terça-feira, julho 05, 2005

Sexo e Política

Estamos agindo como a mãe que é denunciada publicamente em sua falha vigilância pela gravidez da filha adolescente: "Oh, meu deus, eu sabia que esse seu namorado não prestava!" Estamos fingindo espanto para todos e para nós mesmos, preferindo máscara de ingênuos à de co-responsáveis ou, ao menos, cúmplices da situação.

Assim como eu me coloco ao lado da filha adolescente, e não apenas por que sexo é bom, mas também por que é o contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho da mãe, o principal responsável pela gravidez, também eu me coloco ao lado do PT no mensalão, pois não é menor a culpa do contexto fictício criado pela sociedade, com grande empenho dos oligarcas.

Sexo é tão bom quanto dinheiro, um leva ao outro e vice-versa, ambos representam e propiciam poder, todos querem e todos gostam, talvez não todos, certamente quase todos. Sexo e mensalão são a mesma coisa se fizermos um julgamento baseado em princípios e intenções, trata-se apenas de apropriação das relações mundana para a análise das fricções olimpianas.

Acontece que poucos de nós temos dinheiro, apenas alguns podem se dar ao luxo de avalizar contratos de 2,4 milhões de reais, o que é uma merreca em termos Estado ou até mesmo em termos de corrupção, mas quase todos nos experimentamos sexo, a maioria de nós, eu espero.

Poucos de nós participa da política além do voto, das torcidas, das apostas, da panfletagem ou da militância. A maioria de nós acompanha a política da mesma poltrona em que acompanhamos a novela, aliás uns poucos se dão conta de que nossa capacidade de interferência no destino das personagens de Benedito Rui Barbosa é bem maior que no das herdeiras do maledito Rui Barbosa, o do encilhamento.

Não nos é possível avaliar o universo olimpiano se não o trouxermos para o nosso domínio quotidiano, é por isso que sexo, novela e família são fundamentais para entender o que acontece com o mensalão. É fundamental também para compreender que a questão do mensalão nada mais é que um sintoma, que a ponta de um iceberg, que todos procuramos manter escondido, pois na base deste iceberg está cada um de nós.

Encerrar a questão do mensalão numa análise factual e pontual é nada além de auto-proteção, pois o mensalão nos representa, tal qual a gravidez de adolescentes também nos representa. Podemos prosseguir em busca de bodes-expiatórios para nossos próprios erros, mas devemos ter consciência que tal busca não nos conduzirá à mudança que fingimos desejar, pois sabemos que é mais seguro escrever de forma diferente sempre a mesma história, alternando conflito e resolução, tensão e apaziguamento.

É preciso compreender que a origem do mensalão não está na má-índole do Lula ou de quem quer que seja eleito como bode-expiatório ao final de tudo, mas em nossas atitudes diárias e não me refiro às atitudes relacionadas à viciante idéia de cidadania, mas nossas atitudes quotidianas e intimistas, aquilo que de mais nosso transmitimos a nossos filhos para que se perpetue de geração em geração.

Poderia se defender que para entender o mensalão é preciso estudar história, pois assim compreenderemos que o mensalão é um evento recorrente, que se sucede desde antes da república e se arrasta até hoje, mas sem discordar eu afirmo que para entender o mensalão é preciso entender nossos próprios erros na formação e na educação de nossos filhos, seja em casa, seja na escola ou seja no trabalho.

5 comentários:

Anônimo disse...

Boa Leo... muito boa...

Saiu da informatica e foi pra Comunicacao Social... Tb ta indo bem ai em pco!

Abracao cara...

Anônimo disse...

vi teu texto no orkut e fikei curiosa com o rstante dele. acho qeu as questoes de corrupçao que estão vindo a tona pela midia em geral nos atormentam apenas durante o tempo de algo mais criativo aparecer para nos chamar a atençao.corrupão e falta de cidadania são propiciados pela nosssa falta de participaçao e ducaçao -politica e humana também- de nossa sociedade, e nela me incluo com certeza.. mas e ai? faça um outro texto dizendo oq eu fazer ou isso é algo mais intimo- e por isso complicado- de se expor..
resumindo , adorei a abordagem da sua crônica, mesmo odiando o tema,ehhhh
isabel sousa(no orkut)

Anônimo disse...

Vc disse tudo que eu ainda não havia conseguido dizer. Sem pestanejar pode afirmar que o mensalão não é um problema de hoje e sim de sempre no Brasil. Toda essa bobozeira que dizem por aí são coments de pessoas que não analizam o Brasil olhando a história. Parabêns pela análise adorei.

"Poucos de nós participa da política além do voto, das torcidas, das apostas, da panfletagem ou da militância. A maioria de nós acompanha a política da mesma poltrona em que acompanhamos a novela, aliás uns poucos se dão conta de que nossa capacidade de interferência no destino das personagens de Benedito Rui Barbosa é bem maior que no das herdeiras do maledito Rui Barbosa, o do encilhamento."

A Maioria que votou no Tio Bob (vulgo roberto jefersson) nem se lembra mais. O Brasileiro é sempre assim só reclama depois que a "cagada" tá feita.
Beijocas da Simy.

Anjo Mecânico disse...

Grande e-ninja,

Será que se sai um dia de alguma coisa? Acredito que fica tudo na cabeça em alguma zona não utilizada da memória, pronta para atacar o indíviduo em pesadelos noturnos!

Isabel Sousa,

Tentei lhe procurar no Orkut, mas não obtive sucesso, Isabel Sousa existem algumas e não pude saber qual estaria mais próxima de mim. Espero poder lhe agradar com outros textos.

Simy,

Obrigado pelos elogios, maravilhosos, adoráveis e gentis. Espero poder ser digno deles por muito tempo ainda.

Beijos!

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto!!! Concordo plenamente com suas idéias...