terça-feira, junho 08, 2004

arrogante: arrogare, apropriar-se de

O texto dessa madrugada era o anterior a esse, a intenção pela qual os chameio aqui era o post abaixo deste, não este, mas já que perdi o controle e não mais consegui controlar a mim mesmo, só me resta deixar com vocês o espírito com o qual vou dormir:

Algumas coisas têm se mostrado extremamente relevantes e até proféticas certas vezes, uma delas é que havia mudado completamente a história de Óleo de Lorenzo em minha cabeça, não sei ainda o por quê havia reescrito que a criança morria e o casal se separava, embora seus esforços salvassem milhares de outras crianças pelo mundo, eles próprios não se beneficiavam.

Eis que era muito como eu estava vendo a mim e à própria Ingrid, com muita gente nos dizendo que ou seria impossível conseguirmos um resultado favorável para o Cauê na justiça ou, ao menos, que não seria possível conseguir de forma higiênica.

Então eu tenho batalhado pela felicidade do Cauê acreditando que, mesmo que todo nosso esforço não garanta sua felicidade, pois estamos correndo contra o relógio biológico dele, outras crianças poderão se beneficiar e poderão contar com um divórcio ou uma separação mais humanizados e, principalmente, com uma justiça mais humana e mais justa.

Eis que o filme, na verdade, acaba com Lorenzo vivo, recuperando-se, e seus pais juntos, lutando contra o bu-bu. Eles não ajudam só os filhos dos outros contra o bu-bu, mas ajudam o próprio Lorenzo e continuam lutando juntos.

Então, ao invés de ir dormir açoitado pela paulada que levamos, vou dormir com a esperança reacendida de que poderemos derrotar o bu-bu e dar todo o amor que meu filho merece, embalando-o, cantando para ele, tocando para ele.

E se tudo der certo, o bu-bu e o tutu-marambá dele vão fazer terapia e aprender a amar, mesmo que seja com o amor que ele vai lhes dar. E vamos estar do lado dele, dando todo o amor que ele precisar para enfrentar os conflitos que ainda vão surgir em sua vida.

O filme O Óleo de Lorenzo demonstra que, em sua arrogância, os guardiões do saber canônico não admitem concorrência: reflete a contradição entre o saber considerado científico e o saber não reconhecido no campus. Os pais de Lorenzo, na luta para salvar o filho, tornam-se autodidatas, rivalizando com os renomados doutos. As autoridades científicas relutam em aceitar os avanços obtidos nas pesquisas realizadas externamente ao seu controle.

Mas, a resistência não é apenas dos médicos: os demais pais, cujos filhos sofrem da mesma doença de Lorenzo, não aceitam que alguém fora da academia possa atingir o saber científico. Ou seja, negam legitimidade ao saber não-diplomado. “Querem ensinar os médicos”, acusa uma mãe. Em sua opinião, o desafio ao saber estabelecido é um ato arrogante. E ela tem certa razão. Com efeito, a palavra arrogante vem do latim arrogare, que significa apropriar-se de. E de fato, o que o pai de Lorenzo faz é, por meios próprios, apropriar-se do conhecimento científico.

From: http://www.espacoacademico.com.br/028/28pol.htm

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