terça-feira, maio 10, 2005

Que a rosa branca vença a rosa de hiroshima

Estou me sentindo bem, embora não saiba descrever exatamente o sentimento, eu fiz algo que deveria ter feito há muito tempo, demorei muito a fazer, mas fiz, de fato, não adiantava fazer sem que eu fosse sincero naquilo que estava fazendo e eu fui, talvez não seja acreditado, mas eu fiz, esperei o momento em que poderia fazer com a confiança de que era real e fiz, em verdade era também uma das últimas chances de fazer, se deixasse para depois, não poderia mais fazer.

Lembro neste momento do bom e velho conceito de justiça que as crianças têm: um estabelece os termos do acordo entre as partes, o outro escolhe se é parte A ou B, é uma forma inigualavelmente justa, pois implica que aquele que estabelece os termos fará um exercício para procurar que nenhuma das partes fique em desvantagem ou que, claramente, os desejos e necessidades de cada uma das partes sejam prioritariamente atendidos. Em outras palavras, o primeiro parte a maça, o segundo escolhe o pedaço.

Recorremos a isso nossa vida toda, sempre que temos que fazer um acordo, acabamos, no fundo, com a idéia de que um estabelece os termos e o outro escolhe qual parte é naqueles termos. Às vezes esse acordo tácito não é explícito, pois os termos de acordo não são comuns, a linguagem não é comum e o exato ponto onde se fazem as escolhas, quer seja dos termos, quer seja das partes, nem sempre é claro, conhecido ou comum para todos.

Por exemplo, se somos tomados de assalto, podemos supor que escolhemos os termos ao fugir ou ficar, mas não sabemos se os termos que a outra parte nos impõe são "se ficar, eu sequestro" ou "se fugir, eu mato" ou qualquer outra combinação e temos que fazer uma escolha baseada tão somente em intuição.

No mundo comercial é a mesma coisa, vivemos dilemas diariamente em relação a clientes, fornecedores e colaboradores, pois não sabemos e, de fato, não temos como saber exatamente quais os termos que estão sendo nos propostos e, às vezes, nem os termos que estamos, de fato, propondo aos outros para que escolham.

O que quero dizer é que inevitavelmente sempre estamos estabelecendo termos e tomando parte, às vezes simultaneamente, numa relação naturalmente insegura, pois nem mesmo sabemos se nossos termos estão sendo compreendidos como os propomos e sabemos, naturalmente, que estamos compreendendo o termos da outra parte de forma diferente do que ela nos propõe, o que gera, inevitavelmente, um conflito.

Então temos a opção de endurecer ou flexibilizar e, normalmente, fazemos isso no mesmo rítmo que a outra parte, mas podemos, em algum momento flexibilizar radicalmente, num apelo de abertura, para que os termos propostos pela outra parte também sejam flexibilizados, é o que faço agora, fiz algo bom para mim, sem dúvida, mas que também baixa as guardas num conflito em que os termos foram estabelecidos de forma endurecida, no momento em que se antecede mais uma grande batalha, ou seja, posso conseguir que os termos sejam flexibilizados e que a batalha não aconteça, a paz seja estabelecida, ou não.

Ao baixar a guarda podem acontecer duas coisas: ou você pode ser atingido e derrotado, ou pode encerrar o conflito, mas como fica você se, ao baixar a guarda, a outra parte tenta se aproveitar disso para lhe desferir um golpe fatal, só que é você quem tem a bomba definitiva, ou seja, você escapa, recua em uma batalha e...?

Esse é, efetivamente, um momento de grande tensão, pois você não quer usar a bomba, ela é uma alternativa muito controvertida, mas chega um momento em que a guerra não pode mais continuar também.

É por isso que a guerra e ruim, e burra, pois haveria, certamente, uma solução adequada, justa, que se adequasse a ambas as partes, que só produziria vencedores. A guerra é a opção burra, pois só produz perdedores. Ambos os lados lutam para saber quem vai perder menos e não quem vai ganhar.

Outra coisa a respeito das guerras são relativas ao fórum em que ela ocorre, esse também nem sempre é comum e, especialmente no caso de uma guerra, cada parte vai buscar o fórum em que tem mais vantagens, lógico, vai trazer a luta para o terreno em que pode vencer. Só que ambos querem fazer isso e quando uma das partes já está no fórum em que tem mais vantagens, vai lutar para lá permanecer.

Só que novamente, não temos controle sobre as ações do outro, sem que percebamos, a outra parte pode manobrar e mudar o fórum para um em que as nossas vantagens sejam mínimas e vice versa, nossa manobra pode nos remeter a um fórum vantajoso para nós.

E aí é que complica de vez, pois os fóruns normalmente são os mais pacíficos, diretos, passam aos mediados, aos arbitrados e assim por diante. Em cada um desses fóruns cada uma das partes pode ter mais ou menos força, só que cada um desses fóruns também radicaliza ainda mais a disputa, impede que as partes busquem, de fato, um acordo.

Uma das partes pode ser realmente mais forte que as demais, mas todos acompanhamos o World Trade Center caindo dentro da capital financeira do mundo, no coração da maior potência bélica do mundo. Ninguém pode negar que os norte-américanos são, invariavelmente a nação mais poderosa do planeta, mas alguns ativistas islâmicos produziram verdadeiro estrago naquela nação, estrago cujos desdobramentos ainda reverberam em seu interior, ou seja, sua força foi relativizada. Toda a força da nação norte-americana não é capaz de por fim aos conflitos no Iraque. E todos perdem, inclusive os próprios norte-americanos perdem com tudo isso.

O que quero dizer é que radicalizar só endurece as coisas, só eleva o conflito e que flexibilizar evita o conflito, eu quero flexibilizar, hasteei bandeira branca, com o objetivo real de por fim a mais de 12 meses de conflito, quero uma solução em que todos ganhem e nada se perca, mas não exitarei em lutar para proteger aqueles que amo mais que tudo.

Hoje sou mais forte do que era, talvez só por isso possa propor a paz, pois penso que a manutenção do conflito sirva àqueles que não tenham perspectiva de vitória, melhor o conflito que a derrota. Então propor a paz quando se está em condições de ganhar em conjunto ou em perder menos, eu reconheço, é mais fácil e eu perco menos no final.

Só que, ao se optar pelo conflito, é preciso lembrar sempre, que os termos foram escolhidos por quem optou pelo conflito, ou se é forte o bastante para vencer ou se terá que contentar com a parte que lhe couber ao perder, que, dependendo do fórum...

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