O mundo está um caos, não há lugares seguros para estar. Não há respeito por vidas humanas ou mesmo por outras formas de vida na fauna ou na flora global. Um assessor parlamentar é preso com dólares na bunda, tal qual um traficante ao embarcar com sua mercadoria oculta. Um ônibos abre-se, leia-se explode, como uma lata de sardinhas. Um adolescente é assassinado na periferia por credor a quem devia menos de dois reais.
Alguém diz que é falta de deus no mundo, mas essa não é apenas mais uma batalha de uma guerra teológica sem fim? Não são justamente cristãos, islâmicos e judeus os protagonistas dessa reedição high-tech das cruzadas? Não tomam parte entre os conselheiros de Bush justamente os líderes cristãos conservadores dos Estados Unidos? Já não é parte da vida dos britânicos o confronto entre os cristãos protestantes e a resistência católida na Irlanda? Não é a al-Qaeda um exercíto do islã?
O argumento de falta de deus só se sustentaria no fato de que essas três religiões são monoteístas, pois se deus for realmente criado à imagem e semelhança do seus criador basta se substituir a palavra monoteísmo, do dicionário divino, pela palavra totalitarismo, do dicionário secular, e encontramos a sustenção: É falta de deus sim, pois um deus totalitário, a palavra que os cristãos gostam de utilizar é todo-poderoso, nega a alteridade, a pluralidade e a diversidade. É um deus que não pode aceitar ou conviver com outros deuses, então os todos os demais deuses e, claro, também seus seguidores, devem ser eliminados.
É dessa forma que o valor da vida humana é relativizado, pois não basta assassinar seis mil civis afegãos para saciar a sede de vingança por cerca de três mil civis mortos em 11 de setembro. É preciso mais, muito mais, dois para um não resolve, é preciso mais, três para um, quatro para um. Quantos muçulmanos vale um cristão?
É chocante ver a morte pela TV, é chocante ver um ferido com o rosto queimado, é chocante saber que morreram cerca de 50 pessoas nos atentados a Londres, mas também é chocante saber que morrem milhares de pessoas todos os dias na África do Sul por conta da Aids. Como calcular o valor dessas vidas, como comparar o valor da vida de uma vítima no ataque terrorista em Londres, sede do império britânico com o valor da vida de uma vítima da Aids na África do Sul, terra do Apartheid, contra o qual a ONU jamais lutou de forma efetiva e que os britânicos apoiaram e subsidiaram?
Há pouco mais de um século a vida de um africano ou descendente era contabilizada a partir do trabalho que poderia realizar para seu proprietário, afinal um africano não tinha alma, como também não o tinham os nativos do continente hoje chamado de América. Os ameríndios ou simplesmente índios, como não serviram para a escravidão, foram exterminados. Cerca de cinco milhões apenas no que hoje chamamos de Brasil.
Talvez seja mesmo melhor um deus dançarino e que para sua dança convidasse outros deuses e deusas, talvez esses deuses pudesssem compreender melhor os demais, entender que para construir a própria felicidade não é necessário exterminar a todos que não lhe rendem oferendas.
Cada um de nós é reponsável, mesmo que de forma indireta, mesmo sem puxar o gatilho, pois assim como o homem-bomba age legitimado por suas crenças ou, como costumamos chamar no ocidente, seu fundamentalismo religioso, também o fuzileiro naval assim age, legitimano por seus líderes religiosos, os quais gostamos de denominar apenas conservadores, afinal seria feio dizer que o papa é fundamentalista por condenar o uso de preservativos na África.
São crenças diferentes, são deuses diferentes, mas o mecanismo é o mesmo e por trás desse mecanismo está cada uma das pessoas "inocentes", que apenas cumprem seu papel de manter a chama acesa da fé.
Ou será do pavio?
3 comentários:
Sim, o papa é fundamentalista...
Sim, o problema do bush está muito ligado a religião além de questões $$..
Sim, os super países que reclamam da morte de 3 mil, são os mesmos que ajudam ou matam milhões..
Basta não ir muito longe na história...
Estamos em um momento de guerra santa, sem dúvida.. e se Deus é realmente todo poderoso, só restará um. Pois sendo todo, absoluto, não há nada fora dele. Não há nada que não seja ele...
Alê!
É a frase "são os mesmos que ajudam ou matam milhões" a que eu mais gostei, pois eis que são os paradoxos o que eu mais gosto.
Uma das pautas da reunião do G8 era justamente elevar a ajuda para o combate à Aids na África, em bilhões de dólares.
Um paradoxo.
Adoro paradoxos.
Sabe Leo, já pensei assim tb, tanto q me mantive tão afastada qt pude de qq religião por muito tempo.
Hoje, entendo que há Deus sim, que Ele se importa conosco sim, mas que Ele nos deu livre-arbítrio, característica que o homem, invariavelmente, usa não para o bem, mas para o proveito próprio.
Distoreceram as características mais fundamentais do cristianismo, a ponto de Ghandi dizer q era a mais bela doutrina, excetuando os cristãos, ou Nietzche dizer q o último cristão verdadeiro morrera pendurado numa cruz.
Mas isso não dá pra postar num comment. Proponho uma reuniãozinha social em petit comitte, dai a gente conversa naum soh sobre isso, mas sobre amenidades tb, com a Di tb.
Beijo pra vcs e pro rebento. ;)
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