias, conviver com mais pessoas que seus pais e, eventualmente, uma efermeira que os esteja auxiliando. Nunca agradeci essa atitude, se um dia morrer e desentarrarem esse blog, transmitam meus mais sinceros agradecimentos por isso a ela.

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